quinta-feira, 28 de abril de 2011



Era uma vez uma ilha, onde moravam os sentimentos: a Alegria, a Tristeza, a Vaidade, a Sabedoria, o Amor e outros.

Um dia avisaram para os moradores que ela ia ser inundada. 
Preocupado, o Amor cuidou para que todos os sentimentos se salvassem, ele então saiu avisando:

Fujam todos, a ilha vai ser inundada.

Todos correram e pegaram seu barquinho, para irem a um morro bem alto. Só o Amor não se apressou, pois queria ficar um pouco mais,  se despedindo da sua querida ilha.

Distraiu-se, e quando percebeu viu que já estava quase a se afogar, e correu para pedir ajuda.

Estava passando a riqueza e ele disse:

- Riqueza, leve-me com você.

Ela respondeu:

- Não posso, meu barco já está cheio de ouro e prata e você não vai caber.

Passou então a vaidade e ele pediu:

- Oh! Vaidade, leve-me com você.

- Não posso, você está cheio de lama e vai sujar o meu barco.

Logo atrás vinha a Tristeza.

- Tristeza, posso ir com você?

— Ah! Amor, estou tão abalada que prefiro ir sozinha.

Passou a Alegria, mas estava tão envolvida em si mesma que nem ouviu o Amor chamar por ela. 
 
Já desesperado, achando que ia ficar só, o Amor começou a chorar.

Então passou um barquinho, onde estava um velhinho.

- Sobe, Amor que eu te levo.

O Amor ficou tão radiante de felicidade que esqueceu de perguntar o nome do velhinho.

Chegando no morro alto onde estavam os sentimentos, ele perguntou à Sabedoria:

- Sabedoria, quem era o velhinho que me trouxe aqui?

Ela respondeu:

- O Tempo.

- O Tempo? Mas, por que só o Tempo me trouxe aqui?

- Porque só o Tempo é capaz de ajudar e entender um grande Amor.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A Arca de Noé (autor desconhecido)

Tudo o que eu preciso saber sobre a vida, eu aprendi com a arca de Noé.

1º Não perca o barco;

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2° Lembre -se de que estamos todos no mesmo barco;
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3° Planeje-se com antecedência:  Não estava chovendo quando Noé construiu a arca.
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4° Mantenha -se em forma.  Quando você tiver 600 anos de idade, alguém pode lhe pedir para fazer algo realmente grande.
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5° Não ouça os críticos, apenas continue a fazer o trabalho que precisa ser feito.
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6° Construa seu futuro em terreno alto.
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7° Por razões de segurança, viaje aos pares.
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8° A velocidade nem sempre é uma vantagem. Os guepardos estavam a bordo da arca, mas as tartarugas também.
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9° Quando estiver estressado, procure boiar.
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10° Lembre-se que a arca foi construída por amadores e o Titanic por profissionais.





ouça aqui o ator Juca de Oliveira declamar esta crônica
http://www.bandnewsfm.com.br/audio/JUCA_0102.mp3

Fonte: Programa Devaneio - Rádio Band News Fm
(http://bandnewsfm.band.com.br/colunista.asp?ID=146)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

ENTENDENDO AS MULHERES

pra rir um pouquinho




Leia este resumo de um estudo antropológico-temperamental realizado pela Universidade de Stanford, sobre comportamento de diversos tipos de mulheres em diversas ocasiões.

OCASIÃO MULHER FINA MULHER COMUM MULHER VULGAR MULHER DEPRAVADA
NO TOILETTE (nada diz) Essa calcinha me incomoda. Eu odeio calcinha enfiada no rego. Eu tenho ódio de calcinha enfiada no cú.
APÓS UM JANTAR O jantar estava divino, parabéns. Estou satisfeita. Tô cheia. Comi até o cu fazer bico.
NO CHURRASCO Está ótima essa lingüiça. Muito boa essa lingüiça. Noooosa que lingüiça grande! Tô comendo a lingüiça do churrasqueiro.
VENDO UM AMIGO CHUPANDO SORVETE Posso experimentar!? Me dê um pedaço!? Posso dar uma chupada? Deixa eu chupar? Não vou morder, garanto.
COMO SE VESTEM de acordo com o evento. sempre da mesma forma, jeans, camiseta e tênis em todos os eventos. micro saia, bermuda agarrada, em todos os eventos. frente única no churrasco, micro saia mostrando a calcinha à noite.
BEBIDAS champanhe, uísque e vinho, dependendo da ocasião. batida. cerveja. cachaça, conhaque, cerveja, vodca, licor, água de bateria, etc
PROCURANDO O AMIGO PEDRO NA FESTA Você viu o Pedro? Cadê o Pedro? Pedroooooooooooo!!! Caralho, onde o viado do Pedro se meteu, cacete!
SAINDO DA MESA PARA IR AO BANHEIRO Com licença, vou retocar a maquiagem Vou a toilette. Vou tirar água do joelho. (risos) Vou fazer um download, soltar um barro, matricular o Pelé na natação (gargalhada)
VENDO UM HOMEM INTERESSANTE Muito simpático! Que homem liiiindo! Dessa fruta eu chupava até o caroço! Eu deixava ele fazer barba, cabelo e bigode.
QUANTO UM INDESEJÁVEL LHE FALA UMA GRACINHA (ignora) Tem gente que não tem noção. Vai te catar o meu! Não se enxerga não!? Vai tomar no cú, viado, corno.
O QUE ROLA NO PRIMEIRO ENCONTRO só um beijo de despedida. muitos beijos. beijos e carícias (AMASSO) trepa e dá a bunda dizendo que era virgem atrás.
OUVINDO JAZZ Liiindo! Adoro qualquer tipo de música! Que porra de música é essa? Tira essa merda aí, coloca um pagode, cacete!
DIANTE DA BROCHADA DO PARCEIRO Meu amor, isso acontece. Fique tranqüilo. O problema é comigo? Você já trepou hoje com alguma vadia? Caralho, quer que eu faça fio terra em você?
ASSISTINDO BALLET Bravo!!! Lindo!!! Perdi meu tempo, deixei de ver as videocassetadas. porra é essa? Ridículo, isso é coisa de viado!
PRIMEIRO CONTATO NO MSN Boa Noite! Oiiiiiiiiiiiiiiiii Falae gato. Peraê, vou ligar a webcam.
REFERINDO-SE AO ORGÃO GENITAL DO PARCEIRO Pênis Pinto Pau Caralho
DECLARAÇÃO DE AMOR Eu te amo! Você é o homem da minha vida! Você é a tampa da minha panela! Só consigo gozar com você, meu nêgo!

terça-feira, 19 de abril de 2011

CÂNTICO DA ESPERANÇA

Rabindranath Tagore,
in "O Coração da Primavera"
tradução de Manuel Simões

Não peça eu nunca para me ver livre de perigos,
mas coragem para enfrentá-los.

Não queira eu que se apaguem as minhas dores,
mas que saiba dominá-las no meu coração.

Não procure eu amigos no campo da batalha da vida,
mas ter forças dentro de mim.

Não deseje eu ansiosamente ser salvo,
mas ter esperança para conquistar pacientemente a minha liberdade.

Não seja eu tão cobarde, Senhor, que deseje a tua misericórdia no meu triunfo,
mas apertar a tua mão no meu fracasso!



eu já publiquei ano passado, mas é tão bonito que vale a pena um repeteco...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Nenhuma escola é ilha

por Ana Flávia Ramos

Tragédias como a ocorrida na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, sempre provocam grande comoção pública, indignação e, obviamente, tristeza pelas muitas crianças perdidas no atentado. Além desses sentimentos, tais fatos provocam também um grande tsunami de “especialistas”, mobilizados em velocidade estonteante pela mídia, para dar laudos e explicações quase matemáticas sobre as motivações do assassino. O atirador Wellington Menezes de Oliveira, segundo as informações desses “cientistas da tragédia” (que variam de “criminólogos” a policiais militares), era tímido, solitário, filho adotivo, “usuário” constante do computador (a “droga” dos tempos modernos segundo os “analistas”), ateu, islâmico, fanático, fundamentalista, portador do vírus da AIDS e, provavelmente, vítima de bullying na escola.

Certamente não há como contestar que todo ato humano, e por isso histórico, se explica a partir da análise de uma cadeia de relações complexas. Como digo aos alunos, nada tem resposta simples e direta. Entretanto, o tipo de questão levantada para entender o terrível ato de Wellington Menezes de Oliveira diz muito mais sobre nós mesmos do que sobre ele. Todos os nossos preconceitos estão embutidos nessas respostas. De fato, não sabemos, e talvez nunca saibamos, por que exatamente ele atirou contra cada uma das crianças (em sua maioria meninas), assim como não sabemos sobre as reais motivações dos muitos atentados como esse, ocorridos em países como Estados Unidos e Dinamarca. Mesmo depois de tudo o que se discutiu, ainda é difícil, por exemplo, explicar Columbine (abril de 1999).

Uma das coisas que mais tem me chamado a atenção é a recorrência da explicação que elege o bullying escolar como um dos fatores que podem desencadear esse tipo de ato violento. A explicação não é nova, Columbine é prova disso. Há mais de dez anos atrás, dois meninos entram em uma escola, de capa preta (quase como em um filme hollywoodiano) e atiram em seus colegas. “Especialistas”, gringos agora, se apressam em dizer as razões: divórcio nas famílias, videogames, filmes violentos, Marilyn Manson, porte de armas facilitado e, como não poderia faltar, bullying na escola.

É inegável que o bullying é uma realidade. É indiscutível que ele é extremamente nocivo e doloroso aos alunos que sofrem com ele. É evidente que há urgência em iniciar um debate para saber como sanar o problema. Mas a pergunta que fica é: o que de fato é o bullying? Ele é um sinal (histórico) de que? E ainda mais: ele é um problema restrito à escola? Por que os alunos são tão cruéis com seus colegas?

Michael Moore, cineasta norte-americano explosivo, tentou dar a sua interpretação para o atentado de Columbine com o documentário Bowling for Columbine (2002). Moore, ao invés de repetir os clichês da mídia, foi implacável na destruição do senso comum das justificativas moralistas para o evento. Item por item, desde a desagregação da família, Manson, até a polêmica questão do porte de armas foram desconstruídos em sua narrativa. O foco centrou-se em respostas muito mais interessantes, localizadas não nos dois jovens assassinos, mas na sociedade americana. O imperialismo militarista dos Estados Unidos, a ação violenta em outros países, a política do medo (incentivada pelo Estado e pela grande mídia), que reforça e superestima dados sobre a violência urbana, sobre o fim de mundo, e, principalmente, a intolerância com todo tipo de diferença. Racismo, preconceito, homofobia, conflitos religiosos e luta de classes são só alguns dos ingredientes do caldeirão de ódios em que se transformou a sociedade americana.

Como crescer no Colorado, na “livre” América, e não ser conspurcado por esses valores? Como não idolatrar armas e achar que elas são um meio prático de solucionar problemas? Como viver imune a uma sociedade individualista, capitalista, que divide os seus cidadãos o tempo todo em “winners” e “losers”? E mais ainda, como não se deixar levar por uma sociedade que até hoje não consegue lidar com a diferença entre brancos e negros? Uma sociedade que até os anos 1960 não oferecia direitos, oportunidades e tratamentos iguais a todos os seus cidadãos, tem o que para oferecer ao pensamento dos estudantes? Os americanos, ainda hoje, estão preparados para o respeito à diferença? A relação que eles mantêm com os muçulmanos diz muito. Definitivamente a liberdade e o respeito ainda não se transformaram em uma unanimidade por lá.

É claro que mesmo Moore não chega a dar respostas definitivas sobre a questão. E mais ainda: é evidente que ele considera a forma pela qual a instituição ESCOLA trata seus alunos (hierarquias e classificações hostis), ignorando muitas vezes o bullying, tem sua responsabilidade no massacre. Assim como é nítido que a venda facilitada de armas e munição são coadjuvantes importantes da história. Mas Moore foi corajoso ao lançar em cada um dos americanos a responsabilidade da tragédia e discutir aquilo que ninguém teve coragem (ou má fé) de fazer. Nem a mídia, nem o governo, nem a sociedade. É preciso encarar os “monstros”, com franqueza, e não apenas “satanizar” o ambiente escolar, para dar algum significado para esses eventos.

Ontem no Terra Magazine o antropólogo Roberto Albergaria afirmou que a mídia e a sociedade brasileira desejavam o impossível: explicações para um “desvario sem significado”. Segundo ele, o que Wellington Menezes praticou foi o que os estudos franceses chamam de “violência pós-moderna”, caracterizada por uma ruptura irracional, sem explicação. De fato, talvez tenha sido um “ato irracional”, fruto de um momento de insanidade. Mas acredito que esse tipo de resposta não nos ajuda a resolver coisas importantes sobre nós mesmos. A tragédia no Realengo, a meu ver, pode e deve ser início de um debate importante sobre a nossa sociedade.

A tragédia na escola do Rio de Janeiro acontece num contexto bastante relevante. Em outubro de 2009, Geyse Arruda foi hostilizada por seus colegas de faculdade porque, segundo eles, ela não sabia se vestir de modo “apropriado” para freqüentar as aulas. Em junho de 2010, Bruno, goleiro do Flamengo, é suspeito de matar a ex-namorada, Elisa Samudio, por não querer pagar pensão ao filho. Suposta garota de programa, Samudio foi hostilizada na opinião de muitos brasileiros. Após rompimento, Mizael Bispo, inconformado, mata sua ex-namorada Mércia Nakashima em maio de 2010. Em novembro de 2010, grupos de jovens agridem homossexuais na Avenida Paulista, enquanto Mayara Petruso incita o assassinato de nordestinos pelo Twitter. E mais recentemente, em cadeia nacional, Jair Bolsonaro faz discurso de ódio contra homossexuais e negros. Tudo isso instigado e complementado pelo discurso intolerante, preconceituoso, conservador e mentiroso do candidato José Serra à presidência da República. A mídia? Estava ao lado de Serra, corroborando em suas artimanhas, reforçando preconceitos contra Dilma, contra as mulheres e contra os tantos mais “adversários” do candidato tucano.

Wellington matou mais meninas na escola carioca. Se, por um lado, jamais saberemos as reais razões que o fizeram agir dessa forma, por outro sabemos o quanto a sociedade brasileira tem sido, no mínimo, indulgente com atos de intolerância, machismo, ódio e preconceito contra mulheres, negros e homossexuais. Se não há uma ligação direta entre esses diversos acontecimentos, eles pelo menos nos fazem pensar o quanto vale a vida de alguém em um contexto de tantos ódios? Quantas mulheres morrerão hoje vítimas do machismo? Quantos gays sofreram violência física? Quantos negros sentirão declaradamente o ódio racial que impregna o nosso país? O que é o bullying se não o prolongamento para a escola desse tipo de mentalidade? Quantas pessoas apoiaram as declarações de ódio de Bolsonaro via Facebook? Aquilo que acontece no ambiente escolar nada mais é do que um microcosmo do que a sociedade elege como valores primordiais. E o Brasil, que por tanto tempo negou a “pecha” de racista e preconceituoso, vê sua máscara cair.

Não adianta culpar o bullying, achando que ele é um problema de jovens, um problema das escolas. Não adiante grades e detectores de metal nas entradas ou a proibição da venda de armas. Como professora, sei que o que os alunos reproduzem em sala nada mais é do que ouviram da boca de seus pais ou na mídia. Não adianta pedir paz e tolerância no colégio enquanto a mídia e a sociedade fazem outra coisa. Na escola, o problema do bullying é tratado como algo independente da realidade política, econômica e social do país. Mas dá pra separar tudo isso? Dá pra colocar a questão só em “valores” dos adolescentes, da influência do malvado do computador ou dos videogames? Ou é suficiente chamar o ato de Wellington de uma “violência pós-moderna” sem explicação? Das muitas agressões cotidianas, a da escola do Realengo é apenas uma demonstração da potencialidade de nossos ódios. A única coisa que me pergunto é: teremos a coragem de fazer esse tipo de discussão?

Ana Flávia C. Ramos é professora, historiadora pela Unicamp
em http://tabnarede.wordpress.com/  (ótimo site, adorei)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mensagem da Monja Coen sobre o Japão de agora





Uma mensagem especial da Monja Coen, tão especial quanto ela.


Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão, me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou do povo Japonês: kokoro.

Kokoro ou Shin significa coração-mente-essência.

Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si mesmas, de suas necessidades pessoais e se colocar à serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada?

Outra palavra é gaman: aguentar, suportar.

Educação para ser capaz de suportar dificuldades e superá-las.

Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo de duas maneiras. A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima.

A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas. Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros.
Nos abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém queria tirar vantagem sobre ninguém. Compartilhavam cobertas, alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens. Cada qual se mantinha em sua área. As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado. Não furaram as filas para assistência médica – quantas pessoas necessitando de remédios perdidos – mas esperaram sua vez também para receber água, usar o telefone, receber atenção médica, alimentos, roupas e escalda pés singelos, com pouquíssima água. Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das perdas de verduras, leite, da morte. Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques. Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que recebiam.

Ensinamento de Buda, hoje enraizado na cultura e chamado de kansha no kokoro: coração de gratidão.

Sumimasen é outra palavra chave. Desculpe, sinto muito, com licença. 

Por vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver. Desculpe causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisar falar com você, ou tocar à sua porta. Desculpe pela minha dor, pelo minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos causando ao mundo. Sumimasem.

Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus sentimentos, necessidades. Quando cuidamos da vida como um todo, somos cuidadas e respeitadas.

O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de mim, perderei. Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto.
Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico. As vítimas encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de resgate e delicadamente transportadas – quer para as tendas do exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias, helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais.

Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda população pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que “somos um só povo e um só país”.
Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi telefonemas. Diziam-me do exagero das notícias internacionais, da confiança nas soluções que seriam encontradas e todos me pediram que não cancelasse nossa viagem em Julho próximo.

Aprendemos com essa tragédia o que Buda ensinou há dois mil e quinhentos anos: a vida é transitória, nada é seguro neste mundo, tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente.

Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo está interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de salvar a Terra. O planeta tem seu próprio movimento e vida. Estamos na superfície, na casquinha mais fina. Os movimentos das placas tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades, vinganças ou castigos. O que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos. E isso já é uma tarefa e tanto.

Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à reconstrução.

Estrada em Ibaragi, totalmente reconstruida em apenas 5 dias. Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março.

Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar e respeitar.

Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram. E só posso dizer : todas. Todas eram e são pessoas de meu conhecimento. Com elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência. Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas.

Mãos em prece (gassho)
Monja Coen


Missionária oficial da tradição Soto Shu – Zen Budismo com sede no Japão,  é a Primaz Fundadora da Comunidade Zen Budista, criada em 2001, com sede em Pacaembu. Iniciou seus estudos budistas no Zen Center of Los Angeles – ZCLA. Foi ordenada monja em 1983, mesmo ano em que foi para o Japão aonde permaneceu por 12 anos sendo oito dos primeiros anos no Convento Zen Budista de Nagoia, Aichi Senmon Nisodo e Tokubetsu Nisodo.
Retornou ao Brasil em 1995, e liderou as atividades no Templo Busshinji, bairro da Liberdade, em São Paulo. Foi, em 1997, a primeira mulher e primeira pessoa de origem não japonesa a assumir a Presidência da Federação das Seitas Budistas do Brasil, por um ano. Participa de encontros educacionais, inter religiosos e promove a Caminhada Zen, em parques públicos, com o objetivo de divulgação do princípio da não violência e a criação de culturas de paz, justiça, cura da Terra e de todos os seres vivos.
Confira no site da Monja Coen as suas atividades.

domingo, 10 de abril de 2011

Boa Demais Para Você

Eu não posso crer que uma burra assuste menos.
Eu duvido que uma feinha seja melhor porque causa menos dor de cabeça

Tati Bernardi
18h52
01/03/2011


Fala, eu aguento. Vocês foram embora apenas porque acabou o tesão, porque a assistente nova que apareceu prometia um sexo mais selvagem. Ou porque, uma vez tendo conseguido tudo de mim, vocês, caçadores, precisavam de uma nova presa. Ou porque é assim mesmo. As coisas começam e acabam. Tudo bem que ando meio sem “meio” nessa infinidade de começos e fins. Tudo é muito rápido. E daí vêm minhas amigas e analistas e livros e filmes e peças de teatro e tias e mães de amigas: eles têm medo de você. Porque você ganha bem, porque você tem opinião, porque você namorou muitos caras, porque você é crítica, porque você é inteligente. Ah vá. E Papai Noel e Coelhinho da Páscoa também foram embora porque nós, mulheres modernas, assustamos eles. E que mulher em pleno 2011 não é moderna? Que papo mais besta e mentiroso. Espia aí da sua janela. Por acaso você vê alguma virgem andando de anágua na rua, acompanhada de um homem para não ficar mal-falada? Por favor, me ajude a parar a disseminação desenfreada dessa falácia. Fale pra sua mulher “tô indo embora porque você tem bafo”. Ou ainda “tô indo embora porque odeio o som que você faz pra limpar a garganta de manhã”. Pode ser bem sincero mesmo, “tô indo embora porque preciso comer alguém mais magra”. Pode doer na hora, mas é melhor do que essa multidão de mulheres tagarelando pelas ruas com seus saltos e diplomas e agendas e pressas: coitado, sou muito boa pra ele, ele ficou com medo de mim!

Você que nasceu homem, você que nasceu esse ser completamente diferente e estranho pra mim, mas que, ainda assim, é algo sem o qual minha vida fica triste e chata, faça um favor: me escreva e seja muito honesto. Prometo jamais divulgar seu nome. Leio e deleto tudo. Mas, se você tem piedade do sexo oposto, por favor, só por esta vez, me diga honestamente: existe MESMO esse lance de ter medo de mulher bacanuda? Porque esse papo, que tanto ouvimos em psicanalistas, programas de auditório, cartomantes e revistas modernas da mulher suicida… Não, não pode ser. Eu não posso crer que uma burra assuste menos. Eu duvido que uma feinha seja melhor porque causa menos dor de
cabeça. Que uma sonsa muda e sem opinião seja o símbolo da paz que vocês tanto buscam. Pra mim é inaceitável que uma mulher vivida possa colocar a segurança de vocês em risco.

Me digam que é mentira, por favor. Não é possível que sonhamos a vida inteira com seres tão fracos para construirmos nossas vidas. E que, enquanto lemos e aprendemos e malhamos e ganhamos dinheiro e curtimos a vida para nos tornar mulheres mais interessantes e vividas e gostosas, só estamos nos distanciando mais de vocês. E que a prima lobotomizada do interior de Caxote Mirim do Cupuaçu mexe com vocês de um jeito inexplicável. Ela é doce e meiga. Ela nunca levanta a voz ou discorda. Ela não te cobra e sempre te recebe com um sorriso nos lábios. Ela te esperou a vida inteira. Ela não faz mal a uma mosca. Doce Maria das Graças, mulher que aturou seu avô, morreu sem nunca dar um murro na mesa do restaurante e nunca mais vai reencarnar, para o deleite dos seus oprimidos sonhos arcaicos.

Tati Bernardi é escritora e roteirista.
para escrever para ela: tatibe@uol.com.br


do site:
http://revistaalfa.abril.com.br/sexo/sexo-relacionamento/boa-demais-para-voce/

terça-feira, 5 de abril de 2011

Gordo é o novo preto

Gordo é o novo preto


Quando Felipe França aqui desembarcou com 3 medalhas, uma de ouro e duas de bronze,  vindo do último campeonato mundial de piscinas curtas, o que se comentava era seu peso. Com 100 KG e 14% de percentual de gordura ele era mais do que um grande atleta:  era a prova de que condicionamento e forma física não são necessariamente a mesma coisa.
Tenho os mesmos 14% de percentual de gordura. Ao longo dos anos fui aumentando de peso sem aumentar o percentual. A barriga cresce e é lá que guardo a perigosa gordura visceral. Estou sempre lidando com esta questão médica, e chata, mas tenho me mantido em forma e aumentado o peso magro, ou seja, adquirido músculos com muito exercício. Portanto, posso dizer que estou bem condicionado. Dito isto, vamos ao real incômodo da minha condição. Chega de me justificar. Detesto fazer isto.
Ao longo dos anos ouvi, e ainda ouço, inúmeros “nãos” profissionais com a justificativa de que minha aparência não é boa, preciso perder peso, pareço decadente etc. Passei 18 anos sem gravar um CD com minhas composições, e percebi que ninguém se interessava em sequer ouvir as novas canções. Embora eu já tivesse emplacado várias no nosso cancioneiro, parecia que estava claro para todo mundo que a minha barriga tinha substituído o meu talento.  Curiosamente o público nunca acreditou nisso e continuou a me tratar com carinho. Durante este tempo todo! Coleciono mais sucessos que fracassos  em tudo o que fiz no teatro, shows, TV, rádio ou em textos publicados na imprensa ou divulgados na internet. Considero ter conseguido vencer a resistência, mas não posso negar que ela exista e é muito forte. “Nadando contra a corrente, só pra exercitar”...
Voltando ao início: se um atleta pode ser medalha de ouro estando “acima do peso” seria correto dizer que existe um “peso” ideal? Nas olimpíadas os atletas têm os mais variados tipos físicos e, sim, alguns são “gordos”. Mas vamos olhar por outro ângulo.
Quando a adolescente lourinha matou os pais a pauladas em São Paulo, o comentário mais ouvido era “Como foi que uma moça tão bonita fez uma coisa dessas?” Como se gente bonita não matasse ninguém. Claro, os comerciais de TV só mostram rostos perfeitos, e todo mundo entende que são pessoas perfeitas. Será? Quando vi pela TV os bandidos fugindo da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão não me lembro de ter visto um bando de gordinhos. Eram até bem atléticos e “magros”.
O título deste artigo se refere a um movimento americano, “Fat is the new black”. Repare que a tradução não é “o novo negro” mas sim “o novo preto”. É uma expressão do mundo da moda: o novo preto é aquilo que parece ser a óbvia boa escolha; o que não tem erro: o pretinho básico. Ainda que seja óbvia a sugestão de que gordos são, para muitos, “the nigger of the world”, o que o tal manifesto combate ferozmente.   
A maior parte da população do mundo está acima do “peso”, se é que existe um “peso”, e todos vamos ter que nos adaptar a esta realidade. Todos são ou vão ser gordos, ou gostar de um gordo, ou admirar um gordo, ou ter prazer com um, seja em que nível for. Conviva com esta ideia, amigo ou amiga. Não são os bonitos os que vão lhe dar prazer mas aqueles que querem lhe dar prazer e vão se esforçar para que você se dê conta disto. E, acredite, portadores de deficiências, magrinhos, carecas, altos, baixos, estão todos no páreo. O desejo transcende a forma. Beleza é uma coisa, gostosura é outra.
Neste manifesto (fat is the new black) americano há uma série de perguntas do tipo: você diria a alguém “Olha, você até tem um rostinho bonito, só precisa engordar uns quilinhos. E você sabe muito bem como, não é? É só ter um pouco de vergonha na cara”? Não diria. Por que, então, dizer o contrário parece razoável? E nem chamaria o Keith Richards ou a Amy Winehouse de decadentes porque eles andam muito magros.  Talento, voz, criatividade, profissionalismo, nada disso tem a ver com peso ou aparência física. Será difícil entender isto?
Há um grande, um enorme preconceito. Este sim está muito acima do peso. E parece que o preconceituoso professa sua maledicência com a generosidade dos santos: é para o seu bem! Uma ova! O preconceito contra os gordos é o único tolerado hoje em dia. Ou contra os feios, vá lá! Está claro que, ao contrário do que a arte, através dos séculos estabeleceu,  a partir de 1968 (com Twiggy) ser magricela é que é o tal. As formas arredondadas foram para o brejo depois de 25 vigorosos e rotundos milênios alimentando desejos e fantasias da alma humana.
Elvis é um dos meus heróis e eu prefiro sua fase mais madura. Quando diziam que ele estava decadente, embora cantasse como nunca. Um dia desses uma criança mal-educada quis ensinar ao meu filho que as pessoas ou eram magras ou eram gordas, e as magras eram melhores. Ainda bem que ele esqueceu em um segundo. Quando meu filho olha para mim vê o que eu sou para ele. Quando meu público olha para mim, acontece a mesma coisa. E o resto? O resto que vá para o inferno.
Eu digo que pra mim existem dois tipos de mulher: as que gostam de mim e as outras. E juro que as que gostam de mim são muito mais interessantes. Mulheres, parem com essa obsessão de perder dois quilos! Homens gostam de mulheres companheiras, bem humoradas e boas de cama. Homens, atenção!  Quem repara demais na celulite das moças acaba preferindo bunda de rapaz. Não que eu tenha algo contra isto.  Cada um que descubra o que lhe apraz.
Brincadeiras à parte, deixe-me concluir. Não é preciso aceitar, mas tolerar. Eu é que não sei se tenho estômago para tolerar esse preconceito. Por exemplo: ver o Ronaldo Fenômeno chorar ao despedir-se cortou-me o coração. Seu corpo não o venceu, o preconceito sim.  Aturar anos de humilhação é duro até para os heróis.

Leo Jaime
http://leojaime.blog.uol.com.br/arch2011-03-13_2011-03-19.html#2011_03-18_01_41_03-4267267-0