sexta-feira, 30 de abril de 2010

Fernando Pessoa

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O importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível, e que esse momento será inesquecível.   


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FELICIDADE REALISTA


Martha Medeiros 
 
 
A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote
louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo,
usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o
suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se.
Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.



ERRATA:  Este texto, de autoria da gaúcha Martha Medeiros, circula na WEB como sendo de autoria de Mario Quintana -1906/1994,  assim como vários outros, é um grande equivoco, um mínimo de bom senso pra pesquisear na internet e conhecer um pouquinho do estilo de cada autor.


( Martha Medeiros - 'Biografia' - 1961/**** )


segunda-feira, 26 de abril de 2010

uma carta pra mim 26/04/2010

O Sol


O Sol

é tempo de brilhar!

O Sol é o arcano que tudo ilumina e, na posição de conselho para você neste momento, sugere que é chegada a hora de você jogar claramente e agir com o máximo de confiança possível. A luz afugenta a escuridão e tudo é visto da forma mais transparente, honesta e franca possível. Obviamente, muito do que aparece nem sempre é de todo agradável, mas ao menos você estará lidando com tudo de uma forma justa e, a partir de uma visão clara, o que por si só já é uma prerrogativa de sucesso. A postura mais adequada ao momento é a direta e franca. Tenha confiança no seu taco pois, a partir desta confiança, tudo fluirá a contento!

Conselho: Momento de agir com confiança! Siga em frente!

domingo, 25 de abril de 2010

A ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO

eu estava pesquisando sobre a lingua Portuguesa, gosto de saber coisas, e me deparei com esse texto precioso, tanto do ponto de vista acadêmico, brilhantemente escrito, quanto pela simplicidade que exala numa linguagem simples e direta, sem usar termos pernósticos, mas nos levando numa romagem histórica deliciosa,  declaramente denotando profundo conhecimento do seu autor.  Os bons são assim, não precisam provar que sabem e que conhecem, mas dividem e espalham seus dons e conhecimentos, compartilham com prazer pra quem quiser chegar como eu fiz, e estou reproduzindo aqui, com reverência e admiração.  Esse cara, é sem dúvida, um Professor, com todas a letras.


15/11/2009 12:16:00
Do latim ao português: um passeio histórico e antropológico de quase 3000 anos



Por Marcelo Moraes Caetano 
LÍNGUA PORTUGUESA
                          Olavo Bilac
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
(BILAC, s.d.) 
1: Proto-história do Latim: uma língua quase mítica
    
    Há  cerca de 4500 anos, havia um povo cujos membros se chamavam “árias”, povo que falava um idioma, hoje extinto (por não haver nenhum registro escrito direto do idioma aludido), que recebe os nomes de indo-europeu, indo-germânico ou mesmo, simplesmente, árico. Tal língua ostenta essa nomenclatura pelo fato de ser usada, então, em praticamente toda a Europa e na atual região da Índia (CAETANO, 2009 b). Como não há evidência escrita de nenhuma espécie dessa protolíngua e desse protopovo, dá-se-lhes, com frequência, um tratamento quase mitológico, não faltando, nem mesmo nos relatos escritos e orais sobre a origem, por exemplo, do império romano, supostas explicações que tangenciam ou cruzam em cheio as lendas e as narrativas divinas, heroicas e míticas.
       
Esse protopovo (os árias), devido à sua necessidade de nomadismo, espalhou uberemente sua cultura, dentro da qual se insere o idioma, que, assim, espalhou-se pelas regiões que foram sendo, pouco a pouco, habitadas. Tais migrações foram responsáveis, pois, pela disseminação antropológica do povo em questão, criando, com o tempo, os ramos e sub-ramos que foram a gênese de grande parte dos idiomas falados hodiernamente no ocidente e no oriente, como
o hitita, o tocário (ou, cf. Meillet, koutchiano), o indo-iraniano, o grego, o ítalo-celta, o germânico, o báltico, o eslavo, o albanês e o armênio (em pesquisas mais recentes, são apontados, ainda, o lúvi, o pala e o hitita hieroglífico). (Idem, ibidem).
        Podemos ainda mencionar que o mesmo povo de que se fala apresentava tenaz vocação beligerante e conquistadora, o que fazia com que, apesar do caráter de nomadismo mencionado, houvesse, em seguida, grandes ocupações de terras muitas vezes adquiridas mediante guerra e saques. Ademais, uma vez estabelecidos nas terras conquistadas, igualmente notável era a capacidade de esse povo implementar e desenvolver técnicas agrárias já bastante complexas, o que legou certa segurança à permanência nas áreas assimiladas. Naturalmente, com todos esses passos, o idioma se deflagrava e, devido às assimilações aludidas, que não eram raras, muitas vezes se amalgamava a dialetos locais, formando ramos linguísticos que, em alguns casos, sobrevivem até hoje em seus principais idiomas representantes, muitas vezes com poucas evoluções desde então.
       
Na deflagração, portanto, daquele protoidioma, subjaz a formação do ramo índico, do ramo iraniano, do grego e dos sub-ramos celta, setentrional (nórdico), germânico ocidental, eslavo meridional, eslavo ocidental, eslavo oriental e itálico, sendo este último aquele em que se poderá observar a alvorada da língua portuguesa.
       
Ora, o sub-ramo itálico é representado pelo osco, pelo umbro e pelo latim.
        2: O advento do latim e os idiomas provenientes dessa língua inicial: como o português se formou e evoluiu a partir de sua raiz
       
O latim é o ancestral mediato do português. O ancestral imediato da língua portuguesa é o galego-português. Não se deve, no entanto, cair na falácia de afirmar-se que o português é oriundo do galego, nem que este o é daquele, já que são línguas que caminharam em comunhão, sim, tendo gênese comum no latim, mas completaram seu processo de separação total no fim do século XIII (VASCONCELOS, 1970, 12), ou mesmo, para alguns autores, no século XII (início do chamado português histórico), sendo galego e português, portanto, línguas completamente autônomas e diferentes desde então.
       
O latim era o idioma usado na região do Lácio (daí o poema de Bilac aludir à “última flor do Lácio”, embora o português não tenha sido o último idioma a se originar da região romana aludida ou mesmo do latim imperial, deflagrado por grande parte do mundo conhecido de então), região aquela que constitui a atual Itália. Há registros de sua ocorrência desde o século VII a.C. até o século III d.C. Se fizermos, pois, uma conta ligeira, veremos que, de sua remotíssima raiz até hoje, o português possui o cômputo de quase 3000 anos de existência filológico-etimológica, sendo bastante aceita a divisão abaixo proposta:
1)
Latim vulgar imperial - até séc. IV
2)
Romanço-Lusitânico – séc. IV a séc. IX3) Protoportuguês – séc. X a séc. XI
4)
Português arcaico – séc. XII a séc. XV
5)
Português moderno – séc. XVI em diante   
    (CAETANO, 2009a, 20)

       
Há outras subdivisões notáveis em relação estritamente à língua portuguesa, devendo-se citar a proposta por Said Ali (que é bastante simples, mas não simplista) e, mais recentemente, a cuidadosa proposta de Evanildo Bechara (BECHARA, 1985)
       
Já no século IV d.C., o latim era um conglomerado de dialetos espalhados pelas regiões outrora conquistadas (em que muitas vezes havia aculturação ou enculturação dos conquistadores em relação aos povos conquistados, que, não raro, como ocorreu na Grécia, deu aos romanos significativa parte de sua cultura e de suas instituições em geral, como religião, direito, família, política, artes etc., sendo conhecidos aforismos como “a Grécia rude conquistou o nobre conquistador”), e essa desagregação contínua e irrefreável do idioma latim (sem mencionarmos os costumes igualmente assimilados) costuma ser chamada de “Latim imperial tardio” (cf. MATTOSO CÂMARA, 1978: 153), idioma fortemente influenciado pela língua falada nas regiões do império denominada, a título filológico, de România.
       
Na Idade Média, convém ressaltar, esse idioma, fragmentário e sujeito a um sem-número de analogias dialetais locais, chamava-se “Baixo Latim”, e não passava, amiúde, de corruptelas e falsas percepções e adaptações dos já formados idiomas a supostas palavras de origem (quase sempre equivocada, como se disse) latina. Esse vezo permaneceu ativo até o período chamado pseudoetimológico da língua portuguesa, quando se aventavam hipóteses, quase sempre infundadas, de etimologias prováveis a inúmeros vocábulos do léxico português. Deve-se salientar, ademais, que o baixo latim era a língua eclesial, paralela aos idiomas locais, usada na Idade Média.
       
Aqueles idiomas locais, formados, como se viu, com a convergência de várias culturas diferentes, recebem o título filológico de românicos, romances, romanços, neolatinos, novilatinos e alguns outros. Quando da formação de tais dialetos ou idiomas, o latim foi passando paulatinamente à categoria de língua morta. Não foi extinto, como o foi seu grupo de origem, o indo-europeu, que só pode ser conhecido e reconhecido mediante suposições arqueológicas e antropológicas em paronomásia com suas línguas oriundas, uma vez que o latim, desde seu início até seu fim, deixou documentos escritos de literatura e mesmo registros de manifestações orais, em inscrições achadas em muros, lápides, igrejas, estradas, paredes caseiras etc. Os romances, no entanto, não provêm do latim literário, que era artificial e excessivamente pejado de figuras retóricas e poéticas, mas da língua falada, ou latim vulgar (falado pelos plebeus, não pelos patrícios), e foram disseminados na região que, anteriormente, fora parte integrante do outrora florescente império romano. Essa região abrangeu
[a] Romênia, como região isolada, a Itália (compreendendo a borda do Adriático com o Trieste e toda a Dalmácia), parte da Suíça, a França com parte da Bélgica e finalmente a Península Ibérica. Para o linguista, todo esse domínio constitui a România (SAID ALI, 1964: 17)
          Devemos lembrar, também, que os idiomas neolatinos, por várias razões, foram levados à África, à Ásia e, posteriormente, com o advento das grandes conquistas ultramarinas, a partir do século XVI, às Américas, aportando em países como o Brasil (português), Peru, Equador, Venezuela, Argentina, México etc. (espanhol). Em resumo, de acordo com Meyer-Lübke, as línguas românicas se dividem em “romeno, dalmático, rético, italiano, sardo, provençal, francês, espanhol e português” (apud SAID ALI, idem, ibidem). Não se deve dizer, a priori, que alguma dessas línguas é proveniente de outra delas, senão, sim, em vez disso, deve-se afirmar que todas tiveram uma origem comum, como foi mostrado, que é o latim.
       
Além dos idiomas neolatinos mencionados, há uma série de dialetos que, esses sim, advêm das línguas citadas. Tais dialetos, hoje, são preferentemente chamados igualmente, em muitos casos, de idiomas, colocando-se em parelha com aqueles de que se originaram, pois já apresentavam, frequentemente, morfologia, sintaxe e léxico bastante diferentes dos achados em sua gênese, o que torna impróprio serem considerados, hodiernamente, meros entroncamentos de suas línguas matrizes.
       
Devemos notar, também, que, outrora, dava-se a tais idiomas a denominação, hoje completamente obsoleta, de “línguas crioulas”, como é o caso de alguns idiomas falados em Cabo Verde, em Moçambique, na Índia etc. Também se chamava “dialetos” às línguas que não pertenciam à urbanidade de determinado país, a chamada língua oficial, de chancelaria, a presente na Gramática Normativa; por isso, era frequente que se denominasse de “dialetos” várias línguas aborígines, como o tupi-guarani, no Brasil. Reiteramos que esses critérios classificatórios são desusados atualmente, e dá-se a denominação de “dialeto”, hoje, seguindo as orientações da Sociolinguística Variacionista, simplesmente às variantes diatópicas (encontradas em regiões geográficas diferentes), ou mesmo diafásicas (de estilo), diastráticas (de nível sociocultural), diacrônicas (cronológicas), etárias, profissionais (jargões), de gênero etc. de determinada língua. Portanto, é lícito falar-se, por exemplo, em dialetos tupi-guaranis espalhados no tempo ou na disposição geográfica americana, ou no dialeto do Rio de Janeiro do século XIX e assim por diante. Há bastantes comprovações empíricas para essa nova diretriz ao tratar-se do critério dialetal de classificação, sendo a dialetologia, hoje, parte importante da citada Sociolinguística (mas não exclusivamente dela). Nessa esteira, frequentemente a noção de dialeto, hoje, confunde-se à de registro.
       
Sobre a questão literária do latim, deve-se observar que, na própria literatura, a partir, aproximadamente, do fim do século I d.C., houve gradativo predomínio do idioma vulgar (falado) sobre o outrora escrito (clássico ou então literário), ou do idioma de base oral mas então também escrito, ainda que não necessariamente literário. Como se disse, essa afluência se deu em dizeres grafados em muros, estradas etc., além de em obras de cunho proeminentemente populares, sobretudo as comédias, que agradavam mais à índole do povo, como é o caso de Satiricon, de Petrônio (século I d. C.), das Comédias de Plauto, O asno de Ouro, de Apuleio (século II d.C) (cf. MATTOSO CÂMARA, 1978, 154). Também se observam generosamente essas assimilações em escritos de pessoas incultas ou não eruditas que faziam espécies de “diários de bordo” ou “crônicas de viagem”, como foi o caso da freira espanhola Silvia ou Etéria (Aetheria), que escreveu a Peregrinatio ad Loca Sancta, também conhecida como Peregrinatio Aetheriae (q.v. DO VALLE, s.d), além das correções que os gramáticos faziam aos “erros” cometidos pelo vulgo, como é o caso do Appendix Probi (século III ou IV d.C), de autoria provável de um gramático de origem africana. (MATTOSO CÂMARA, id., ib.).
       
Com todas essas fontes, e muitas outras, que ultrapassam, portanto, o estatuto de mera suposição ou insinuação, pode-se perceber a raiz da língua portuguesa fincada no latim falado, que, não obstante, como se mostrou, foi fartamente apreendido em várias matrizes escritas por toda parte e em vários registros.
3: Algumas acomodações e adaptações linguísticas do latim que ajudaram na formação do idioma português
       
Como teve de se adaptar ou acomodar às pronúncias diferentes das regiões aonde ia, muitas pronúncias foram sendo geradas, e, aos poucos, vários idiomas iam nascendo. Por muito tempo, a preocupação primordial (senão única) dos filólogos era exatamente as mudanças fonéticas do latim aos idiomas modernos. A esse tipo de fazer filológico se dava o nome de “estudos neogramáticos”, e foi essa a diretriz unânime até o início do século XX. Deve-se dizer, sobre esse período, ainda, que
[e]sse modo de fazer Linguística, comparando as línguas na busca de semelhanças e verificando a história de cada uma delas à procura de origens comuns, foi o método dominante da Linguística do século XIX, o chamado método histórico-comparativo. (PIETROFORTE, 2002, 77)
           No início do século XX (o marco é a data da publicação do Cours de Linguistique générale, em 1916), Ferdinand de Saussure ajudou a revogar essa preocupação idiomática, substituindo-a por um conhecimento baseado nas noções de sistema e estrutura linguística, que prescindiam completamente das exegeses baseadas em pesquisas de cunho etimológico, já que, para o mestre de Genebra, a recém-criada Linguística tinha como objeto a língua sincrônica (falada e usada naquele momento histórico específico), uma vez que, para ele, querer abarcar a diacronia (estudo histórico, etimológico), em Linguística, seria como “querer abraçar um fantasma” (SAUSSURE, s.d., 107).
       
No entanto, embora não seja mais, absolutamente, a forma atual de se fazer ciência no campo da filologia, muito das pesquisas dos neogramáticos permanece como legado comprobatório das afiliações e origens dos idiomas românicos. Há vários romanistas que seguiram aquela orientação (Frederico Diez, Carolina Michaëllis de Vasconcelos, Meyer-Lübke, Ismael de Lima Coutinho etc.), deixando-nos importantes compilações sobre o assunto.
       
Podemos citar como principais inovações ou acomodações do latim, evidentemente entre muitas outras ora não catalogadas, a tendência a criações analógicas e a pronúncias relaxadas, que muitas vezes encurtavam os vocábulos ou lhes substituíam consoantes surdas por sonoras (mais suaves do ponto de vista da fonética articulatória). Mattoso Câmara (1978, 153) resume essa transição a pontos capitais, ora por mim parafraseados, como:
1) Desordens e simplificações nas flexões nominais e verbais; 2) termos populares e analógicos, evitados por homens cultos; 3) na sintaxe, predomínio da ordem direta e desrespeito à tradição gramatical normativa de então (daí Bilac ter chamado a língua portuguesa de “inculta”); 4) na fonética, como se mencionou, pronúncia relaxada e repleta de contaminações e assimilações.
Voltando ao caso específico das origens da língua portuguesa, aponta-se, com grande convicção, entre os filólogos, que os então dialetos falados no norte do país forjaram, pouco a pouco, o idioma português. Citam-se, amiúde, os falares de Entre-Douro e Minho e, para alguns incerto, o já citado galécio ou galego-português, idioma falado às margens do Minho, que, para outras correntes filológicas, é o ponto pacífico, como foi dito acima, da origem imediata da língua portuguesa, conforme a maioria dos documentos escritos comprova, tese por mim, portanto, agasalhada sem maiores percalços.
       
Deve-se observar, também, que o idioma português não é fruto exclusivo da língua latina vulgar, uma vez que várias ocupações posteriores à romana na Península Ibérica legaram traços culturais, entre os quais o idioma desponta com grande importância, à língua portuguesa nascitura (grande foi a influência, por exemplo, dos árabes na região), língua que, uma vez migrada para a América, ainda pôde ver-se enriquecida por giros de origem africana, indígena e aborígine em geral. Há, inclusive, consenso em apontar-se, não obstante a constituição de uma única língua, a língua portuguesa da Europa, a da África, a da América (português brasileiro) e a da Ásia.
       
Desse aglomerado de falares, pois, foi sendo criada a língua portuguesa, que encontra sua manifestação denominada de “moderna” no século XVI, notadamente (ou canonicamente) com João de Barros, o “Tito Lívio português” (com suas Décadas), Camões, para alguns o criador da norma portuguesa moderna (com seus Lusíadas), entre outros. Observe-se que se trata exclusivamente de autores de origem europeia, o que, como foi mostrado acima, não constitui, hoje, a realidade da língua portuguesa.
       
Não entrarei, por ora, nas divisões apontadas para o português já formado como idioma, porque tal apontamento fugiria do escopo do presente artigo, que visa à transição do latim ao português, e não ao caminhar do português propriamente dito, caminho que deixarei para outro artigo. Indico, apenas, que muitos textos nos chegaram do português arcaico e antigo, sendo obras de maior fôlego, já completamente em língua portuguesa, só para citar algumas, a Demanda do Santo Graal (que se acreditava ter sido escrita apenas em espanhol, o que, hoje, não é mais considerado fidedigno), o Cancioneiro Geral de Espanha, os Cancioneiros em geral, a História de Santo Amaro, e mais
[a] lenda de S. Barlão e S. Josafate, o Livro de Esopo, o Livro da Corte Imperial, o da Virtusa Benfeitoria, o Livro da Montaria de D. João I, o Leal Conselheiro e Arte de Cavalgar de D. Duarte, a Crônica dos Frades Menores, as Crônicas de Fernão Lopes, Zurara e Rui de Pina e várias outras obras. (SAID ALI, 1964, 18)
4: Língua portuguesa: do passado ao futuro, sempre presente
       
Enfim, recebendo o legado primevo da tradição escrita (não literária), mas predominantemente oral, do latim, a língua portuguesa foi seguindo por outros vergéis e deixou-se afluir de inúmeras outras influências idiomáticas, enriquecendo-se até os dias de hoje, quando sói assimilar palavras estrangeiras de cunho tecnológico, sobretudo dos idiomas francês e, mais recentemente, inglês. Ainda assim, como língua histórica de fortíssima personalidade e índole, o português não se deteriora, nem sequer apresenta supostos sinais de degradação por causa dos citados empréstimos ou estrangeirismos, como alardeiam alguns, baseados em poucas ou nenhumas provas e em parcimoniosos dados que em nada fundamentam a hipótese apocalíptica. Em vez disso, o que temos é a visão sincrônica de um idioma que, como todos os demais que compõem a Babel contemporânea, não param no espaço e no tempo, mas evoluem em direção ao suprimento e à provisão das necessidades emergentes, como ocorreu, aliás, conforme se demonstrou acima, já na mais remota origem da língua portuguesa, que tem seu ponto seminal há quase 3000 anos.
       
Por isso, podemos dizer que a língua continua viva e, exatamente por essa razão, mantém seu fluxo de mudanças, evoluções, empréstimos, assimilações, analogias, importações, exportações, trocas. Toda língua pertence ao presente do povo que dela lança mão a fim de comunicar-se e expressar-se, e pertence, também, ao futuro, às gerações incumbidas de, ao receber uma língua já formada, adaptá-la às premências de seus tempos e de seus coetâneos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECHARA, Evanildo. As fases históricas da língua portuguesa (tentativa de proposta de nova periodização). Niterói, UFF: 1985 
BILAC, Olavo. Língua Portuguesa. In: <http://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes/flor.htm> Acessado em 14 de novembro de 2009
CAETANO, Marcelo Moraes. Gramática reflexiva da língua portuguesa. 1. ed., Rio de Janeiro: Editora Ferreira, 2009a
--------------- Línguas Indo-Europeias. 2009b In: Acessado em 14 de novembro de 2009
DO VALLE, Rosalvo. Considerações sobre a Peregrinatio Aetheriae. In. <http://www.filologia.org.br/rosalvo_cd_rom/index.htm> Acessado em 14 de novembro de 2009
GIORDANI, Mário Curtis. História de Roma. Antiguidade Clássica II. 12. ed., Petrópolis: Editora Vozes, 1997
MATTOSO CÂMARA, Joaquim. Dicionário de Linguística e Gramática. 8. edição, Petrópolis: Editora Vozes, 1978
PIETROFORTE, Antonio Vicente. A língua como objeto da Linguística. In. FIORIN, José Luiz (org.) Introdução à Linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002
SAID ALI, Manuel. Gramática histórica da língua portuguesa. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 9. ed., São Paulo, Cultrix: s.d.
VASCONCELOS, José Leite de. Textos arcaicos. 5. ed., Lisboa: Livraria Clássica, 1970

Marcelo Moraes Caetano é Professor de Português e Literatura; Gramático; Crítico literário; Tradutor de Alemão, Inglês, Francês e Italiano; Estudioso de Latim, Grego e Mandarim. Escritor, jornalista e poeta, com 12 livros publicados, e várias premiações (Academia Brasileira de Letras, ONU, UNESCO, Fundação Guttenberg, XIII Bienal Internacional de Literatura do Rio de Janeiro, Litteris, Sesi, Firjan). Especialista em Educação pela Universidade Federal Fluminense. Mestrando em Estudos da Linguagem pela PUC-RIO. Pesquisador com dedicação exclusiva pelo CNPq. E-mail: mmcaetano@hotmail.com


do link: http://www.cronopios.com.br/site/ensaios.asp?id=4292
 
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sábado, 24 de abril de 2010

eu gosto de escrever como eu penso... e os pseudo intelectuais criticam tanto... um pouco de cultura não faz mal a ninguém

Para saber como ser verdadeiramente transgressor, o verdadeiramente sofisticado, aquilo que aproxima as pessoas na sua essência...


fiz uma pequena grande colagem de várias págs. que qualquer um pode zapear porraí...

O que determina os níveis de fala?

Os dois grandes níveis de fala, o coloquial e o culto, são determinados pela cultura e formação escolar dos falantes, pelo grupo social a que eles pertencem e pela situação concreta em que a língua é utilizada. Um falante adota modos diferentes de falar dependendo das circunstâncias em que se encontra: conversando com amigos, expondo um tema histórico na sala de aula ou dialogando com colegas de trabalho.

1. Língua e fala
A língua, segundo o lingüista Ferdinand de Saussure, 'é a parte social da linguagem', isto é, ela pertence a uma comunidade, a um grupo social – a língua portuguesa, a língua chinesa. A fala é individual, diz respeito ao uso que cada falante faz da língua. Nem a língua nem a fala são imutáveis. Uma língua evolui, transformando-se foneticamente, adquirindo novas palavras, rejeitando outras. A fala do indivíduo modifica-se de acordo com sua história pessoal, suas intenções e sua maior ou menor aquisição de conhecimentos.

2. Nível culto
O nível culto é utilizado em ocasiões formais. É uma linguagem mais obediente às regras gramaticais da norma culta. O nível culto segue a língua padrão, também chamada norma culta ou norma padrão.


As gírias e expressões populares ouvidas nas feiras livres
são um bom exemplo do nível
coloquial ou popular.
3. Nível coloquial
O nível coloquial ou popular é utilizado na conversação diária, em situações informais, descontraídas.
É o nível acessível a qualquer falante e se caracteriza por:

• Expressividade afetiva, conseguida pelo emprego de diminutivos, aumentativos, interjeições e expressões populares:


É só uma mentirinha, vai!

Você me deu um trabalhão, nem te conto!


• Tendência a transgredir a norma culta:  
(isso é comigo mermo, sou uma transgressora do que é bundão!!, convencional)

Você viu ele por aí?

Você me empresta teu carro?

• Repetição de palavras e uso de expressões de apoio:


Né? Você está me entendendo? Falou!


4. Gíria

É uma variante da língua, falada por um grupo social ou etário. É a fala mais variável de todas, pois as expressões entram e saem 'da moda' com muita freqüência, sendo substituídas por outras. Algumas se incorporam ao léxico, dando origem a palavras derivadas. É o caso de dedo-duro que deu origem a dedurar.

5. Variedades geográficas ou diatópicas
São as variantes de uma mesma língua que identificam o falante com sua origem tradicional. Podemos distinguir entre elas:


• Dialetos: variantes da língua comum utilizadas num espaço geográfico delimitado. O dialeto é o resultado da transformação regional de uma língua nacional (o idioma). O açoriano e o madeirense, por exemplo, são dialetos do português. Algumas línguas têm uma origem histórica comum, mas por razões políticas ou econômicas uma delas ganhou status de língua, enquanto outras permaneceram como dialetos. As línguas românicas eram dialetos do latim.

• Falares: modalidades regionais de uma língua cujas variações não são suficientes para caracterizar um dialeto. Às vezes, são apenas algumas palavras ou expressões ou mesmo certos tipos de construção de frases. A esse uso regional da língua também dá-se o nome de regionalismo.

6. A fala popular na literatura

O registro da fala popular na literatura tem sido largamente empregado como forma de atribuir expressividade e veracidade ao texto. Na década de 30, por exemplo, quando os escritores propunham uma literatura engajada e realista, o aproveitamento do nível coloquial, pela transcrição dos falares regionais, foi elemento fundamental para o sucesso do romance brasileiro:

então, outra vez, vamos lá:


NÍVEIS DE LINGUAGEM


A língua é um código de que se serve o homem para elaborar mensagens, para se comunicar.

Existem basicamente duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas funcionais:

1) a língua funcional de modalidade culta, língua culta ou língua-padrão, que compreende a língua literária, tem por base a norma culta, forma lingüística utilizada pelo segmento mais culto e influente de uma sociedade. Constitui, em suma, a língua utilizada pelos veículos de comunicação de massa (emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a de serem aliados da escola, prestando serviço à sociedade, colaborando na educação, e não justamente o contrário;

2) a língua funcional de modalidade popular; língua popular ou língua cotidiana, que apresenta gradações as mais diversas, tem o seu limite na gíria e no calão.

Norma culta:

A norma culta, forma lingüística que todo povo civilizado possui, é a que assegura a unidade da língua nacional. E justamente em nome dessa unidade, tão importante do ponto de vista político-cultural, que é ensinada nas escolas e difundida nas gramáticas.

Sendo mais espontânea e criativa, a língua popular se afigura mais expressiva e dinâmica. Temos, assim, à guisa de exemplificação:

Estou preocupado. (norma culta)
Tô preocupado. (língua popular) - praticamente meu estilo, praticamente proposital
Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)

Não basta conhecer apenas uma modalidade de língua; urge conhecer a língua popular, captando-lhe a espontaneidade, expressividade e enorme criatividade, para viver; urge conhecer a língua culta para conviver.

Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das normas da língua culta.

O conceito de erro em língua:

Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos casos de ortografia. O que normalmente se comete são transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num momento íntimo do discurso, diz: "Ninguém deixou ele falar", não comete propriamente erro; na verdade, transgride a norma culta.

Releva considerar, assim, o momento do discurso, que pode ser íntimo, neutro ou solene.

O momento íntimo é o das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre amigos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas perfeitamente normais construções do tipo:

Eu não vi ela hoje. 

Ninguém deixou ele falar.
Deixe eu ver isso!
Eu te amo, sim, mas não abuse!
Não assisti o filme nem vou assisti-lo.
Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo.

Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a norma culta, deixando mais livres os interlocutores.

O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que é a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se alteram:

Eu não a vi hoje.
Ninguém o deixou falar.
Deixe-me ver isso!
Eu te amo, sim, mas não abuses!
Não assisti ao filme nem vou assistir a ele.
Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe. 



para mim, essa última opção traz uma carga de formalidade e distanciamento não justificada. Sou contra esse escalonamento nas relações, pois o que se fala, está no interior e no sentimento... há uma representatividade intríseca com o ser e o modo de se relacionar com o outro....

Considera-se momento neutro o utilizado nos veículos de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal, revista, etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou transgressões da norma culta na pena ou na boca de jornalistas, quando no exercício do trabalho, que deve refletir serviço à causa do ensino, e não o contrário.

O momento solene, acessível a poucos, é o da arte poética, caracterizado por construções de rara beleza.

Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume. Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta o comete, passando, assim, a constituir fato lingüístico registro de linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda que não tenha amparo gramatical.

Exemplos:

Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!)
Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir.)
Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos dispersar e Não vamos dispersar-nos.)
Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho de sair daqui bem depressa.)
O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no seu posto.)

Têxtil, que significa rigorosamente que se pode tecer, em virtude do seu significado, não poderia ser adjetivo associado a indústria, já que não existe indústria que se pode tecer. Hoje, porém, temos não só como também o operário têxtil, em vez da indústria de fibra têxtil e do operário da indústria de fibra têxtil.

As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos impedir, despedir e desimpedir, respectivamente, são exemplos também de transgressões ou "erros" que se tornaram fatos lingüísticos, já que só correm hoje porque a maioria viu tais verbos como derivados de pedir, que tem, início, na sua conjugação, com peço. Tanto bastou para se arcaizarem as formas então legítimas impido, despido e desimpido, que hoje nenhuma pessoa bem-escolarizada tem coragem de usar.

Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário escolar palavras como corrigir e correto, quando nos referimos a frases. "Corrija estas frases" é uma expressão que deve dar lugar a esta, por exemplo: "Converta estas frases da língua popular para a língua culta".

Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a uma frase "errada"; é, na verdade, uma frase elaborada conforme as normas gramaticais; em suma, conforme a norma culta.

Língua Escrita e Língua Falada. (one more time, nunca é demais!)

A língua escrita, estática, mais elaborada e menos econômica, não dispõe dos recursos próprios da língua falada.
A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação (melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos, olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e natural, estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e a evoluções.

Nenhuma, porém, se sobrepõe a outra em importância. Nas escolas principalmente, costuma se ensinar a língua falada com base na língua escrita, considerada superior. Decorrem daí as correções, as retificações, as emendas, a que os professores sempre estão atentos.

Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mostrando as características e as vantagens de uma e outra, sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade ou inferioridade, que em verdade inexiste.

Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na língua falada. A nenhum povo interessa a multiplicação de línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de dialetos, conseqüência natural do enorme distanciamento entre uma modalidade e outra.

A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-elaborada que a língua falada, porque é a modalidade que mantém a unidade lingüística de um povo, além de ser a que faz o pensamento atravessar o espaço e o tempo. Nenhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será possível sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo, se processam lentamente e em número consideravelmente menor, quando cotejada com a modalidade falada.

Importante é fazer o educando perceber que o nível da linguagem, a norma lingüística, deve variar de acordo com a situação em que se desenvolve o discurso.

O ambiente sociocultural determina o nível da linguagem a ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia e até a entoação variam segundo esse nível. Um padre não fala com uma criança como se estivesse dizendo missa, assim como uma criança não fala como um adulto. Um engenheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo nível de fala, para colegas e para pedreiros, assim como nenhum professor utiliza o mesmo nível de fala no recesso do lar e na sala de aula.

Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre esses níveis, se destacam em importância o culto e o cotidiano, a que já fizemos referência.

A gíria:

Ao contrário do que muitos pensam, a gíria não constitui um flagelo da linguagem. Quem, um dia, já não usou bacana, dica, cara, chato, cuca, esculacho, estrilar?

O mal maior da gíria reside na sua adoção como forma permanente de comunicação, desencadeando um processo não só de esquecimento, como de desprezo do vocabulário oficial. Usada no momento certo, porém, a gíria é um elemento de linguagem que denota expressividade e revela grande criatividade, desde que, naturalmente, adequada à mensagem, ao meio e ao receptor. Note, porém, que estamos falando em gíria, e não em calão.

Ainda que criativa e expressiva, a gíria só é admitida na língua falada. A língua escrita não a tolera, a não ser na reprodução da fala de determinado meio ou época, com a visível intenção de documentar o fato, ou em casos especiais de comunicação entre amigos, familiares, namorados, etc., caracterizada pela linguagem informal.

então, correndo o risco de ser repetitiva...


Níveis de língua.


LÍNGUA PADRÃO - A língua padrão permitem a todos comunicarem entre si e compreenderem-se mutuamente usada nos
textos dos manuais escolares, a linguagem do professor e dos alunos nas aulas, etc.

LÍNGUA CUIDADA - A língua que encontramos nos discursos parlamentares, nas conferências.
Usa um vocabulário mais seleccionado e menos usual.

Língua Literária e Poética - Apresenta as características da língua cuidada, mas assume desvios da norma
mais arrojados: figuras de estilo e palavras estudadas para criar ambientes emotivos e poéticos.

Linguagem Técnica - É constituída por palavras relativas a determinada profissão e se usam nesse contexto:
um mecânico de automóveis conhece o nome de todas as peças de um motor, o que não sucede a qualquer falante.

Linguagem Científica - Afasta-se da língua comum porque se refere a questões da Medicina, da Físico-Química,
da Biologia, etc..

LÍNGUA FAMILIAR - A língua familiar é simples, não se afastando muito da língua padrão. Os falantes dão a
impressão de se conhecerem bem.

LÍNGUA POPULAR - A língua popular é muito simples, sem palavras eruditas e desvia-se da norma, quer na fala,
quer na escrita. As características da língua popular variam com as regiões do país ( Regionalismos) e com
os diferentes tipos sociais ( Gírias e Calão)

Regionalismos - São registos de língua próprios da população de diferentes povoações ou regiões. Distinguem-se
pela pronúncia, pelos diferentes significados e diferente construção de palavras e frases.

Gírias - São linguagem própria de certos grupos sociais, de certas profissões que usam um vocabulário próprio,
geralmente com a finalidade de não serem compreendidos por indivíduos estranhos ao seu grupo.

Calão - O calão é um tipo de gíria própria de grupos sociais mais marginais, onde a acção educativa dificilmente
penetra: trata-se de uma linguagem grosseira e muitas vezes obscena. No entanto, certas palavras entram a pouco
e pouco na linguagem familiar, sobretudo entre os jovens. São frequentes palavras ou expressões como gajo,
chatear, pifo, teso, etc..


e um último artigo/texto

Norma culta e língua-padrão


M. T. Piacentini

Para os lingüistas, a língua-padrão se estriba nas normas e convenções agregadas num corpo chamado de gramática tradicional e que tem a veleidade de servir de modelo de correção para toda e qualquer forma de expressão lingüística.

Querer que todos falem e escrevam da mesma forma e de acordo com padrões gramaticais rígidos é esquecer-se que não pode haver homogeneidade quando o mundo real apresenta uma heterogeneidade de comportamentos lingüísticos, todos igualmente corretos [não se pode associar “correto” somente a culto].
Em suma: há uma realidade heterogênea que, por abrigar diferenças de uso que refletem a dinâmica social, exclui a possibilidade de imposição ou adoção como única de uma língua-modelo baseada na gramática tradicional, a qual, por sua vez, está ancorada nos grandes escritores da língua, sobretudo os clássicos , sendo pois conservadora. E justamente por se valer de escritores é que as prescrições gramaticais se impõem mais na escrita do que na fala.
“ A cultura escrita, associada ao poder social , desencadeou também, ao longo da história, um processo fortemente unificador (que vai alcançar basicamente as atividades verbais escritas), que visou e visa uma relativa estabilização lingüística, buscando neutralizar a variação e controlar a mudança. Ao resultado desse processo, a esta norma estabilizada, costumamos dar o nome de norma-padrão ou língua-padrão ” (Faraco, Carlos Alberto, “Norma-padrão brasileira”. In Bagno, M. (org.). Lingüística da norma . SP: Loyola, 2002, p.40).
Aryon Rodrigues (in Bagno 2002, p.13) entra na discussão: “ Freqüentemente o padrão ideal é uma regra de comportamento para a qual tendem os membros da sociedade, mas que nem todos cumprem, ou não cumprem integralmente ”. Mais adiante, ao se referir à escola, ele professa que nem mesmo os professores de Língua Portuguesa escapam a esse destino: “ Comumente, entretanto, o mesmo professor que ensina essa gramática não consegue observá-la em sua própria fala nem mesmo na comunicação dentro de seu grupo profissional ” (p. 18).

Vamos ilustrar os argumentos acima expostos. Não há brasileiro – nem mesmo professores de português – que não fale assim:

- Me conta como foi o fim de semana...
- Te enganaram, com certeza!
- Me explica uma coisa: você largou o emprego ou foi mandado embora?

Ou mesmo assim:

- Tive que levar os gatos, pois encontrei eles bem machucados.
- Conheço ela há muito tempo – é ótima menina.
- Acho que já lhe conheço, rapaz.

Então, se os falantes cultos, aquelas pessoas que têm acesso às regras padronizadas, incutidas no processo de escolarização, se exprimem desse modo, essa é a norma culta . Já as formas propugnadas pela gramática tradicional e que provavelmente só se encontrariam na escrita [ conta-me como foi / enganaram-te / explica-me uma coisa / pois os encontrei / conheço-a há tempos / acho que já o conheço ] configuram a norma-padrão ou língua-padrão .
Se para os cientistas da língua, portanto, existe uma polarização entre a norma-padrão (também denominada “norma canônica” por alguns lingüistas) e o conjunto das variedades existentes no Brasil, aí incluída a norma culta , no senso comum não se faz distinção entre padrão e culta. Para os leigos, a população em geral, toda forma elevada de linguagem, que se aproxime dos padrões de prestígio social, configura a norma culta. Fica evidente em todas as consultas recebidas no saite Língua Brasil que as pessoas transitam pela norma culta e norma-padrão sem fazer distinção entre as duas, pois é realmente tênue a linha demarcatória entre elas.
bom, eu gostei muito disso tudo, como eu sempre digo, gosto de simplesmente SABER coisas....


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sexta-feira, 23 de abril de 2010

SOBRE RELACIONAMENTOS, OU O TÊNIS E O FRESCOBOL

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.’

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo\'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida\'. A situação está salva e o ódio vai aumentando.’

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...(O retorno e terno, p. 51.)



 http://www.rubemalves.com.br/cronicasdiverasas.htm
 http://www.rubemalves.com.br/tenisfrescobol.htm



Rubem Alves (Boa Esperança, 15 de setembro de 1933) é um psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro, é autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.[1]
fonte:
  http://pt.wikipedia.org/wiki/Rubem_Alves#Vida

um dos pensadores e humanistas que deram origem ao que mais tarde ficou conhecida como Teologia da Libertação, pra quem se interessar, vale a pena conhecer.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Procurando cabelo em ovo

 
Vênus em quadratura com Mercúrio natal
DE: 22/04 (Hoje), 20h47
ATÉ: 01/05 , 21h55
A desarmonia que envolve Vênus no céu com o planeta Mercúrio do seu mapa entre os dias 22/04 (Hoje) e 01/05 não é um conflito grave, e diz respeito a alguns conflitos internos relacionados à sua forma de vivenciar o amor. É possível que, neste momento, você venha a questionar mais a sua vida afetiva, percebendo de forma mais intensa as suas insatisfações. Mas o problema neste período é que de nada adiantará muito pensar, pensar e pensar. O excesso de especulação neste momento não melhora a sua vida amorosa, e pode até torrar a paciência alheia, se você ficar falando demais sobre isso. Uma tendência natural deste momento é ficar fazendo "discussão de relação", quando se está namorando, e nem sempre são discussões que levam a algum lugar. Diz-se, inclusive, que após dez minutos de conversa, é provável que o foco do assunto seja perdido, e aí as pessoas passam a discutir milhões de coisas outras, liberando traumas e coisas que não têm nada a ver com a relação em si. Que tal não complicar?


Adorei. grande ensinamento.... 

A Imperatriz

A Imperatriz

permitir-se florescer

O conselho que emerge do Tarot para você neste momento, tem a marca do arcano III, chamado “A Imperatriz”. Este arcano pleno de cor, que sugere o florescimento da beleza, vem lhe chamar a atenção para a importância da auto-estima, do cuidar de si, da aparência. Sabemos que as pessoas falam muito da essência sendo mais importante, mas no mundo em que vivemos é fundamental ter uma boa aparência e, portanto, não se sinta superficial por querer se vestir melhor, tratar a aparência. Amar a si é o primeiro e fundamental passo para atrair o amor de quem quer que seja!

Além disso, este é um momento de frutificação, de florescimento de idéias, excelente para toda e qualquer forma de materialização de sonhos e intenções. A fase é ideal para dar amor, não importando se este amor será recíproco ou não. O simples fato de doar e irradiar afeto lhe será suficiente e lhe permitirá sentir enorme satisfação!

Conselho: Cuidar de si é fundamental!  a aparência não é nada, se o conteúdo não estiver cultivado.

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quarta-feira, 21 de abril de 2010

PESSOAS SÃO ELOS






Elos que se entrelaçam pela força do destino,
Elos que se definem pelo livre arbítrio.
Pessoas formam histórias,
Histórias de vida com rumos pré destinados.
Histórias de vida de livre escolha dos próprios atos.
O nosso eu é formado de pessoas...
Pessoas que amamos, odiamos,especiais ou insignificantes.
A nossa história é formada por pessoas.
Muitas delas ficam apenas um pouquinho conosco...
Outras uma eternidade de tempo físico...
Outras uma eternidade de tempo imortal.
Essas ficam conosco mesmo depois que o elo físico se rompe..
São relações eternas de amor!
O rompimento doloroso só é capaz de provocar.
o afastamento da matéria.
Do espírito jamais...
São essas as pessoas que fundamentam o nosso alicerce de vida....
Elas vão e ficam ao mesmo tempo.
São pessoas que jamais nos deixam sós,
Pelo simples fato de morarem dentro de nós...
Essas são elos que não se rompem, que nos tornam.
Capazes de ser também elos em outras vidas..
Elos de amizade...
Elos de amor....
E assim é a corrente da vida,
Onde as pessoas formam sempre elos...





recebi essa msg por e-mail de uma amiga muito querida, e estou reproduzindo aqui.

DESEJOS

do meu mestre   ANDRÉ LUIZ

Desejo é realização antecipada.
Querendo, mentalizamos; mentalizando, agimos; agindo, atraímos; e atraindo, realizamos.
Como você pensa, você crê, e como você crê, será.
Cada um tem hoje o que desejou ontem e terá amanhã o que deseja hoje.
Campo de desejo, no terreno do espírito, é semelhante ao campo de cultura na gleba do mundo, na qual cada lavrador é livre na sementeira e responsável na colheita.
O tempo que o malfeitor gastou para agir em oposição à Lei, é igual ao tempo que o santo despendeu para trabalhar sublimando a vida.
Todo desejo, na essência, é uma entidade tomando a forma correspondente.
A vida é sempre o resultado de nossa própria escolha.
O pensamento é vivo e depois de agir sobre o objeto a que se endereça, reage sobre a criatura que o emitiu, tanto em relação ao bem quanto ao mal.
A senteça de Jesus: "procura e achará" equivale a dizer: "encontrarás o que desejas".
Chico Xavier


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segunda-feira, 19 de abril de 2010

UMA CARTA DE TARÔ

Quando eu estava na faculdade eu nunca gostei das ortodoxias que o conhecimento acadêmico preconizava, eu procurava as leituras que abrissem meus horizontes para o novo, para aquilo que fosse diferente, que fosse passível de novas mentalidades, onde diferente não fosse rejeitado a priori, que fosse entendido, que fosse relativizado para um novo olhar. Descobrir pensadores que já faziam isso era uma questão de sintonia, então saber que Freud rompeu relações com Jung foi tudo que eu precisava para buscar seus livros, sua obra. Uma das coisas que ele ousou pesquisar foi o tarô de Marselha, que também fui estudar, e o I Ching, que me abriu mais portas para a orientalidade.
Bom, então de pura brincadeira eu de vez enquanto, quase sempre, acesso um site que dá uma leitura diária de tarô, uma única carta, que foi essa que saiu hoje pra mim. Achei interessante a sincronicidade, outro conceito jungiano. Ora bolas, não preciso ficar me explicando aqui no MEU site pra ninguém né?


Ás de Paus





momento de agir!

O Ás de Paus como arcano de aconselhamento para este momento de sua vida vem sugerir a necessidade de se atirar nas coisas com mais entusiasmo, sem medos, imprimindo tesão em tudo o que se faz. Você dispõe de imenso potencial criativo e está num momento excepcional para fazer valer as idéias que saltarão de sua mente e coração. Cuidado apenas para, no entusiasmo, não terminar “queimando” as pessoas ao seu redor. Temos, muitas vezes, idéias brilhantes e “vemos” as coisas de uma maneira que ninguém mais viu. Ficamos irritados quando os outros não acompanham a perfeição de nossa visão ou a clareza que tivemos a respeito de um projeto ou idéias. E é aí que mora o perigo: de nada adianta você ter uma ótima idéia, se não souber ter paciência para explicá-la.


conselho: Atire-se! Mas tome cuidado para não ferir ninguém!


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domingo, 18 de abril de 2010

“Porca gorda” ou Por que as pessoas acima do peso nos incomodam tanto?




ELIANE BRUM
 Reprodução
ELIANE BRUM
ebrum@edglobo.com.br
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo). 

Assisti à “Gorda”, peça teatral em cartaz no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo. Ri muito. Em certo momento, meu riso ficou triste. Eu estava triste. Não pela gorda da peça, mas por me reconhecer no preconceito contra ela. No final, chorei.
Este é o enredo. Helena e Tony se conhecem num restaurante. Ela é gorda. Não gordinha. Gorda mesmo. Helena é vivida com muita competência pela atriz Fabiana Karla, de Zorra Total (TV Globo). Segundo a sinopse oficial, a personagem está 30 quilos acima do peso. Se compararmos com uma das modelos da moda, deve estar uns 50. Tony (o ótimo Michel Bercovitch) gosta dela. Ela é inteligente, divertida, sensual. Bonita. Helena gosta dele. Os dois se apaixonam. Mas, como um cara jovem, bem sucedido, MAGRO e disputado pelas mulheres MAGRAS pode escolher uma gorda, amar uma gorda, ser feliz com uma gorda?
A reação social diante da versão de amor impossível da nossa época é protagonizada por Caco (Mouhamed Harfouch), amigo e colega de trabalho de Tony, e por Joana (Flávia Rubim), sua ex gostosa, cujo maior temor da vida é engordar. São eles que representam, no enredo e no palco, pessoas como nós – sempre menos magras do que gostariam, magras o suficiente para não serem chamadas de gordas na rua.
O texto do americano Neil Labute é inteligente, rápido, fatal. Rimos muito. Primeiro, com ela. Helena é uma mulher bem-humorada. Como muitos gordos, defende-se fazendo piadas sobre seu tamanho. A velha regra: adiante-se, ria de si mesmo, antes que os outros o façam com a crueldade habitual. Se perder o timing, não acuse o golpe – ou nunca mais o deixarão em paz.
Aos poucos, começamos a rir muito dela (e não mais “com” ela), pelas piadas de Caco, ao descobrir que o amigo está namorando uma “porca gorda”. Fat Pig é o nome original da peça. Mas gostamos de Helena, testemunhamos o apaixonamento dos dois, sabemos que eles são felizes juntos. E passamos a nos sentir mal de rir, ainda que continuemos rindo. Não queremos ser como Caco – muito menos como Joana. Mas somos tão parecidos!
Nós – o senso-comum sentado na plateia – somos o mais próximo de um vilão que esta peça produz. O texto e os atores são competentes o suficiente para fazer com que a gente prefira não vencer. Torcemos para que Helena e Tony consigam ficar juntos, apesar de nós. Torcemos para que eles consigam vencer nosso preconceito e nos tornar melhores do que somos. Não sei se torceríamos assim num episódio da vida real. E esta é a questão que a peça também nos deixa.
O final é brilhante.
Acho que vale a pena pensar sobre as questões que esta peça provoca. Começando por: qual é o nosso problema com os gordos?
Sobre a transformação do padrão de beleza, das rechonchudas musas da Renascença às modelos esquálidas e/ou musculosas de hoje, já se escreveu bastante. A pergunta que me desperta maior interesse não se refere – apenas – ao fato de acharmos as gordas feias, de relacionarmos gordura com feiúra. A questão que mais me intriga é: por que muitos acham as gordas (e os gordos) repugnantes? Se você não disse ou pensou, já ouviu alguém dizer: “olha que gorda nojenta!”.
Horrível. Mas tão comum que nos obriga a ir em frente.
Com todas as diferenças que, para nossa sorte, garantem a diversidade do mundo, somos impelidos a ser politicamente corretos. Fazer piadas com aquelas que foram as vítimas de sempre até não muito tempo atrás, como negros, gays, deficientes etc, pega mal hoje em dia. Temos de ser politicamente corretos ou corremos o risco de ser processados – ou mesmo de acabar na cadeia. Por que o privilégio de não ser ridicularizado não foi estendido aos gordos? Sobre os gordos podem ser ditas as coisas mais cruéis. E ainda se manter do lado certo da força.
O que diz o senso comum sobre os gordos? Primeiro, que são feios. Em geral, o máximo de elogio que um gordo consegue arrancar é: “Que pena, tem um rosto tão bonito...”. Dizem que são preguiçosos. Se fizessem exercícios – e como ousar não se exercitar neste mundo? – perderiam aquela pança. Afirma-se também que são sem-vergonhas. Se tivessem vergonha na cara, respeito próprio, fechariam a boca e seriam magros. E, então, poderiam pertencer ao clube dos magros felizes (????!!!!).
Portanto, segundo o senso comum, além de feios e preguiçosos, gordos também teriam falhas de caráter. E, como tudo, para as mulheres acima do peso é ainda pior. Neste mundo em que se compram peitos, bocas e bundas no crediário, soa imperdoável não arrancar a gordura à faca. Já ouvi muitas vezes frases como estas, referindo-se a alguém com mais quilos do que o “permitido”: por que não faz logo uma cirurgia de redução de estômago? Seguida por uma cirurgia reparadora e uma lipoescultura? Simples assim.
Sobre o estado psíquico dos gordos, a percepção é confusa. Por um lado, persiste a ideia de que todo gordo é engraçado. É um pândego. Como bobo da corte ou comediante, ele pode ser aceito. Nós mesmos, só conhecíamos Fabiana Karla como atriz do Zorra Total. Ninguém imaginou que, ainda que fazendo o papel de “gorda”, ela pudesse ter outros recursos que não a graça. Que os gordos mostrem nuances que não virem piada nos surpreende. Que eles possam nos fazer pensar sobre outras dimensões da vida é inesperado. Que tenham questões existenciais que não girem em torno de uma balança é estarrecedor.
Por outro lado, o senso comum também diz que, se é gordo, só pode ser infeliz. A maioria de nós acredita e repete isso. Fulano come demais, é infeliz. Fulano não consegue fechar a boca, é infeliz. Fulano compensa a infelicidade comendo. Ora, desde quando magreza se tornou sinônimo de felicidade? Você, magro ou magra, é loucamente feliz? Está rolando de rir vida afora? Ops, magros não rolam.
O mais disfarçado dos preconceitos vem embalado pelo discurso da saúde. É verdade que a obesidade está crescendo no Brasil. E é verdade que isso é sério. E é legítimo e relevante pensar e discutir o fenômeno com responsabilidade.
Mas será que não há um exagero nisso? Ou pelo menos do uso preconceituoso que se faz de uma questão tão séria? Hoje, quando olham para um gordo, além de feio, preguiçoso e sem-vergonha, muitos enxergam também um doente. Gordura virou sinônimo de doença. E nossa sociedade, que morre de medo de morrer, foge da doença. E das pessoas doentes. Os gordos parecem ser os leprosos de nosso tempo. E esta seria minha primeira hipótese para a repugnância que as pessoas gordas parecem evocar.
Não se trata de afirmar que a gordura não está relacionada a doenças – ou que a obesidade não seja uma doença. A Organização Mundial da Saúde afirma que é, quem sou eu para discordar. Só tento mostrar que é preciso tomar cuidado para não cometermos as mesmas crueldades que nossos antepassados consumaram ao exorcizar epiléticos, isolar leprosos. Todas essas práticas sempre foram realizadas em nome do “bem”. Guardadas as proporções e o momento histórico, nossa sociedade pode estar transformando os gordos, com os instrumentos desta época, nos culpados pela nossa impotência diante da doença e da morte.
Hoje a vida tornou-se uma patologia. Difunde-se que muito do que sentimos não deveríamos sentir. O ideal seria só sentir alegria num corpo magro, musculoso e eterno. Para cada sentimento e estado que extrapole estes limites impossíveis há uma patologia e uma penca de remédios e procedimentos cirúrgicos para “curá-la”. Acredito que vale a pena ter um pouco de cautela, enfiar alguns pontos de interrogação na cabeça, antes de sairmos rotulando todos os gordos como doentes. E, pior, com uma doença que dependeria só de boa vontade individual para ser curada.
Eu sou mais ou menos magra. Longe, bem longe do peso de uma modelo, mas ninguém me chamaria de gorda na rua. A maior parte da minha família é magra. E todos nós temos doenças. Eu tenho quatro hérnias de disco. Meu pai, mesmo com um metabolismo fenomenal e índices de colesterol e triglicérides perfeitos, tem problemas cardíacos desde jovem. Meu irmão do meio não tem um grama de gordura a mais no corpo, come alimentos saudáveis e se exercita com método: a cada semana corre quatro dias, faz musculação e natação em outros dois. Ainda assim, é um pré-diabético.
Parece-me lógico que o envelhecimento traga doenças. A vida nos gasta. Nosso corpo também tem prazo de validade. Pela biologia, estamos prontos para morrer assim que alcançamos a idade reprodutiva, transmitimos nossos genes e criamos nossa prole. Conseguimos, à custa da Ciência (e ainda bem que conseguimos!) espichar nosso tempo de vida e até com qualidade crescente. Mas, infelizmente, não vamos nos livrar das doenças. Nem de morrer. É duro olhar para os limites. Mas não fazê-lo pode ser pior.
Os gordos podem ser vítimas de nosso medo de morrer. Pagam um preço alto pela nossa dificuldade de lidar com a desordem inerente à existência humana. Tornamos suas vidas insuportáveis – inclusive as lojas bacanas, que se recusam a oferecer números maiores que 42 – porque eles apontam em seus excessos aquilo que nos falta a todos: controle sobre a vida. Esta é uma hipótese, apenas. Acredito que existam muitas outras.
Acho importante tentar compreender porque insistimos em jogar os gordos na fogueira contemporânea. Por todas as razões que dizem respeito à vida de todos – e principalmente para não infligirmos sofrimento ao outro que nos ameaça com sua diferença. Só sei o óbvio: tanto medo, capaz de causar repugnância, revela mais sobre os magros do que sobre os gordos.
Talvez, num dia próximo, não seja preciso escrever em termos de “nós” – e “eles”. A vida é diversa. Sempre houve os magros, os gordos, os altos, os baixos, os de olhos azuis, os de pele escura. Esta riqueza é um patrimônio humano que fez muito bem à espécie. Ser capaz de reter gordura, aliás, garantiu nossa sobrevivência por milênios. Quando os gordos lutam para ser magros, estão brigando contra a biologia. Algo nada fácil de fazer. Muito menos de vencer.
Se engordamos – por herança genética ou outras razões –, não há um só caminho a seguir, uma única estrada para a luz. Pelo menos acredito que não. Emagrecer não é a única alternativa – seja para atender ao padrão de beleza vigente ou para responder ao modelo de saúde atual. A vida é um pouco mais complexa que isso. E há muitas maneiras de medir sua qualidade – assim como o significado de uma existência plena varia de uma pessoa para outra tanto quanto sua disposição genética para esta ou aquela doença.
Se um dia eu engordar muito e tiver problemas de saúde por causa do peso, possivelmente vou optar por continuar comendo minha feijoada semanal. Porque comer o que gosto é uma dimensão essencial da vida para mim – importante o suficiente para não abrir mão dela. Para outra pessoa, privar-se de seus pratos preferidos pode valer a pena em nome de uma vida mais longa ou de vestir um tamanho 38. Cada um tem suas prioridades. É bom lembrarmos que o pensamento dominante atual sobre a saúde não é apenas um produto do avanço da medicina, mas um produto da cultura. E do mercado.
A “gorda” da peça teatral não quer ser magra. Depois de um percurso sofrido na adolescência, ela gosta do que é. E nós, na plateia, também gostamos. Em determinado momento, percebemos que, se ela reduzir o estômago e fizer uma super dieta, algo essencial dela se perderá. Não é apenas uma questão de arrancar gordura do corpo. O que está em jogo é bem mais do que isso.
“Gorda” nos dá a oportunidade de enxergar mais que um acúmulo de células adiposas em outro ser humano. Ao olhar para Helena, a personagem da Fabiana Karla, nos deparamos também com o tamanho extra-large de nosso preconceito. Mesmo quando embalado em nossas melhores intenções.


22/03/2010 - 08:32 - Atualizado em 22/03/2010 - 08:35
do site:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI128156-15230,00-PORCA+GORDA.html 


Há Momentos

Clarice Lispector

Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.

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Almas Perfumadas

Carlos Drummond de Andrade.

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda. De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver. Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo
com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel. Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas,
a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque
suave que sua presença sopra no nosso coração. Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está conosco, juntinho ao nosso lado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Tem gente como você que nem percebe como tem a alma perfumada! 

e que esse perfume é dom de Deus.


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