domingo, 29 de setembro de 2013

Lúcifer e os lúcidos - Martha Medeiros


"Lúcido deve ser parente de Lúcifer
a faculdade de ver deve ser coisa do demônio
lucidez custa os olhos da cara."

Estou embriagada pelos novos poemas de Viviane Mosé. Esta é só uma palhinha de Pensamento Chão, um livro essencial nesses tempos em que já sabemos que não convém circular de Rolex por aí, já sabemos que certos políticos nunca ouviram falar em honra, já sabemos que o verão vai ser sufocante e só nos resta olhar um pouco para dentro de nós, o único lugar onde ainda encontramos alguma novidade.

Essa visão inusitada que Viviane nos oferece sobre lucidez, por exemplo, é um convite para a reflexão. Em tempos insanos, de tanta gente maluca por vaidade, maluca por juventude, maluca por dinheiro, maluca por poder, os lúcidos destacam-se pela raridade. São aqueles que não inventam personagens de si mesmos, não se trapaceiam, não criam fantasias, ao contrário: se comprometem com a verdade. E se envolver assim com a transparência dos fatos requer uma integridade diabólica. Para olhar o bicho nos olhos é preciso ser bicho também. Enfrentar a verdade é quase um ato de selvageria.

Mas que verdade é essa, afinal? É aí que o demônio apresenta sua conta, pois o lúcido tem que se confrontar com uma verdade desestabilizadora: a de que não existe verdade absoluta. Nossos pensamentos não estacionam, nossos desejos variam, o certo e o errado flertam um com o outro, não há permanência, tudo é provisório, e buscar um porto seguro é antecipar o fim: a única segurança está na morte, será ela nosso único endereço definitivo. Durante o percurso da vida, tudo é movimento, surpresa e sorte.

O lúcido faz parte do time - cada vez mais desfalcado - dos que se desesperam como todo mundo, porém de um modo mais íntimo e refinado. O lúcido organiza sua loucura, acondiciona o que está solto no ar, interliga várias idéias independentes para que, agarradas umas nas outras, não se dispersem, estejam ao alcance da mente. Quanto mais o lúcido pensa, mais percebe que lucidez plena não existe, o que existe são suposições, algumas até coerentes, o que nos mantêm no eixo. Lúcido é aquele que sabe que lucidez é uma falácia, e não pira com isso. Recebe a conta das mãos do demônio, calcula os ganhos e os prejuízos, e paga. Custa sim, Viviane, os olhos da cara, esse vício de pensar e repensar, pensar e compensar, pensar, pensar, pensar e morrer do mesmo jeito. Por isso achei tão interessante seu poema. Você matou a charada: Lúcifer é uma espécie de padroeiro dos lúcidos - e lúcido é só um outro nome para louco. O louco que tem a cabeça no lugar demais.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Na Vida, Errar é Inevitável!

Cometer erros, faz parte da vida de qualquer ser humano,  inclusive, em algumas situações, é válido, porque enaltece e renova determinadas competências, das quais dependemos para nos superarmos, nos respeitarmos e nos aceitarmos como seres humanos em um constante aprendizado.
 
Uns admitem seus erros, outros, simplesmente os negam e ficam o tempo todo com medo de cometerem outros, esquecendo-se assim de que o mundo é dos que se atrevem a vivê-lo.
 
Abaixo, publicamos um texto de joão Alfredo Biscaia, que vale a pena ler, reler e refletir. Confira!
 
Sinto um forte desconforto ao ouvir as pessoas afirmarem que “não se arrependem de nada que fizeram na vida”. Confesso que chego a ter um sentimento de piedade, já que se arrepender de um erro — coisa na qual todos nós humanos invariavelmente incorremos — é uma atitude de grandeza, de renovação, de vida diferente.
 
Ao ler a biografia de Juscelino Kubitscheck aprendi que “não ter compromisso com o erro” foi um traço marcante em sua vida. Juscelino foi sempre reconhecido pelo seu estilo empreendedor, inovador e arrojado, uma pessoa que admitia o erro, qualidade que mesmo seus mais ferrenhos adversários políticos reconheciam.
 
Quero confessar, autêntica e espontaneamente, que errei muito na minha vida, mais do que talvez devesse, nos diversos papéis que desempenhei ou que ainda desempenho, tais como: pai, marido, filho, irmão, profissional, colega, amigo e em todos os demais relacionamentos humanos que tenho mantido nesse já longo tempo de caminhada.
 
Tenho que aprender — e não apenas ensinar — que é preciso reexaminar os erros. Como na vida o errar é inevitável, tento analisar com objetividade as falhas do passado de modo a minimizar o efeito dos erros que vier a cometer no futuro. Isto exige coragem e perseverança, mas acredito que valha a pena, principalmente quando se aceita o princípio de que ninguém neste mundo é perfeito.
 
Todos nós temos qualidades e pontos a melhorar. Não somos produtos “acabados”, mas em processo. É importante relembrar que a experiência só tem sentido quando se aprende com ela. A experiência por si só é nada. Ela nada ensina, só aprendemos com aquilo que transformamos em uma nova experiência que iremos vivenciar.
 
Relaciono, abaixo, 14 das principais aprendizagens observadas a partir dos inúmeros erros que já cometi, e que são irreversíveis.
 
Amar e confiar requerem correr o risco de não ser amado e de sofrer decepções. Positivamente acredito não existirem alternativas para amar e confiar.
 
Não raciocinar apenas com base nos meus desejos e necessidades. Os interesses, preferências e motivações diferem de pessoa para pessoa.
 
“Faça aos outros o que gostaria que fizessem com você” mensagem que a maioria das pessoas recebe nos primeiros anos de vida. Na fase adulta, e trabalhando em organizações como líder de pessoas e observando líderes de pessoas, tive que rever este ensinamento para:
“Faça aos outros o que gostariam que fizessem com eles”. E para que isso aconteça é necessária muita paciência, atenção e conversa com as pessoas com quem trabalhamos e vivemos, com o propósito de identificar cuidadosamente suas reais necessidades e interesses.
 
Nada muda, se você não mudar. Obteremos sempre os mesmos resultados, se adotarmos a mesma conduta.
 
A segurança emocional e psicológica “pode”, em certas situações, ser mais importante e valiosa do que a segurança financeira.
 
Evitar racionalizar os nossos erros. Saber ouvir dos outros, com atenção, aquilo que pensam, sentem e percebem a nosso respeito. Com isto, evitamos a doença conhecida como “autoengano” ou “auto-ilusão”.
 
Dar e receber feedback é uma manifestação de respeito e afeto, desde que o propósito do emissor seja realmente o de contribuir para a correção dos nossos erros. É uma expressão de humildade e reconhecimento do receptor, ao absorver as informações.
 
Os sentimentos de desprezar e ignorar as outras pessoas são os mais doloridos. Deixam cicatrizes profundas, que um simples mercurocromo não fecha.
 
Admitir que podemos vir a cometer os mesmos erros, mas jamais perder a esperança de deixar de cometê-los.
 
Que a vida não tem replay, é uma só, até que se comprove com certidão de nascimento registrada em cartório confiável, assinado em baixo, DEUS. — Vinícius de Morais.
 
• Que ganhar dinheiro fazendo o que gostamos nos oferece um enorme prazer. Não tem preço.
 
Que ganhar dinheiro fazendo aquilo que NÃO gostamos passa a ser uma indenização pela nossa infelicidade — Peter Drucker.
 
Que o tempo é inelástico, de reposição impossível. Aproveite!
 
Não conseguimos mudar o passado, mas é possível mudar a maneira como enxergamos o passado. Precisamos ter uma atitude em relação a ele e, ainda, visualizarmos o presente como o grande laboratório para vivências futuras mais adequadas. Não é à toa que chamamos o tempo real de um “presente” , já que cada dia é, de fato, uma oportunidade para elaborarmos um amanhã melhor.
 

Texto de joão Alfredo Biscaia, MBC org
Blog Saltitando com as Palavras

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

sobre ela...

nem todo conhece, mas muitos citam, então aqui vai um pouquinha da musa:

Martha Medeiros (1961) 
é gaúcha de Porto Alegre, onde reside desde que nasceu. Fez sua carreira profissional na área de Propaganda e Publicidade, tenho trabalhado como redatora e diretora de criação em vária agências daquela cidade. Em 1993, a literatura fez com que a autora, que nessa ocasião já tinha publicado três livros, deixasse de lado essa carreira e se mudasse para Santiago do Chile, onde ficou por oito meses apenas escrevendo poesia.

De volta ao Brasil, começou a colaborar com crônicas para o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, onde até hoje mantém coluna no caderno ZH Donna, que circula aos domingos, e outra — às quartas-feiras — no Segundo Caderno. Escreve, também, uma coluna semanal para o sítio Almas Gêmeas e colabora com a revista Época.

Seu primeiro livro, Strip-Tease (1985), Editora Brasiliense - São Paulo, foi o primeiro de seus trabalhos publicados. Seguiram-se Meia noite e um quarto (1987), Persona non grata (1991), De cara lavada (1995), Poesia Reunida (1998), Geração Bivolt (1995), Topless (1997) e Santiago do Chile (1996). Seu livro de crônicas Trem-Bala (1999), já na 9a. edição, foi adaptado com sucesso para o teatro, sob direção de Irene Brietzke. A autora é casada e tem duas filhas.


Texto extraído do livro "Martha Medeiros - Poesia Reunida", L&PM Editores - Porto Alegre, 1999, pág. 127.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O INIMIGO MAIOR do amor não é o ódio - Prof. Hermógenes

Amar e Sofrer parecem coisas tão próximas que até o significado da palavra Paixão tem seu entendimento perdido entre as duas. Neste texto o Professor Hermógenes nos traz o conceito de viveka (discernimento) em mais um aprofundamento, e utilização prática, que o universo do yoga pode proporcionar em nossas vidas.

O INIMIGO MAIOR do amor não é o ódio. O que mais o polui, inviabiliza, neutraliza e frusta é tudo aquilo que apenas parece amor. Por quê? Porque obscurece, ilude e cega a visão; e a pessoa se engana pensando que ama e, em verdade, somente deseja, se apega, se distrai com a curtição sensual, se contorce em tormentosas crises de ciúmes, se debate aflita no visgo da paixão.

Desejo de conquistar o outro, apego a ele se já o possui, interesse no que o outro tem ou representa ser, tensão erótica nutrida pelas formas sedutoras do outro… tudo isto parece tanto com amor que a pessoa, carente de viveka (discernimento), mergulha no torvelinho emocional, do qual dificilmente consegue escapar. Cuidado com aquilo que tão-somente imita o amor e se faz passar por amor.

Uma jovem, companheira nossa de peregrinação no Sivananda Ashram, pergunto ao Swami Krishnananda: “Por que todas as vezes que eu amo acabo colhendo sofrimento?” A resposta do yogui foi pronta e certeira: “Se há sofrimento, não há amor.”

O sofrimento é uma inevitável consequência de tudo que simplesmente se assemelha ao amor; não consequencia do verdadeiro Amor.

O que se tem denomidado amor não passa de amor-próprio, a experiência evidencia: é fonte de dramas dolorosos. O Amor, ao contrário, é a própria felicidade. É meta sublime a ser alcançada. Como? Mediante a redução gradativa do ego, ou seja, pela humildação, que minimiza a febre do amor-próprio.

Hermógenes, O Essencia da Vida, p. 229




pág retirada do blog: http://yogahermogenes.blogspot.com.br/