quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O Império do Meio manda chamar Confúcio

meus profs da Fac. de História se revirariam no túmulo por eu ficar citando o grobo, porque, sacumé, é um dos jornais da situação, das zelites, mas eu adoro as histórias do Império do Meio, e acima de tudo, assim como Platão, Sócrates e Aristóteles fundaram o que conhecemos como humanismo e influenciaram todo o pensamento ocidental, esse artigo é especificamente sobre o ainda tão ignorado pelas bandas de cá pensamento e filosofia oriental, e seu maior professador (and yes, eu escrevi isso certo, sim...), Confúcio.  Não deixa de ser um bom resumo, então, voilá, outra das tantas coisas que eu leio porraí que vem parar aqui.


A China é agora a segunda economia do mundo, superando o Japão. Nesse inacreditável laboratório da modernidade, há muitos perigos à espreita, quer eles venham da ecologia, do sistema político ou do próprio crescimento vertiginoso da economia. Mas a China é hoje um lugar onde acontecem coisas surpreendentes. Como, por exemplo, a ressurreição de Confúcio.
Em artigo publicado no “New Perspectives Quarterly”, Daniel Bell, professor de filosofia política na Universidade Tsinghua, de Beijing, lembra que, há apenas 40 anos, seria suicídio elogiar Confúcio na China maoísta. Ele era o inimigo, a China feudal a ser destruída. Hoje, o Partido Comunista Chinês dá seu aval a um filme sobre Confúcio, em que ele aparece como professor de valores humanos.
Isso não acontece por acaso. Como lembra o professor Bell, essa floração neoconfuciana poderia dar ao governo um novo tipo de legitimidade, partindo-se do princípio de que o comunismo, na China, já não é fonte de inspiração para ninguém. E Confúcio está na raiz da cultura chinesa.
Esse retorno vem-se processando a uma velocidade crescente. Temas confucianos apareceram nas Olimpíadas de 2008, com citações dos “Analectos” no espetáculo de abertura (que, aliás, lembrava a China antiga na sua extraordinária sofisticação). O Instituto Confúcio, patrocinado pelo Governo, manda agora essa mensagem para o exterior, como se fosse uma Alliance Française.
Os velhos quadros do Partido, claro, reagem. Confúcio foi anátema por tantos anos! Mas o tempo está contra eles. Sinal indiscutível de confucionismo: o Partido começa a trabalhar com base na meritocracia. Cada vez mais, os convites recaem sobre pessoas bem educadas (algo de parecido no Brasil?). E não é só o Governo que age assim: é a própria sociedade, acreditando que um treinamento em humanidades melhora o desempenho individual em qualquer plano.
Confúcio, claro, não se pautava por códigos clássicos da democracia ocidental. A sua meritocracia estabelecia a igualdade de oportunidades: dê a todos as mesmas oportunidades. A partir daí, que se imponham os melhores. Assim se fizeram, durante séculos, os concursos que, na China antiga, apontavam os funcionários que ocupariam cargos importantes.
Os neoconfucianos da China de agora estão propondo que se selecionem deputados por mecanismos como concursos bem feitos e abrangentes. Será utópico? Mas Bryan Caplan escreveu um estudo — “O mito do eleitor racional” — que tem como subtítulo “Por que as democracias escolhem maus políticos”. Os nossos critérios são bastante aleatórios, com espaço generoso para a demagogia ou a compra de votos.
Vindo ou não essa reforma política, a China só tem a ganhar com o retorno a Confúcio. Isso daria à febre de conhecimento que ataca os chineses de hoje uma dimensão que é a da própria história do país.
A quase obsessão do conhecimento é uma das marcas registradas do pensamento de Confúcio. Nascido no sexto século a.C., ele foi um professor nato, e tinha a preocupação de estender a todos os benefícios da educação, numa época em que isso era absoluta novidade. Assim, desde cedo, foi reunindo à sua volta grupos de jovens não só fascinados com o mestre, mas desejosos de aproveitar seus conselhos e ensinamentos para subir na vida.
Aos 50 anos, Confúcio foi feito magistrado, e tornou-se ministro da Justiça do seu pequeno principado. Mas, em pouco tempo (como aconteceu com Platão), vê que não consegue mudar a cabeça dos seus príncipes, e resolve viajar para expandir a sua missão pedagógica. Conta-se que voltou para casa aos 68 anos, e teria tido tempo de preparar edições de suas obras — os clássicos confucianos que, durante dois mil anos, moldaram a cultura chinesa.
O humanismo confuciano foi a mais bem-sucedida aventura educativa da História, combinando senso prático com uma abertura para os valores mais altos. Na base do sistema, o conceito de humanidade (jen), a que se somava a piedade filial.
A reverência aos pais (o quarto mandamento da doutrina cristã) corresponde à educação do coração. Ao reconhecer que devemos aos pais o dom da vida, estamos adotando uma saudável e salvadora humildade: você sai de si mesmo, enfraquece o egoísmo, ao enxergar, fora de você, coisas profundas e dignas de respeito. Não estranha que, odiando o próprio pai, Mao Tse-tung odiasse Confúcio.
O ideal do homem confuciano foi assim descrito: afável, mas digno; austero sem ser áspero; polido, mas completamente à vontade. Ficamos lembrando de um Dr Johnson, na Inglaterra do século XVIII. Mas era um ensino que tinha os pés no chão. Perguntaram a Confúcio como fazer para servir os entes espirituais. Resposta: se não somos capazes de servir ao ser humano, como podemos servir aos entes espirituais? (não está muito longe do Evangelho…)
Foi, também, um profundo pensador político. Perguntado sobre o que seria um bom governo, ele respondeu: “Alimentação básica, armamento básico e a confiança do povo.” E se tivéssemos de abandonar uma dessas coisas? Resposta: “Eu abandonaria os armamentos.” Forçado a escolher entre os dois restantes, o que você faria? Resposta: “Eu faria menos questão dos alimentos. Desde tempos imemoriais, nenhum Estado subsiste sem a confiança do povo.” É um caso a pensar.

LUIZ PAULO HORTA é jornalista
O Globo, 22/08/10

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Você sabe o que seus filhos andam fazendo?

a pág que achei esse texto na internet diz que a coluna foi escrita no "O Estado de S.Paulo", mas eu a li originalmente no "O Globo" e é a razão pela qual estou a reproduzindo aqui, por ter ficado impressionada com o discernimento dessa mãe, por compartilhar desse ponto de vista, por ter escrito tantas vezes sobre isso, e por ainda (thanks God) militar pela consciência e pela busca do que é correto, sem ser preconceituosa, ortodoxa, sem perder a ternura, e sem deixar de ser correta e justa. 

agosto de 2010

Meu filho de 15 anos estuda numa escola cara, bem considerada, onde estudam os filhos da nata da sociedade, empresários, artistas, intelectuais da zona sul carioca. Mas acredito que o que vou relatar seja o retrato de algo mais generalizado e que mostra o tipo de (falta de) educação que nossa elite está dando a seus filhos - de impunidade, hedonismo e falta total de valores e limites. E depois ficamos perplexos com brigas mortais, atropelamentos, pegas, acidentes fatais, overdoses, comas alcoólicos e nos perguntamos: como pôde acontecer?
Para poupar o meu filho e não identificar os jovens que são objeto deste artigo, tenho de escrever sob pseudônimo. Tenho a certeza de que alguns pais saberão do que falo por terem experimentado algo similar ao que passei ou por desconfiarem do que fazem seus filhos quando estão em suas festas e "sociais".
Moro numa casa bonita, bem decorada, num lugar aprazível. Apesar da vida profissional exigente, sempre me preocupei em criar meus três filhos mantendo uma presença constante e exigindo deles comportamento exemplar, fundamentado em valores e princípios éticos e morais universais. Não só pelo exemplo, como pela educação que dei e procurei em escolas, eles nunca me decepcionaram. A adolescência, fase em que meu temporão se encontra, não é fácil para ninguém. Além dos hormônios em atividade radical, as obrigações com os estudos e a vida familiar - no caso de meus filhos, diariamente lembradas e exigidas por mim -, entram em conflito com convites e pressões de colegas, levando a alguns comportamentos mais confrontadores, a disputas por liberdade, naturais em quem está crescendo e encaradas por mim com abertura, tolerância, mas sem me esquecer da imposição de claros limites.

Eis o que se passou.

Um ano após experiência traumática em minha casa, quando ofereci uma festa para 150 jovens, algo ainda mais sério aconteceu. O trauma foi pelo fato de que muitos dos convidados chegaram já bêbados, trazendo, escondidas na roupa, garrafas de vodka, causando uma situação que nunca poderia esperar numa festa de 14 anos! Embora os seguranças e garçons tenham confiscado algumas garrafas, outras passaram. E, apesar de terem reprimido, volta e meia o cheiro de maconha subia. Encerrei a festa mais cedo. Saldo: lixo espalhado por todos os cantos, pias e privadas entupidas por vômito, objetos destruídos. Chocante! Foi minha primeira experiência concreta com essa juventude criada sem limites, que tem tornado a vida de profissionais que com ela lidam, como professores e empregados domésticos, um verdadeiro inferno.
Na ocasião, meu filho compreendeu que eu vetasse qualquer nova festa em casa. Um ano depois, no entanto, uma amiga próxima o convenceu (e ele a mim) a oferecer a casa para uma "social" com 15 pessoas. Mesmo convalescente de uma doença séria, aceitei aquele número de colegas para um papo, com som baixo e bom comportamento prometidos. Tive de fazer uma visita emergencial ao médico naquela noite de sexta-feira. Na volta, meu filho estava nervoso: a coisa tinha saído de controle e mais de 40 jovens haviam entrado. Minha irmã e os empregados que me substituíram estavam também assustados. Meu filho explicou-me que a tal "amiga" havia convidado as pessoas sem o seu conhecimento e muitas delas ele nem conhecia. O que eu conversei com ele depois, para que entendesse o tamanho de sua responsabilidade, foi duríssimo, porém muito mais duro foi ele ter de lidar com a imensa decepção de ter sido usado e manipulado pela menina e de ter de romper com várias pessoas que considerava amigas. Mas o que interessa são os fatos: o encontro começou às 21h30 e eu cheguei às 23 horas. Nesse pequeno espaço de tempo, o que esses jovens fizeram em minha casa é inimaginável num jardim zoológico. Após a primeira tentativa fracassada de meu filho, dizendo que a reunião tinha de acabar porque a mãe estava muito doente, resolvi intervir. Disse a mesma coisa em voz alta para todos, pedindo que se fossem. Foi a mesma coisa que nada. Aos poucos fui percebendo o nível de destruição e de lixo. Mesmo recém-saída de uma cirurgia no coração, fui ficando alterada, a bagunça continuava inalterada, até que expulsei todos de casa aos berros. Mas eles não se intimidaram. Continuaram no portão de minha casa, numa atitude de afronta, fazendo uma tremenda algazarra, apesar dos protestos em nome de minha condição extrema de saúde. Isso durou até à 1 hora. Quando tudo parecia mais calmo, e enquanto esperava pela chegada de meu ex-marido e pai de meus filhos, notei que a porta do quarto do meu filho estava trancada. Bati e nada. Chamei-o e começamos a insistir para que quem quer que estivesse lá abrisse a porta. Eu gritei e os jovens se assustaram. A porta do quarto, que ainda estava no escuro, abriu-se. Era a tal "amiga", ainda se ajeitando. O rapaz estava sentado na cama desfeita, calçando os sapatos.
Enquanto meu ex-marido esperava que todos se fossem, do lado de fora da casa eu, meu filho e um amigo, chocados, contabilizávamos o estrago: do salão onde a maior bagunça tinha ocorrido tiramos dois sacos grandes de lixo que estava espalhado por todos os cantos, os móveis e o chão estavam encharcados, pisoteados, imundos. Brinquedos de meu neto foram jogados nos canteiros do jardim. Na sala de estar, um quadro a óleo apresentava duas mossas, além de uma escultura de vidro ter sido quebrada (com um soco proposital, vim a saber).
Apenas dois pais vieram resgatar seus filhos, querendo saber o que havia acontecido para que eles estivessem na rua. Meu ex-marido respondeu: "Pergunte a eles." O que terão eles contado aos pais? E os outros, que saíram sozinhos por aí, pegaram táxis, foram para outros lugares? E você? Sabe o que seu filho anda fazendo por aí? 


Vera Ferreira

domingo, 22 de agosto de 2010

trechos da coluna de hoje do Alberto Godin

É evidente que não apenas o final de uma relação, porque, apesar de sua tristeza enorme, seria suportável.  Ela morre de amor, e só morrem de amor aqueles que vivem uma relação errada.  Os bons amores preparam para a a vida, e não para a morte, assim como os bons prédios, que precisam ser sólidos, independentemente de quem irá habitá-los.  Por esse motivo, acredito que Monica não amava Ronaldo, dependia dele.  Não passou pelo luto de uma mulher que perdeu seu homem, mas pelo desespero de uma criança órfã.  Não deixou de amá-lo, porém com o amor errado.  Por isso a casa caiu, por imaturidade, ciúmes, controle, e impaciência, sentimentos mais adequados para uma criança frustada pelos pais.   Por isso que a relação, da mesma forma que a casa, não tinha futuro.  Não por falta de amor, mas de simetria. As relações são sólidas quando ambos contribuem com cotas semelhantes de trabalho e capital.  A vida não é um bem tranferível, nem negociável, nem delegada a terceiros.  Monica deve entender que a gente só ama realmente quando vive uma existência real que se sustente sobre os próprios pés.  Caso contrário, não é amor, é a viga de um andaime que, quando retirada, precipita um desabamento.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

sintonia de amigas

putz, que transmimento de pensação... eu ia hj mermo te mandar uma msg pedindo noticia... que bacana...
ainda tô em Mamy, o tal do INR finalmente tá subindo, mas ainda não atingiu os parâmetros ideais, mas tô com acompanhamento do angiologista, ele disse que é meio assim, demora a ajustar a dose em algumas pessoas, e "é lógico, rsrs" que comigo ia ser assim....
agora tô fazendo fisio respiratória pra recuperar mais um pouquinho o folêgo que perdi, e assim que tiver legal, volto a trab...
adorei seu chocolate, me fez um bem danado... uma boa endorfina que usei pra fins terapêuticos... ;-))
sua visita deixou um perfume de muita alegria aqui tb, foi sem ser planejada, por isso mesmo mais gostosa...
espero que tb tenha te deixado abastecida pras lutas do dia a dia aí, minha querida...
bjks em todos, acompanhe as fotos que vou postando, é uma das formas que a gente tem de ficar juntinha...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O LOUCO - arcano 22 no tarot de Marselha ou a carta zero, o princípio e o fim





O Princípio da Coragem. Estado de Destemor. Aquele Que Anda sem Medo.

A capacidade de dar à luz a novas formas a partir de uma posição de coragem, admiração e antecipação. Representa a necessidade de abandono de velhos caminhos e o começo de algo novo e não testado. Qualquer coisa pode acontecer, portanto, prenda a respiração e prepare-se para o pulo na direção o novo! Muitas vezes indica momentos de decisão ou grande mudança e oportunidades ocultas em situações aparentemente difíceis. O fator misterioso e libertador que sai da norma.
Representa a Criança dentro de nós. A expressão mais próxima e mais natural do universo. O começo sem começo, a fonte sem fonte, o fim sem fim, todas as coisas, e nenhuma coisa. Como o louco, dependente e com compreensão limitada de seu propósito, tendo fé de que o universo tomará conta de você.
Com o rosto voltado para frente em direção ao futuro, o louco caminha decidido, mantendo uma expressão tranquila e inocente; revela-se um personagem que rompeu com todas as suas relações anteriores: familiares, sociais e afetivas. Em um aspecto, a imagem de um espírito totalmente livre. Nem homem nem mulher, mas ambos em um. Ter personalidade própria porque você acredita no que está fazendo. Entre as cores, o amarelo se destaca, aparecendo no estranho gorro (chapéu de bobo), no cinturão, indicando que não lhe faltam abstração e espiritualidade. Sobre o ombro direito, ele carrega uma vara curta (símbolo do desejo e da força de vontade), e uma sacola levando o essencial ou o potencial para se tornar o mago ou chegar ao mundo. Andando com a força do amor e das leis do universo. Talvez por não ter número, significa liberdade, ele olha para o infinito e com isso, mostra que a vida é muito mais do que vemos e a felicidade pode estar além das aparências da vida quotidiana. Isso quer dizer que muitas vezes nos preocupamos com coisas superficiais e não percebemos o que realmente é importante.
O louco é a personificação da sorte, como a sorte, é um componente imponderável. Também é chamado de: O Buscador Espiritual. Êxtase e Experiência Máxima, incitando fé em si mesmo e na vida. Completando todo movimento pela Fé. Na cegueira mais profunda está a visão mais perspicaz. A verdadeira solução para o mistério da vida eterna depende da compreensão que o conhecimento de muitos está contido em um, e o conhecimento de um está contido em muitos. Experimentar a fé e a confiança absoluta no universo. Nenhuma sensação de preocupação ou medo e nenhuma consciência que preocupe ou amedronte poderia mesmo existir. Um sentimento de proteção e uma sensação de que tudo funcionará; estar aberto a tudo que o futuro oferece.
Simboliza o desligamento da matéria, uma história a ser vivida, continuar vivendo a vida sabendo que algo surpreendente poderá acontecer e aceitar esse fato despreocupadamente. O acaso irá resolver tudo. Geralmente o conselho é seguir a espontaneidade e estar aberto para tudo aquilo que a vida tem a lhe oferecer. Deve-se aceitar que você é um aprendiz da vida.

O Louco é a soma total de todas as outras cartas. Deus é todas as coisas sobre todas as coisas.



pequeno texto construído sobre vários outros pesquisados pela infindáveis páginas do google...

sábado, 7 de agosto de 2010

A felicidade é uma obrigação de mercado

Arnaldo Jabor


Desculpem a autorreferência, que é vitupério - mas estou terminando meu filme, "A Suprema Felicidade", que me tomou três anos, entre roteiro, preparação e filmagem. Agora, sairá a primeira cópia.
Amigos me perguntam: "Que é essa tal de ‘A Suprema Felicidade’? Onde está a felicidade?".
Eu penso: que felicidade? A de ontem ou a de hoje?
Antigamente, a felicidade era uma missão a ser cumprida, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros. A felicidade demandava "sacrifício". Olhando os retratos antigos, vemos que a felicidade masculina estava ligada à ideia de "dignidade", vitória de um projeto de poder. Vemos os barbudos do século XIX de nariz empinado, perfis de medalha, tirânicos sobre a mulher e os filhos, ocupados em realizar a "felicidade" da família. Mas, quando eu era criança, via em meus parentes, em minha casa, que a tal felicidade era cortada por uma certa tristeza, quase desejada. Já tinha começado o desgaste das famílias nucleares pelo ritmo da modernidade.
Hoje, a felicidade é uma obrigação de mercado. Ser deprimido não é mais "comercial". A infelicidade de hoje é dissimulada pela alegria obrigatória. É impossível ser feliz como nos anúncios de margarina, é impossível ser sexy como nos comerciais de cerveja. Essa "felicidade" infantil da mídia se dá num mundo cheio de tragédias sem solução, como uma "Disneylândia" cercada de homens-bomba. A felicidade hoje é "não" ver.
Felicidade é uma lista de negações. Não ter câncer, não ler jornal, não sofrer pelas desgraças, não olhar os menininhos-malabaristas no sinal, não ter coração. O mundo está tão sujo e terrível que a proposta que se esconde sob a ideia de felicidade é ser um clone de si mesmo, um andróide sem sentimentos.
O mercado demanda uma felicidade dinâmica e incessante, cada vez mais confundida com consumo, como uma "fastfood" da alma. O mundo veloz da internet, do celular, do mercado financeiro nos obriga a uma gincana contra a morte ou a velhice, melhor dizendo, contra a obsolescência do produto ou a corrosão dos materiais.
A felicidade é ter bom funcionamento.
Há décadas, o precursor McLuhan falou que os meios de comunicação são extensões de nossos braços, olhos e ouvidos. Hoje, nós é que somos extensões das coisas. Fulano é a extensão de um banco. Sicrano comporta-se como um celular, beltrana rebola feito um liquidificador.
Assim como a mulher deseja ser um objeto de consumo, como um "avião", uma máquina peituda, bunduda, o homem também quer ser uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente e, mais que tudo, um grande pênis voador.
A ideia de felicidade é ser desejado. Felicidade é ser consumido, é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo.
Não consigo me enquadrar nos rituais de prazer que vejo nas revistas. Posso ter uma crise de depressão em meio a uma orgia, não tenho o dom da gargalhada infinita, posso brochar no auge de uma bacanal. Fui educado por jesuítas, para quem o sorriso era quase um pecado; a gargalhada, um insulto.
Bem - dirão vocês -, resta-nos o amor... Mas onde anda hoje em dia essa pulsão chamada "amor"?
O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar.
O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de "olhos de ressaca", nem o formicida com guaraná.
Mas, mesmo assim, continuamos ansiando por uma felicidade impalpável.
Uma das marcas do século XXI é o fim da crença na plenitude, seja no sexo, no amor e na política.
Se isso é um bem ou um mal, não sei. Mas é inevitável. Temos de parar de sofrer romanticamente porque definhou o antigo amor... No entanto, continuamos - amantes ou filósofos - a sonhar como uma volta ao passado que julgávamos que seria harmônico. Temos a nostalgia lírica por alguma coisa que pode voltar atrás. Não volta. Nada volta atrás.
Sem a promessa de eternidade, tudo vira uma aventura.
Em vez da felicidade, temos o gozo rápido do sexo ou o longo sofrimento gozoso do amor. Só restaram as fortes emoções, a deliciosa dor, as lágrimas, motéis, perdas, retornos, desertos, luzes brilhantes ou mortiças, a chuva, o sol, o nada.
O amor hoje é o cultivo da "intensidade" contra a "eternidade". O amor, para ser eterno hoje em dia, paga o preço de ficar irrealizado. A droga não pode parar de fazer efeito e, para isso, a "prise" não pode passar.
Aí, a dor vem como prazer, a saudade, como excitação, a parte, como o todo, o instante, como eterno. E, atenção, não falo de "masoquismo"; falo do espírito do tempo.
Há que perder esperanças antigas e talvez celebrar um sonho mais efêmero.
É o fim do "happy end", pois, na verdade, tudo acaba mal na vida. Estamos diante do fim da insuportável felicidade obrigatória. Em tudo.
Não adianta lamentar a impossibilidade do amor.
Cada vez mais o parcial, o fortuito é gozoso. Só o parcial nos excita. Temos de parar de sofrer por uma plenitude que nunca alcançamos.
Hoje, há que assumir a incompletude como única possibilidade humana. E achar isso bom. E gozar com isso.
Não há mais "todo"; só partes. O verdadeiro amor total está ficando impossível, como as narrativas romanescas. Não se chega a lugar nenhum porque não há aonde chegar.
A felicidade não é sair do mundo, como privilegiados seres, como estrelas de cinema, mas é entrar em contato com a trágica substância de tudo, com o não-sentido, das galáxias até o orgasmo.
Usamos uma máscara sorridente, um disfarce para nos proteger desse abismo.
Mas, esse abismo é também nossa salvação. A aceitação do incompleto é um chamado à vida.
Temos de ser felizes sem esperança.
E este artigo não é pessimista...


publicado em diversos jornais: O Globo, O Estado de SP, entre outros....