segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Terceira Margem do Rio


A Terceira Margem do Rio
Guimarães Rosa

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.

Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.

Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.

Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.

Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.

No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.

Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.

A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.

Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.

Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.

Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.

Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.

Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 32, cuja compra e leitura recomendamos.

Tudo sobre o autor e sua obra em "
Biografias"

retirado do blog http://www.releituras.com/guimarosa_margem.asp



pessoalmente acho que "SÓ" esse texto dava um semestre inteiro de discussão num curso de filosofia...
de uma belezura e uma preciosidade só...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Soneto XVII - Pablo Neruda

 
 


NÃO TE AMO como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:



te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.



Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.



Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber.
Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Martha Medeiros

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

EU TE DESEJO

Eu te desejo
Não parar tão cedo
Pois toda idade tem
Prazer e medo...


E com os que erram
Feio e bastante
Que você consiga
Ser tolerante...

Quando você ficar triste
Que seja por um dia
E não o ano inteiro
E que você descubra
Que rir é bom
Mas que rir de tudo
É desespero...

Desejo
Que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor
Prá recomeçar...

domingo, 25 de novembro de 2012

AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA…



Não percas a tua fé entre as asperezas do mundo.
Ainda que os teus pés estejam sangrando, segue para frente,
erguendo-te para a luz celeste, acima de ti mesmo.

Crê e Trabalha…
esforça-te no bem, e espera com paciência.
Tudo passa e tudo se renova na terra,
mas o que vem do alto permanecerá.

De todos os infelizes, os mais desditosos
são os que perderam a confiança em Deus
e em si mesmos; porque o maior infortúnio
é sofrer a privação da fé, da esperança,
e prosseguir vivendo.

Eleva, pois, o teu olhar e caminha…
Luta e serve…Aprende e adianta-te…
Além da noite escura, brilha a alvorada radiante!
Hoje é possível que a tempestade amofine
o teu coração e atormente o teu ideal,
fustigando-te com a aflição ou ameaçando-te
com a morte; não te esqueças porém, de que,
AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA…

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

reflexões...



Quando nos dedicamos, com o coração, à busca do autoconhecimento, é inevitável que chegue um instante em que algumas mentiras que contávamos para nós mesmos passem a não funcionar mais. Os disfarces até então utilizados para fortalecer o nosso autoengano já não nos servem. Inábeis com a paisagem aos poucos revelada, às vezes ainda tentamos nos apegar a alguma coisa que possa encobrir a nossa lucidez, embaraçados que costumamos ser com as novidades, por mais libertadoras que sejam. É em vão. Impossível devolver a linha ao novelo depois que a consciência já teceu novos caminhos. Existem portas que se desmancham após serem atravessadas, como sonhos que se dissolvem ao acordarmos. Não há como retornar ao lugar onde a nossa vida dormia antes de cruzá-las. Da estreiteza à expansão. Da semente à flor. Do casulo às asas, nos ensinam as borboletas.

Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu inveja, quem nunca falou mal daquela pessoa que detesta, quem nunca teve um segredo, quem nunca fez algo errado, quem nunca fingiu ser alguém que não era, quem nunca tratou mal outra pessoa. Nós somos todos humanos, cometemos erros, por favor pare de se achar tão superior assim.  Mas deveríamos ter um mínimo de comentimento conosco em prestar atenção em nos melhorar.  Eu pelo menos faço assim comigo.  Quero tentar ser, com todas as minhas forças e minha lucidez,  um ser humano melhor hoje do que já fui ontem. Quero sair dessa vida melhor do que entrei.

Dizem que a sinceridade machuca, mas é sua sua insistência em ouvir o que vc não quer que está fazendo isso com vc mesmo que machuca muito mais.  Mas cada um lida com a dor de uma maneira muito particular e individual. Isso precisa ser respeitado. Tem a hora certa pra tudo. Saber esperar com e pelo outro é um dos maiores sinais de respeito que podemos dar.

domingo, 4 de novembro de 2012

uma outra pesquisa interessante, até mais antiga, from UCLA

UCLA Newsroom > All Stories > News Releases
Dieting Does Not Work, UCLA Researchers Report
By Stuart Wolpert April 03, 2007



Will you lose weight and keep it off if you diet? No, probably not, UCLA researchers report in the April issue of American Psychologist, the journal of the American Psychological Association.

"You can initially lose 5 to 10 percent of your weight on any number of diets, but then the weight comes back," said Traci Mann, UCLA associate professor of psychology and lead author of the study. "We found that the majority of people regained all the weight, plus more. Sustained weight loss was found only in a small minority of participants, while complete weight regain was found in the majority. Diets do not lead to sustained weight loss or health benefits for the majority of people."

Mann and her co-authors conducted the most comprehensive and rigorous analysis of diet studies, analyzing 31 long-term studies.

"What happens to people on diets in the long run?" Mann asked. "Would they have been better off to not go on a diet at all? We decided to dig up and analyze every study that followed people on diets for two to five years. We concluded most of them would have been better off not going on the diet at all. Their weight would be pretty much the same, and their bodies would not suffer the wear and tear from losing weight and gaining it all back."

People on diets typically lose 5 to 10 percent of their starting weight in the first six months, the researchers found. However, at least one-third to two-thirds of people on diets regain more weight than they lost within four or five years, and the true number may well be significantly higher, they said.

"Although the findings reported give a bleak picture of the effectiveness of diets, there are reasons why the actual effectiveness of diets is even worse," Mann said.

Mann said that certain factors biased the diet studies to make them appear more effective than they really were. For one, many participants self-reported their weight by phone or mail rather than having their weight measured on a scale by an impartial source. Also, the studies have very low follow-up rates — eight of the studies had follow-up rates lower than 50 percent, and those who responded may not have been representative of the entire group, since people who gain back large amounts of weight are generally unlikely to show up for follow-up tests, Mann said.

"Several studies indicate that dieting is actually a consistent predictor of future weight gain," said Janet Tomiyama, a UCLA graduate student of psychology and co-author of the study. One study found that both men and women who participated in formal weight-loss programs gained significantly more weight over a two-year period than those who had not participated in a weight-loss program, she said.

Another study, which examined a variety of lifestyle factors and their relationship to changes in weight in more than 19,000 healthy older men over a four-year period, found that "one of the best predictors of weight gain over the four years was having lost weight on a diet at some point during the years before the study started," Tomiyama said. In several studies, people in control groups who did not diet were not that much worse off — and in many cases were better off — than those who did diet, she said.

If dieting doesn't work, what does?

"Eating in moderation is a good idea for everybody, and so is regular exercise," Mann said. "That is not what we looked at in this study. Exercise may well be the key factor leading to sustained weight loss. Studies consistently find that people who reported the most exercise also had the most weight loss."

Diet studies of less than two years are too short to show whether dieters have regained the weight they lost, Mann said.

"Even when you follow dieters four years, they're still regaining weight," she said.

One study of dieting obese patients followed them for varying lengths of time. Among those who were followed for fewer than two years, 23 percent gained back more weight than they had lost, while of those who were followed for at least two years, 83 percent gained back more weight than they had lost, Mann said. One study found that 50 percent of dieters weighed more than 11 pounds over their starting weight five years after the diet, she said.

Evidence suggests that repeatedly losing and gaining weight is linked to cardiovascular disease, stroke, diabetes and altered immune function. Mann and Tomiyama recommend that more research be conducted on the health effects of losing and gaining weight, noting that scientists do not fully understand how such weight cycling leads to adverse health effects.

Mann notes that her mother has tried different diets, and has not succeeded in keeping the weight off. "My mother has been on diets and says what we are saying is obvious," she said.

While the researchers analyzed 31 dieting studies, they have not evaluated specific diets.

Medicare raised the issue of whether obesity is an illness, deleting the words "Obesity is not considered an illness" from its coverage regulations in 2004. The move may open the door for Medicare to consider funding treatments for obesity, Mann noted.

"Diets are not effective in treating obesity," said Mann. "We are recommending that Medicare should not fund weight-loss programs as a treatment for obesity. The benefits of dieting are too small and the potential harm is too large for dieting to be recommended as a safe, effective treatment for obesity."

From 1980 to 2000, the percentage of Americans who were obese more than doubled, from 15 percent to 31 percent of the population, Mann noted.

A social psychologist, Mann, taught a UCLA graduate seminar on the psychology of eating four years ago. She and her students continued the research when the course ended. Mann's co-authors are Erika Westling, Ann-Marie Lew, Barbra Samuels and Jason Chatman.

"We asked what evidence is there that dieting works in the long term, and found that the evidence shows the opposite" Tomiyama said.

The research was partially supported by the National Institute of Mental Health.

In future research, Mann is interested in studying whether a combination of diet and exercise is more effective than exercise alone.

UCLA is California's largest university, with an enrollment of nearly 37,000 undergraduate and graduate students. The UCLA College of Letters and Science and the university's 11 professional schools feature renowned faculty and offer more than 300 degree programs and majors. UCLA is a national and international leader in the breadth and quality of its academic, research, health care, cultural, continuing education and athletic programs. Four alumni and five faculty have been awarded the Nobel Prize.

-UCLA-

SW151 
fonte: http://newsroom.ucla.edu/portal/ucla/Dieting-Does-Not-Work-UCLA-Researchers-7832.aspx?RelNum=7832

domingo, 28 de outubro de 2012

coisas que normalmente não se publica na grande mídia

deu no New York Times


The Fat Trap
By TARA PARKER-POPE
Published: December 28, 2011

For 15 years, Joseph Proietto has been helping people lose weight. When these obese patients arrive at his weight-loss clinic in Australia, they are determined to slim down. And most of the time, he says, they do just that, sticking to the clinic’s program and dropping excess pounds. But then, almost without exception, the weight begins to creep back. In a matter of months or years, the entire effort has come undone, and the patient is fat again. “It has always seemed strange to me,” says Proietto, who is a physician at the University of Melbourne. “These are people who are very motivated to lose weight, who achieve weight loss most of the time without too much trouble and yet, inevitably, gradually, they regain the weight.”

The 6th Floor Blog

Behind ‘The Fat Trap’
By RACHEL NOLAN

An interview with Tara Parker-Pope on her cover story on weight loss.

Anyone who has ever dieted knows that lost pounds often return, and most of us assume the reason is a lack of discipline or a failure of willpower. But Proietto suspected that there was more to it, and he decided to take a closer look at the biological state of the body after weight loss.

Beginning in 2009, he and his team recruited 50 obese men and women. The men weighed an average of 233 pounds; the women weighed about 200 pounds. Although some people dropped out of the study, most of the patients stuck with the extreme low-calorie diet, which consisted of special shakes called Optifast and two cups of low-starch vegetables, totaling just 500 to 550 calories a day for eight weeks. Ten weeks in, the dieters lost an average of 30 pounds.

At that point, the 34 patients who remained stopped dieting and began working to maintain the new lower weight. Nutritionists counseled them in person and by phone, promoting regular exercise and urging them to eat more vegetables and less fat. But despite the effort, they slowly began to put on weight. After a year, the patients already had regained an average of 11 of the pounds they struggled so hard to lose. They also reported feeling far more hungry and preoccupied with food than before they lost the weight.

While researchers have known for decades that the body undergoes various metabolic and hormonal changes while it’s losing weight, the Australian team detected something new. A full year after significant weight loss, these men and women remained in what could be described as a biologically altered state. Their still-plump bodies were acting as if they were starving and were working overtime to regain the pounds they lost. For instance, a gastric hormone called ghrelin, often dubbed the “hunger hormone,” was about 20 percent higher than at the start of the study. Another hormone associated with suppressing hunger, peptide YY, was also abnormally low. Levels of leptin, a hormone that suppresses hunger and increases metabolism, also remained lower than expected. A cocktail of other hormones associated with hunger and metabolism all remained significantly changed compared to pre-dieting levels. It was almost as if weight loss had put their bodies into a unique metabolic state, a sort of post-dieting syndrome that set them apart from people who hadn’t tried to lose weight in the first place.

“What we see here is a coordinated defense mechanism with multiple components all directed toward making us put on weight,” Proietto says. “This, I think, explains the high failure rate in obesity treatment.”

While the findings from Proietto and colleagues, published this fall in The New England Journal of Medicine, are not conclusive — the study was small and the findings need to be replicated — the research has nonetheless caused a stir in the weight-loss community, adding to a growing body of evidence that challenges conventional thinking about obesity, weight loss and willpower. For years, the advice to the overweight and obese has been that we simply need to eat less and exercise more. While there is truth to this guidance, it fails to take into account that the human body continues to fight against weight loss long after dieting has stopped. This translates into a sobering reality: once we become fat, most of us, despite our best efforts, will probably stay fat.

I have always felt perplexed about my inability to keep weight off. I know the medical benefits of weight loss, and I don’t drink sugary sodas or eat fast food. I exercise regularly — a few years ago, I even completed a marathon. Yet during the 23 years since graduating from college, I’ve lost 10 or 20 pounds at a time, maintained it for a little while and then gained it all back and more, to the point where I am now easily 60 pounds overweight.

I wasn’t overweight as a child, but I can’t remember a time when my mother, whose weight probably fluctuated between 150 and 250 pounds, wasn’t either on a diet or, in her words, cheating on her diet. Sometimes we ate healthful, balanced meals; on other days dinner consisted of a bucket of Kentucky Fried Chicken. As a high-school cross-country runner, I never worried about weight, but in college, when my regular training runs were squeezed out by studying and socializing, the numbers on the scale slowly began to move up. As adults, my three sisters and I all struggle with weight, as do many members of my extended family. My mother died of esophageal cancer six years ago. It was her great regret that in the days before she died, the closest medical school turned down her offer to donate her body because she was obese.

It’s possible that the biological cards were stacked against me from the start. Researchers know that obesity tends to run in families, and recent science suggests that even the desire to eat higher-calorie foods may be influenced by heredity. But untangling how much is genetic and how much is learned through family eating habits is difficult. What is clear is that some people appear to be prone to accumulating extra fat while others seem to be protected against it.

In a seminal series of experiments published in the 1990s, the Canadian researchers Claude Bouchard and Angelo Tremblay studied 31 pairs of male twins ranging in age from 17 to 29, who were sometimes overfed and sometimes put on diets. (None of the twin pairs were at risk for obesity based on their body mass or their family history.) In one study, 12 sets of the twins were put under 24-hour supervision in a college dormitory. Six days a week they ate 1,000 extra calories a day, and one day they were allowed to eat normally. They could read, play video games, play cards and watch television, but exercise was limited to one 30-minute daily walk. Over the course of the 120-day study, the twins consumed 84,000 extra calories beyond their basic needs.

That experimental binge should have translated into a weight gain of roughly 24 pounds (based on 3,500 calories to a pound). But some gained less than 10 pounds, while others gained as much as 29 pounds. The amount of weight gained and how the fat was distributed around the body closely matched among brothers, but varied considerably among the different sets of twins. Some brothers gained three times as much fat around their abdomens as others, for instance. When the researchers conducted similar exercise studies with the twins, they saw the patterns in reverse, with some twin sets losing more pounds than others on the same exercise regimen. The findings, the researchers wrote, suggest a form of “biological determinism” that can make a person susceptible to weight gain or loss.

But while there is widespread agreement that at least some risk for obesity is inherited, identifying a specific genetic cause has been a challenge. In October 2010, the journal Nature Genetics reported that researchers have so far confirmed 32 distinct genetic variations associated with obesity or body-mass index. One of the most common of these variations was identified in April 2007 by a British team studying the genetics of Type 2 diabetes. According to Timothy Frayling at the Institute of Biomedical and Clinical Science at the University of Exeter, people who carried a variant known as FTO faced a much higher risk of obesity — 30 percent higher if they had one copy of the variant; 60 percent if they had two.

This FTO variant is surprisingly common; about 65 percent of people of European or African descent and an estimated 27 to 44 percent of Asians are believed to carry at least one copy of it. Scientists don’t understand how the FTO variation influences weight gain, but studies in children suggest the trait plays a role in eating habits. In one 2008 study led by Colin Palmer of the University of Dundee in Scotland, Scottish schoolchildren were given snacks of orange drinks and muffins and then allowed to graze on a buffet of grapes, celery, potato chips and chocolate buttons. All the food was carefully monitored so the researchers knew exactly what was consumed. Although all the children ate about the same amount of food, as weighed in grams, children with the FTO variant were more likely to eat foods with higher fat and calorie content. They weren’t gorging themselves, but they consumed, on average, about 100 calories more than children who didn’t carry the gene. Those who had the gene variant had about four pounds more body fat than noncarriers.

I have been tempted to send in my own saliva sample for a DNA test to find out if my family carries a genetic predisposition for obesity. But even if the test came back negative, it would only mean that my family doesn’t carry a known, testable genetic risk for obesity. Recently the British television show “Embarrassing Fat Bodies” asked Frayling’s lab to test for fat-promoting genes, and the results showed one very overweight family had a lower-than-average risk for obesity.

A positive result, telling people they are genetically inclined to stay fat, might be self-fulfilling. In February, The New England Journal of Medicine published a report on how genetic testing for a variety of diseases affected a person’s mood and health habits. Over all, the researchers found no effect from disease-risk testing, but there was a suggestion, though it didn’t reach statistical significance, that after testing positive for fat-promoting genes, some people were more likely to eat fatty foods, presumably because they thought being fat was their genetic destiny and saw no sense in fighting it.

While knowing my genetic risk might satisfy my curiosity, I also know that heredity, at best, would explain only part of why I became overweight. I’m much more interested in figuring out what I can do about it now.

The National Weight Control Registry tracks 10,000 people who have lost weight and have kept it off. “We set it up in response to comments that nobody ever succeeds at weight loss,” says Rena Wing, a professor of psychiatry and human behavior at Brown University’s Alpert Medical School, who helped create the registry with James O. Hill, director of the Center for Human Nutrition at the University of Colorado at Denver. “We had two goals: to prove there were people who did, and to try to learn from them about what they do to achieve this long-term weight loss.” Anyone who has lost 30 pounds and kept it off for at least a year is eligible to join the study, though the average member has lost 70 pounds and remained at that weight for six years.

Wing says that she agrees that physiological changes probably do occur that make permanent weight loss difficult, but she says the larger problem is environmental, and that people struggle to keep weight off because they are surrounded by food, inundated with food messages and constantly presented with opportunities to eat. “We live in an environment with food cues all the time,” Wing says. “We’ve taught ourselves over the years that one of the ways to reward yourself is with food. It’s hard to change the environment and the behavior.”

There is no consistent pattern to how people in the registry lost weight — some did it on Weight Watchers, others with Jenny Craig, some by cutting carbs on the Atkins diet and a very small number lost weight through surgery. But their eating and exercise habits appear to reflect what researchers find in the lab: to lose weight and keep it off, a person must eat fewer calories and exercise far more than a person who maintains the same weight naturally. Registry members exercise about an hour or more each day — the average weight-loser puts in the equivalent of a four-mile daily walk, seven days a week. They get on a scale every day in order to keep their weight within a narrow range. They eat breakfast regularly. Most watch less than half as much television as the overall population. They eat the same foods and in the same patterns consistently each day and don’t “cheat” on weekends or holidays. They also appear to eat less than most people, with estimates ranging from 50 to 300 fewer daily calories.

Kelly Brownell, director of the Rudd Center for Food Policy and Obesity at Yale University, says that while the 10,000 people tracked in the registry are a useful resource, they also represent a tiny percentage of the tens of millions of people who have tried unsuccessfully to lose weight. “All it means is that there are rare individuals who do manage to keep it off,” Brownell says. “You find these people are incredibly vigilant about maintaining their weight. Years later they are paying attention to every calorie, spending an hour a day on exercise. They never don’t think about their weight.”

Janice Bridge, a registry member who has successfully maintained a 135-pound weight loss for about five years, is a perfect example. “It’s one of the hardest things there is,” she says. “It’s something that has to be focused on every minute. I’m not always thinking about food, but I am always aware of food.”

Bridge, who is 66 and lives in Davis, Calif., was overweight as a child and remembers going on her first diet of 1,400 calories a day at 14. At the time, her slow pace of weight loss prompted her doctor to accuse her of cheating. Friends told her she must not be paying attention to what she was eating. “No one would believe me that I was doing everything I was told,” she says. “You can imagine how tremendously depressing it was and what a feeling of rebellion and anger was building up.”

After peaking at 330 pounds in 2004, she tried again to lose weight. She managed to drop 30 pounds, but then her weight loss stalled. In 2006, at age 60, she joined a medically supervised weight-loss program with her husband, Adam, who weighed 310 pounds. After nine months on an 800-calorie diet, she slimmed down to 165 pounds. Adam lost about 110 pounds and now weighs about 200.

During the first years after her weight loss, Bridge tried to test the limits of how much she could eat. She used exercise to justify eating more. The death of her mother in 2009 consumed her attention; she lost focus and slowly regained 30 pounds. She has decided to try to maintain this higher weight of 195, which is still 135 pounds fewer than her heaviest weight.

“It doesn’t take a lot of variance from my current maintenance for me to pop on another two or three pounds,” she says. “It’s been a real struggle to stay at this weight, but it’s worth it, it’s good for me, it makes me feel better. But my body would put on weight almost instantaneously if I ever let up.”

So she never lets up. Since October 2006 she has weighed herself every morning and recorded the result in a weight diary. She even carries a scale with her when she travels. In the past six years, she made only one exception to this routine: a two-week, no-weigh vacation in Hawaii.

She also weighs everything in the kitchen. She knows that lettuce is about 5 calories a cup, while flour is about 400. If she goes out to dinner, she conducts a Web search first to look at the menu and calculate calories to help her decide what to order. She avoids anything with sugar or white flour, which she calls her “gateway drugs” for cravings and overeating. She has also found that drinking copious amounts of water seems to help; she carries a 20-ounce water bottle and fills it five times a day. She writes down everything she eats. At night, she transfers all the information to an electronic record. Adam also keeps track but prefers to keep his record with pencil and paper.

“That transfer process is really important; it’s my accountability,” she says. “It comes up with the total number of calories I’ve eaten today and the amount of protein. I do a little bit of self-analysis every night.”

Bridge and her husband each sought the help of therapists, and in her sessions, Janice learned that she had a tendency to eat when she was bored or stressed. “We are very much aware of how our culture taught us to use food for all kinds of reasons that aren’t related to its nutritive value,” Bridge says.

Bridge supports her careful diet with an equally rigorous regimen of physical activity. She exercises from 100 to 120 minutes a day, six or seven days a week, often by riding her bicycle to the gym, where she takes a water-aerobics class. She also works out on an elliptical trainer at home and uses a recumbent bike to “walk” the dog, who loves to run alongside the low, three-wheeled machine. She enjoys gardening as a hobby but allows herself to count it as exercise on only those occasions when she needs to “garden vigorously.” Adam is also a committed exerciser, riding his bike at least two hours a day, five days a week.

Janice Bridge has used years of her exercise and diet data to calculate her own personal fuel efficiency. She knows that her body burns about three calories a minute during gardening, about four calories a minute on the recumbent bike and during water aerobics and about five a minute when she zips around town on her regular bike.

“Practically anyone will tell you someone biking is going to burn 11 calories a minute,” she says. “That’s not my body. I know it because of the statistics I’ve kept.”

Based on metabolism data she collected from the weight-loss clinic and her own calculations, she has discovered that to keep her current weight of 195 pounds, she can eat 2,000 calories a day as long as she burns 500 calories in exercise. She avoids junk food, bread and pasta and many dairy products and tries to make sure nearly a third of her calories come from protein. The Bridges will occasionally share a dessert, or eat an individual portion of Ben and Jerry’s ice cream, so they know exactly how many calories they are ingesting. Because she knows errors can creep in, either because a rainy day cuts exercise short or a mismeasured snack portion adds hidden calories, she allows herself only 1,800 daily calories of food. (The average estimate for a similarly active woman of her age and size is about 2,300 calories.)

Just talking to Bridge about the effort required to maintain her weight is exhausting. I find her story inspiring, but it also makes me wonder whether I have what it takes to be thin. I have tried on several occasions (and as recently as a couple weeks ago) to keep a daily diary of my eating and exercise habits, but it’s easy to let it slide. I can’t quite imagine how I would ever make time to weigh and measure food when some days it’s all I can do to get dinner on the table between finishing my work and carting my daughter to dance class or volleyball practice. And while I enjoy exercising for 30- or 40-minute stretches, I also learned from six months of marathon training that devoting one to two hours a day to exercise takes an impossible toll on my family life.

Bridge concedes that having grown children and being retired make it easier to focus on her weight. “I don’t know if I could have done this when I had three kids living at home,” she says. “We know how unusual we are. It’s pretty easy to get angry with the amount of work and dedication it takes to keep this weight off. But the alternative is to not keep the weight off. ”

“I think many people who are anxious to lose weight don’t fully understand what the consequences are going to be, nor does the medical community fully explain this to people,” Rudolph Leibel, an obesity researcher at Columbia University in New York, says. “We don’t want to make them feel hopeless, but we do want to make them understand that they are trying to buck a biological system that is going to try to make it hard for them.”

Leibel and his colleague Michael Rosenbaum have pioneered much of what we know about the body’s response to weight loss. For 25 years, they have meticulously tracked about 130 individuals for six months or longer at a stretch. The subjects reside at their research clinic where every aspect of their bodies is measured. Body fat is determined by bone-scan machines. A special hood monitors oxygen consumption and carbon-dioxide output to precisely measure metabolism. Calories burned during digestion are tracked. Exercise tests measure maximum heart rate, while blood tests measure hormones and brain chemicals. Muscle biopsies are taken to analyze their metabolic efficiency. (Early in the research, even stool samples were collected and tested to make sure no calories went unaccounted for.) For their trouble, participants are paid $5,000 to $8,000.

Eventually, the Columbia subjects are placed on liquid diets of 800 calories a day until they lose 10 percent of their body weight. Once they reach the goal, they are subjected to another round of intensive testing as they try to maintain the new weight. The data generated by these experiments suggest that once a person loses about 10 percent of body weight, he or she is metabolically different than a similar-size person who is naturally the same weight.

The research shows that the changes that occur after weight loss translate to a huge caloric disadvantage of about 250 to 400 calories. For instance, one woman who entered the Columbia studies at 230 pounds was eating about 3,000 calories to maintain that weight. Once she dropped to 190 pounds, losing 17 percent of her body weight, metabolic studies determined that she needed about 2,300 daily calories to maintain the new lower weight. That may sound like plenty, but the typical 30-year-old 190-pound woman can consume about 2,600 calories to maintain her weight — 300 more calories than the woman who dieted to get there.

Scientists are still learning why a weight-reduced body behaves so differently from a similar-size body that has not dieted. Muscle biopsies taken before, during and after weight loss show that once a person drops weight, their muscle fibers undergo a transformation, making them more like highly efficient “slow twitch” muscle fibers. A result is that after losing weight, your muscles burn 20 to 25 percent fewer calories during everyday activity and moderate aerobic exercise than those of a person who is naturally at the same weight. That means a dieter who thinks she is burning 200 calories during a brisk half-hour walk is probably using closer to 150 to 160 calories.

Another way that the body seems to fight weight loss is by altering the way the brain responds to food. Rosenbaum and his colleague Joy Hirsch, a neuroscientist also at Columbia, used functional magnetic resonance imaging to track the brain patterns of people before and after weight loss while they looked at objects like grapes, Gummi Bears, chocolate, broccoli, cellphones and yo-yos. After weight loss, when the dieter looked at food, the scans showed a bigger response in the parts of the brain associated with reward and a lower response in the areas associated with control. This suggests that the body, in order to get back to its pre-diet weight, induces cravings by making the person feel more excited about food and giving him or her less willpower to resist a high-calorie treat.

“After you’ve lost weight, your brain has a greater emotional response to food,” Rosenbaum says. “You want it more, but the areas of the brain involved in restraint are less active.” Combine that with a body that is now burning fewer calories than expected, he says, “and you’ve created the perfect storm for weight regain.” How long this state lasts isn’t known, but preliminary research at Columbia suggests that for as many as six years after weight loss, the body continues to defend the old, higher weight by burning off far fewer calories than would be expected. The problem could persist indefinitely. (The same phenomenon occurs when a thin person tries to drop about 10 percent of his or her body weight — the body defends the higher weight.) This doesn’t mean it’s impossible to lose weight and keep it off; it just means it’s really, really difficult.

Lynn Haraldson, a 48-year-old woman who lives in Pittsburgh, reached 300 pounds in 2000. She joined Weight Watchers and managed to take her 5-foot-5 body down to 125 pounds for a brief time. Today, she’s a member of the National Weight Control Registry and maintains about 140 pounds by devoting her life to weight maintenance. She became a vegetarian, writes down what she eats every day, exercises at least five days a week and blogs about the challenges of weight maintenance. A former journalist and antiques dealer, she returned to school for a two-year program on nutrition and health; she plans to become a dietary counselor. She has also come to accept that she can never stop being “hypervigilant” about what she eats. “Everything has to change,” she says. “I’ve been up and down the scale so many times, always thinking I can go back to ‘normal,’ but I had to establish a new normal. People don’t like hearing that it’s not easy.”

What’s not clear from the research is whether there is a window during which we can gain weight and then lose it without creating biological backlash. Many people experience transient weight gain, putting on a few extra pounds during the holidays or gaining 10 or 20 pounds during the first years of college that they lose again. The actor Robert De Niro lost weight after bulking up for his performance in “Raging Bull.” The filmmaker Morgan Spurlock also lost the weight he gained during the making of “Super Size Me.” Leibel says that whether these temporary pounds became permanent probably depends on a person’s genetic risk for obesity and, perhaps, the length of time a person carried the extra weight before trying to lose it. But researchers don’t know how long it takes for the body to reset itself permanently to a higher weight. The good news is that it doesn’t seem to happen overnight.

“For a mouse, I know the time period is somewhere around eight months,” Leibel says. “Before that time, a fat mouse can come back to being a skinny mouse again without too much adjustment. For a human we don’t know, but I’m pretty sure it’s not measured in months, but in years.”

Nobody wants to be fat. In most modern cultures, even if you are healthy — in my case, my cholesterol and blood pressure are low and I have an extraordinarily healthy heart — to be fat is to be perceived as weak-willed and lazy. It’s also just embarrassing. Once, at a party, I met a well-respected writer who knew my work as a health writer. “You’re not at all what I expected,” she said, eyes widening. The man I was dating, perhaps trying to help, finished the thought. “You thought she’d be thinner, right?” he said. I wanted to disappear, but the woman was gracious. “No,” she said, casting a glare at the man and reaching to warmly shake my hand. “I thought you’d be older.”

If anything, the emerging science of weight loss teaches us that perhaps we should rethink our biases about people who are overweight. It is true that people who are overweight, including myself, get that way because they eat too many calories relative to what their bodies need. But a number of biological and genetic factors can play a role in determining exactly how much food is too much for any given individual. Clearly, weight loss is an intense struggle, one in which we are not fighting simply hunger or cravings for sweets, but our own bodies.

While the public discussion about weight loss tends to come down to which diet works best (Atkins? Jenny Craig? Plant-based? Mediterranean?), those who have tried and failed at all of these diets know there is no simple answer. Fat, sugar and carbohydrates in processed foods may very well be culprits in the nation’s obesity problem. But there is tremendous variation in an individual’s response.

The view of obesity as primarily a biological, rather than psychological, disease could also lead to changes in the way we approach its treatment. Scientists at Columbia have conducted several small studies looking at whether injecting people with leptin, the hormone made by body fat, can override the body’s resistance to weight loss and help maintain a lower weight. In a few small studies, leptin injections appear to trick the body into thinking it’s still fat. After leptin replacement, study subjects burned more calories during activity. And in brain-scan studies, leptin injections appeared to change how the brain responded to food, making it seem less enticing. But such treatments are still years away from commercial development. For now, those of us who want to lose weight and keep it off are on our own.

One question many researchers think about is whether losing weight more slowly would make it more sustainable than the fast weight loss often used in scientific studies. Leibel says the pace of weight loss is unlikely to make a difference, because the body’s warning system is based solely on how much fat a person loses, not how quickly he or she loses it. Even so, Proietto is now conducting a study using a slower weight-loss method and following dieters for three years instead of one.

Given how hard it is to lose weight, it’s clear, from a public-health standpoint, that resources would best be focused on preventing weight gain. The research underscores the urgency of national efforts to get children to exercise and eat healthful foods.

But with a third of the U.S. adult population classified as obese, nobody is saying people who already are very overweight should give up on weight loss. Instead, the solution may be to preach a more realistic goal. Studies suggest that even a 5 percent weight loss can lower a person’s risk for diabetes, heart disease and other health problems associated with obesity. There is also speculation that the body is more willing to accept small amounts of weight loss.

But an obese person who loses just 5 percent of her body weight will still very likely be obese. For a 250-pound woman, a 5 percent weight loss of about 12 pounds probably won’t even change her clothing size. Losing a few pounds may be good for the body, but it does very little for the spirit and is unlikely to change how fat people feel about themselves or how others perceive them.

So where does that leave a person who wants to lose a sizable amount of weight? Weight-loss scientists say they believe that once more people understand the genetic and biological challenges of keeping weight off, doctors and patients will approach weight loss more realistically and more compassionately. At the very least, the science may compel people who are already overweight to work harder to make sure they don’t put on additional pounds. Some people, upon learning how hard permanent weight loss can be, may give up entirely and return to overeating. Others may decide to accept themselves at their current weight and try to boost their fitness and overall health rather than changing the number on the scale. For me, understanding the science of weight loss has helped make sense of my own struggles to lose weight, as well as my mother’s endless cycle of dieting, weight gain and despair. I wish she were still here so I could persuade her to finally forgive herself for her dieting failures. While I do, ultimately, blame myself for allowing my weight to get out of control, it has been somewhat liberating to learn that there are factors other than my character at work when it comes to gaining and losing weight. And even though all the evidence suggests that it’s going to be very, very difficult for me to reduce my weight permanently, I’m surprisingly optimistic. I may not be ready to fight this battle this month or even this year. But at least I know what I’m up against
 
 
 
 
  copiado da página:   http://www.nytimes.com/2012/01/01/magazine/tara-parker-pope-fat-trap.html?_r=5&pagewanted=all&

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

poesia pura


Quando meus lábios tocarem sua pele e minhas mãos percorrerem todo seu corpo, mergulharei nos mais profundos desejos de sua alma e sentirás, dentro de ti, todo o meu amor. 

Seremos neste momento uma só pessoa, uma só alma, em profunda sintonia. Você vai ver todas as nossas fantasias ganhando asas e nos conduzindo a um universo só nosso, e  nos encontraremos extasiados em extremo prazer.

Neste instante, o silêncio, por frações de segundos, será absoluto, sendo apenas vencido por gemidos e palavras sussurradas docemente, como sempre acontece entre nós. E nossos corpos, bailando sob uma melodia escondida, regida por acordes secretos, só nossos,  em movimentos de carícias e cumplicidade. 

Então te beijarei com toda intensidade de meu ser, olhando dentro dos teus olhos e devorando toda emoção por ter me amado loucamente, pois olharei no fundo de tua alma e direi: Eu te amo...

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

quando vou andar por outras abas... O que está por trás da vingança?

achei esse texto numa pág - como falo aqui algumas vezes - qd vou andar por outras abas...

uma "pequena" introdução:
cheia de associações livres, ziguezagueando pelos meus pensamentos, como sempre faço, com muito loops, saltos mortais e cambalhotas...
quem me conhece sabe que não acompanho novelas há muito tempo, aliás, não praticamente nem vejo mais TV aberta, tenho sérias restrições ao nível da programação atual, sou consumidora compulsiva de séries e filmes e livros, via web ou TV por assinatura há anos..., serimaníaca de carteirinha, desde Star Trek (decorando diálogos, rsrs... , nerd ou geek, como se fala hj em dia)...

MAS...
pra relembrar meus parcos conhecimentos de gramática, que BTW detesto, não foi à toa que deixei o alemão de lado, já que o léxico germânico consegue ser pior que o nosso...
Conjunção Coordenativa Adversativa:
contudo, não obstante, entretanto, todavia, porém...

é impossível ficar incólume ao efeito "Avenida Brasil", afinal, eu venho na internetis e no twitter, por exemplo, e só dá Carminha e Nina na hora da novela, é como se tivesse assistindo por passividade um capítulo, querendo ou não...
até no jornal de domingo, um artigo com várias págs, com vários autores, um deles um antigo prof. meu  da Faculdade, o antropólogo Roberto da Matta, (até ele) falando da novela...
e eczatamente frisando esse aspecto...

uffa, finalmente cheguei onde pretendia, o texto que li porraí, num site de auto-ajuda:

EI-LO CÁ!

O que está por trás da vingança?

Causar dor no outro sugere necessidade de curar as próprias feridas


Em visita a uma amiga, percebi que ela parou tudo que estava fazendo para ligar a TV. A ideia era acompanhar a novela "Avenida Brasil", em uma "ânsia noveleira" que me deixou surpresa. Eu me espantei quando comecei a ouvir uma série de gritos agressivos e histéricos, que continuaram ao longo de todo o episódio. Ao final do capítulo, senti que meus ombros estavam tensos diante de tanta agressividade.

Procurei saber o que estava acontecendo na novela e descobri que Nina, a personagem principal e que parecia a vilã histérica, era na realidade a mocinha da história. E sua motivação para tamanho ódio era a vingança que estava tramando contra a rival Carminha. Isso me trouxe duas perguntas em mente: será que as maldades da vilã justificariam tais atitudes da dita mocinha? E por que as pessoas ficam tão vidradas em algo tão agressivo?

O que move o sentimento de vingança?

Quando passamos por situações muito difíceis e não conseguimos assimilá-las de maneira positiva, guardamos memórias negativas do ponto de vista físico e energético. Costumo chamar essas memórias de feridas energéticas. Se continuarmos a gerar e guardar essas feridas emocionais, mentais e espirituais, vamos acumulando-as e formando o que chamo de "Eu Machucado". Esse "eu" - formado por sentimentos, pensamentos e energias negativas - começa a tomar conta de nós e corremos o risco de viver cada vez mais a partir dele. Muitas vezes as pessoas apenas "encostam" nos nossos machucados sutis que já estavam ali, e erroneamente achamos que elas são as responsáveis pela nossa dor.

A vingança é acontece quando a pessoa não consegue dar conta de seu Eu Machucado - ou seja, das suas dores, medos, invejas, raivas e outros sentimentos negativos - e acredita que sua dor é causada pelo outro. Querer infligir dor em quem nos machucou é uma maneira de descarregar nossa energia negativa e aliviar essa sensação. Porém, a vingança costuma ser destrutiva para ambos os lados. Além disso, a vingança não cura os machucados sutis e na maioria das vezes só os agrava. Quem fica cego pela vingança, vive a partir do seu Eu Machucado e retroalimenta a sua dor, ou seja, alimenta de volta essa sensação dolorida (mesmo que a princípio o sentimento seja de alívio).

O prazer do nosso Eu Machucado

Na realidade, o Eu Machucado é um instinto de proteção que se distorce. O medo é tanto que ele mesmo cria situações negativas, mas já previstas (mesmo que inconscientemente), dando lugar às famosas autossabotagens. Ainda que queira vivenciar uma relação sincera, a pessoa que carrega machucados sutis de uma traição, por exemplo, pode acabar vivenciando justamente outras traições.

O Eu Machucado cria nossa realidade a partir das nossas memórias, crenças e pensamentos negativos, reafirmando nossos medos e retroalimentando as energias negativas. Portanto, o prazer do Eu Machucado está muito associado a dor. É aquela vontade (com um certo sentimento de segurança e amargura, do tipo "eu estava certo mesmo") que nos faz dizer: "está vendo? Sabia que ia dar tudo errado mesmo, que fulano ia me decepcionar, que eu não ia conseguir, etc". O Eu Machucado é a parte de nós que sente prazer ao reclamarmos do mundo e das coisas erradas da vida.

Esse prazer de nosso Eu Machucado lembra o prazer que algumas pessoas sentem ao assistir cenas como as apresentadas da novela. O quanto estaremos nós mesmos imersos em nosso Eu Machucado e alimentando-o? Ainda que seja ficção, a energia é de agressividade ou maldade. E isso é alimento para nosso Eu Machucado.

Claro que assistir novela pode ser um passatempo, uma distração, e talvez nem mesmo nos afete - isso vai depender de como nós a assistimos. A maneira como novelas, programas e filmes mexem com a gente mostra muito sobre nossos machucados sutis, e podem nos ajudar a fazer escolhas mais acertadas quanto ao tipo de alimento energético que damos a nós mesmos através da mídia.

E você, já sabe de quais energias tem se nutrido?

http://www.personare.com.br/o-que-esta-por-tras-da-vinganca-m2761?utm_source=Base%2BPersonare&utm_medium=Alerta&utm_content=Revista&utm_campaign=Revista

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Coragem - MARTHA MEDEIROS

"A pior coisa do mundo é a pessoa não ter coragem na vida.” Pincei essa frase do relato de uma moça chamada Florescelia, nascida no Ceará e que passou (e vem passando) poucas e boas: a morte da mãe quando tinha dois anos, uma madrasta cruel, uma gravidez prematura, a perda do único homem que amou, uma vida sem porto fixo, sem emprego fixo, mas sonhos diversos, que lhe servem de sustentação.

Ela segue em frente porque tem o combustível que necessitamos para trilhar o longo caminho desde o nascimento até a morte. Coragem.

Quando eu era pequena, achava que coragem era o sentimento que designava o ímpeto de fazer coisas perigosas, e por perigoso eu entendia, por exemplo, andar de tobogã, aquela rampa alta e ondulada em que a gente descia sentada sobre um saco de algodão ou coisa parecida.

Por volta dos nove anos, decidi descer o tobogã, mas na hora H, amarelei. Faltou coragem. Assim como faltou também no dia em que meus pais resolveram ir até a Ilha dos Lobos, em Torres, num barco de pescador. No momento de subir no barco, desisti. Foram meu pai, minha mãe, meu irmão, e eu retornei sozinha, caminhando pela praia, até a casa da vó.

Muita coragem me faltou na infância: até para colar durante as provas eu ficava nervosa. Mentir para pai e mãe, nem pensar. Ir de bicicleta até ruas muito distantes de casa, não me atrevia. Travada desse jeito, desconfiava que meu futuro seria bem diferente do das minhas amigas.

Até que cresci e segui medrosa para andar de helicóptero, escalar vulcões, descer corredeiras d’água. No entanto, aos poucos fui descobrindo que mais importante do que ter coragem para aventuras de fim de semana, era ter coragem para aventuras mais definitivas, como a de mudar o rumo da minha vida se preciso fosse. Enfrentar helicópteros, vulcões, corredeiras e tobogãs exige apenas que tenhamos um bom relacionamento com a adrenalina.

Coragem, mesmo, é preciso para terminar um relacionamento, trocar de profissão, abandonar um país que não atende nossos anseios, dizer não para propostas lucrativas porém vampirescas, optar por um caminho diferente do da boiada, confiar mais na intuição do que em estatísticas, arriscar-se a decepções para conhecer o que existe do outro lado da vida convencional. E, principalmente, coragem para enfrentar a própria solidão e descobrir o quanto ela fortalece o ser humano.

Não subi no barco quando criança – e não gosto de barcos até hoje. Vi minha família sair em expedição pelo mar e voltei sozinha pela praia, uma criança ainda, caminhando em meio ao povo, acreditando que era medrosa. Mas o que parecia medo era a coragem me dando as boas-vindas, me acompanhando naquele recuo solitário, quando aprendi que toda escolha requer ousadia.

Zero Hora
17/06/2012 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O insustentável peso do ser - Quando emagrecer é perder mais do que quilos - por Eliane Brum


26/04/2010 - 08:32
atualizado em 27/04/2010 - 08:19


Quando emagrecer é perder mais do que quilos


 Reprodução
ELIANE BRUM


Volto ao tema do que é ser gordo neste mundo porque tenho cada vez mais convicção de que compreendê-lo é chave para acessar nossa época. Somos aturdidos, invadidos e bombardeados por reportagens sobre dietas, conversas sobre dietas, receitas de dietas, livros de dietas, profissionais especializados em dietas e, agora, reality shows com gente tentando emagrecer e eventualmente fracassando. Quando olhamos para alguém, comece a reparar, nosso primeiro ou no máximo segundo olhar avalia se a pessoa é gorda ou magra. Quando descrevemos alguém – e também quando criticamos ou xingamos –, a gordura é um dos primeiros tópicos. Se tivéssemos acesso às promessas feitas hoje a santos ou outras entidades místicas, eu apostaria que a maioria está com a agenda lotada de pedidos de devotos implorando pelos milagres dos quilos a menos.

Pense por um segundo: o quanto estar ou não acima do peso ocupa suas conversas com amigos e familiares, as preocupações do seu cotidiano, o tempo da sua vida?

Queremos acreditar que é uma obviedade desejar ser magro. Que não há outro jeito de ser na vida. E que é “natural” nossa preocupação com o peso e com as dietas. Será? Desde que nos tornamos uma espécie inscrita na cultura, não há nada de natural em nós, exceto o funcionamento biológico do nosso corpo – pelo menos até onde a ciência ainda não conseguiu interferir. Se assim é, o que o valor da magreza, que vai muito além de um padrão de beleza, diz sobre nós? Ou, visto pelo avesso, o que a rejeição à gordura significa?

É muito menos óbvio do que parece. O argumento da saúde é sempre o primeiro a surgir, por ser supostamente indiscutível e vir embalado nas melhores intenções. Mas, acredite, nem todos os gordos são doentes. Ou obesos. Alguns exibem ótimos exames de colesterol e triglicérides, tem pressão normal e bom funcionamento do coração. Nem toda gordura é doença. E, mesmo quando se torna doença, a saúde não é a única medida para avaliar a qualidade de uma vida humana.

Para ampliar nossa compreensão sobre algo que perpassa nossa vida, entrevistei uma mulher vista como “gorda”. Há algumas semanas, ela iniciou uma dieta. Neste momento, emagrecer é um projeto em curso em sua vida. Ela tem 37 anos, 1m69 de altura e pesava 84,5 quilos quando iniciou o regime. É bem sucedida no que faz e tem amplo reconhecimento profissional. Exames médicos mostraram que não tem nenhum problema de saúde ligado ao peso. Quis entrevistá-la porque ela ousa ir além do lugar comum e faz uma reflexão profunda sobre as implicações de sua decisão de emagrecer.


Para esta mulher, fazer dieta é uma forma de violência. Mesmo assim, procurou uma nutricionista e seguiu em frente. Com generosidade, ela nos explica suas razões. E o que nos diz fala não só dela, mas de todos. Fala não apenas de gordura e de dieta, mas de aceitação. Do lugar do outro na nossa vida – e da complexidade do olhar que nos reflete, mesmo quando não nos enxerga ou só enxerga uma parte de nós.

Esta é uma conversa sobre escolhas. E um convite para aumentar o número de pontos de interrogação no nosso jeito de ver o mundo.

Eu: Quando começamos a conversar, você falou que acha assustador ser tratada como obesa mórbida – e isso usando uma calça 44. Como é isso?
Ela: O nível de magreza esperado hoje é tão elevado que, por vezes, sou cobrada como se meu peso ultrapassasse os 100 quilos e eu sequer conseguisse comprar roupas em lojas não especializadas, o que está bem longe de ser verdade. Outro dia estava no telefone com uma prima que comemorava a minha iniciativa de fazer dieta e exercícios físicos. De repente, no meio da conversa, ela diz: “Ainda bem que agora você resolveu emagrecer num projeto de longo prazo. Porque, se você chegasse aos 40 anos desse jeito, estaria fodida! Fo-di-da, entendeu?”.Fiquei pensando que estaria fodida se não soubesse quem eu sou e qual o meu eixo nessa existência. Estaria fodida se não tivesse uma profissão que adoro, que ajuda a mudar o mundo – para melhor – e que me permite sustento próprio e alheio desde os 21 anos. Estaria fodida se não tivesse pais amorosos e amigos tão queridos para partilhar a vida. Estaria fodida se vivesse na miséria, em condições indignas, sem acesso à educação e à saúde, como boa parte da população brasileira. Estaria fodida se não tivesse experimentado um casamento bacana ou se, depois de divorciada, tivesse me metido em relações de afeto abusivas, como não é raro acontecer com mulheres carentes. Estaria fodida se não tivesse equilíbrio emocional ou se passasse fome ou se tivesse sido vítima de violência física ou se fosse alguém sem um pingo de caráter. Por qualquer dessas coisas eu realmente estaria fodida. Agora, fo-di-da por pesar 80 quilos? Como assim, gente?


Eu: Você se descobriu gorda na universidade. Como foi lidar com o sofrimento das primeiras rejeições?
Ela:
Foi ruim, como não é difícil imaginar. Quando você ainda é insegura sobre “o que é” ou sobre “quem está se tornando”, e alguém a rejeita pelo fato de ser gorda, a sensação é de que você toda não tem valor algum. É quase impossível entender o quanto de dificuldade do outro tem ali, o quanto não é possível dar ao outro o poder de definir quem você é e outras coisas que na vida adulta tornam-se claras. Quando se é jovem, um minuto de rejeição reduz você a um monte de massa gordurosa amorfa... A grande dificuldade é construir uma identidade sobre a tal massa. O sofrimento pode até não ser enorme, nem destruidor para algumas pessoas – meu caso. Mas um tanto dele é inevitável.

Eu: Qual foi a primeira humilhação por causa do peso?
Ela:
Lembro especificamente de uma. Considero que, na época, não estava realmente obesa. Devia pesar uns 70 quilos. Viajei para a praia, com duas amigas. Um dia, saímos de carro para dar uma volta, era eu quem dirigia. Chegaram dois rapazes próximos da janela, e começamos a conversar. De repente, um deles olha pra mim, aponta e diz: “E essa barriguinha sobrando aí?”. Os dois deram uma bela gargalhada, com um prazer irônico e meio sádico. Não deixei ninguém perceber, mas me senti um lixo.

Eu: Como é ser olhada como se tudo o que há em você fosse excesso de peso, como se gorda fosse tudo o que você é?
Ela:
A minha sensação é de estranheza total, de não entendimento real desse modus vivendi. Não há empatia que eu tente que me faça absorver o peso como critério de exclusão de pessoas. É tão absurdo quanto a discriminação por raça, dinheiro ou religião. Não consigo aceitar. No caso do peso, posso até me render aos efeitos da discriminação e emagrecer, mas dentro de mim não consigo aceitar esse critério de exclusão. Lembro de uma história que foi muito marcante. Um tempo depois de me divorciar, cheguei ao trabalho e ouvi dois colegas conversando sobre mim, sem que se dessem conta da minha presença. Um deles disse: “Se ela emagrecesse uns dez quilos, não ficaria nem um segundo solteira no mercado...” Fiquei arrasada. Saí de fininho, com um nó na garganta e pensando: “Que desgraça de mundo é esse em que vivo?”

Eu: E como é não ser olhada com desejo por um homem?
Ela:
Recentemente um cara, inteligente e muito divertido, depois de algumas cervejas soltou esta: “De onde saiu uma mulher como você, criatura? Meu Deus...” (com ar de interesse e até meio embasbacado). E, em seguida: “Agora, me diz por que a gente não consegue tudo em uma mulher só? No fundo, eu sonho com uma mistura de Catherine Deneuve e Simone de Beauvoir...” Bem. Não preciso dizer que eu era a Simone de Beauvoir da história, certo?

Eu: Aconteceu de você desejar muito um homem e claramente ele não conseguir ficar com você porque você é gorda?
Ela:
Já aconteceu de reencontrar uma antiga paixão, com quem havia retomado contato por MSN, telefone e email. Ficou claro que queríamos nos encontrar pessoalmente, com os típicos e deliciosos jogos de sedução em andamento. Ele resolveu ir até a minha cidade, com a desculpa de visitar um amigo. Menos de três horas depois que havia chegado, já estávamos almoçando juntos. E esta foi a última vez em que nos encontramos durante os dias em que permaneceu aqui. Ele é um cara muito bonito. A última vez que havia me visto eu estava com uns 10 quilos a menos e, não tenho a menor dúvida, me dispensou por estar acima do peso. Estar gorda destruiu as chances de reaproximação, não importa o quanto tenha sido boa, sedutora e divertida a conversa pessoal. O sentimento é de raiva. E de indignação. Que culminam numa grande “menos valia”. Uma mulher pode até ser forte. Mas não é deus.

Eu: Você fala neste primeiro olhar, que acontece numa festa, na boate, em algum lugar público. O olhar do desejo, antes de saber se a pessoa é legal ou não, inteligente ou não. Como é para você? Você tem desejo por um homem acima do peso estabelecido como normal? Ou, parodiando seu exemplo, você também quer uma mistura de Jean-Paul Sartre com Alain Delon? Você se sentiria atraída por Sartre antes da primeira palavra trocada?
Ela:
Meu último namorado era mais gordo do que eu e tinha uma respeitável barriguinha. Meu ex-marido era magro. Já fiquei com gordos, obesos, magros, magérrimos. Não tenho preconceito quanto a isso. Tenho cá meu fraco por sedutores (e não é exatamente o peso que importa nesse caso), o que venho mantendo sob estrito controle racional. Numa boate, o tipo que primeiro chama minha atenção, antes de conversar, é, em geral, um homem moreno ou negro, com traços fortes e não perfeitos. O que é capaz de definir campeonato é o fato de ele ser espirituoso e com alguma “pegada”. Não é um Sartre que procuro. Ele não foi nada bacana com a Simone... Quanto a Alain Delon, confesso meus pré(e pós)-conceitos: homem muito bonito, em regra, tem de se esforçar pouco e, com isso, não desenvolve ao longo da vida habilidades importantes. As eventuais exceções só justificam a regra.

Eu: Como é estar comendo um doce e sentir o olhar repressor do outro?
Ela:
Já experimentei de tudo, desde o olhar materno até o do vizinho de mesa no shopping... Os olhares desconhecidos não têm importância. Mas a reprovação de alguém querido é sofrida.

Eu: Por que você acha que a sociedade tem tanta dificuldade com as pessoas acima do peso estabelecido como normal?

Ela:
Acho que todas as sociedades sempre tiveram um padrão de beleza estabelecido e sempre foram cruéis com quem não atende a este padrão. A exclusão com o diferente-marginal não é algo privativo do mundo contemporâneo. A questão é que, hoje, na classe média e alta da maioria dos países ocidentais, o belo equivale essencialmente à magreza. Ser gordo significa se tornar alvo da exclusão do diferente, que é própria das organizações sociais. Algo cultural e praticamente inevitável. Em regra, o ser humano, quando se depara com a diferença, se sente ameaçado. “Se ele está certo e é diferente de mim, isso significa que estou errado?”. Esta é a pergunta que o consciente ou o inconsciente das pessoas faz. E é isso que as impulsiona a tentar mudar ou até destruir o diferente. É muito difícil que lidem bem com a possibilidade de vários certos, a partir de várias escolhas, próprias de diversas realidades. São estas dificuldades individuais com a diferença que, reunidas, formam um coletivo de exclusão, em determinados extratos sociais. Neste espaço, o coletivo excludente recai, também, sobre os obesos.

Eu: Você já se sentiu menor por ser grande?
Ela:
Já me senti uma mulher invisível. Grande, gorda e invisível...

Eu: Como é isso? Me fala um pouco mais como é ser grande, gorda e invisível...
Ela:
Você está com mais três amigas em uma boate. Duas delas são magras. Você e a outra amiga não são obesas, mas estão claramente acima do peso. Os homens passam e só olham, conversam ou coisa que o valha, espontaneamente, com as mulheres magras. Para você e a outra amiga conseguirem contato é preciso que uma conversa entre todos se dê ou alguma coisa semelhante. Aí pode vir à tona algum tipo de qualidade sua que chame a atenção. Bom humor, inteligência, simpatia... Caso contrário, é como se nós, as mulheres gordas, não existíssemos. Os homens não olham, nem falam, nem se interessam por sua existência terrena. Eles, nos próximos dias, podem até passar horas falando para os próprios amigos ou familiares que não se importam se uma mulher é gorda ou não, que querem uma mulher “real” e gente boa, que paqueram todo tipo feminino em bares e boates, mas a verdade é que, se você é gorda, o universo masculino de classe média/alta não percebe sua existência. Como eu disse: grande, gorda e invisível.

Eu: Como você sente o olhar do outro sobre você, no cotidiano?
Ela:
Especificamente sobre o olhar masculino, é ruim não senti-lo sobre o meu corpo com desejo.

Eu: Como é não sentir este olhar de desejo? Tente me contar, descrever isso...
Ela:
A sensação é de não existir. Não é que você não seja aceita, nem amada o suficiente. Você não é sequer vista como mulher. Não há um olhar masculino que a espelhe. Sem alteridade, como é possível ter o mínimo de certeza de que uma parte do feminino realmente permanece ali, onde você sente estar?

Eu: Qual é a sua relação com o espelho?
Ela:
Gosto de me olhar no espelho. Porque, sem meias palavras ou falsa modéstia, me considero realmente uma mulher bonita. Não maravilhosa ou estonteante. Mas bonita. Não é isso o principal que me define enquanto mulher. Mas faz parte do meu feminino ser bela. E gosto dessa parte. Gosto até quando estou com um vestido velhinho, meio mal arrumada... Mesmo quando estou assim, meio enfraquecida, ainda vejo algo bacana espelhado. O que me assombra é a incapacidade de as pessoas verem. Mesmo porque eu consigo ver isso nos outros, nas circunstâncias as mais variadas possíveis.

Eu: Você acha que é mais difícil para você tirar a roupa quando transa com alguém? O que passa na sua cabeça nesses momentos?
Ela:
Curiosamente, não tenho a menor dificuldade com esse momento. O que é ruim é quando o homem desaparece depois. Tenho a impressão que foi insatisfação com o meu corpo. Aí é duro de aguentar. A reação imediata é subir os muros de proteção. Haja apoio de amigos e terapia para lembrar que sair do mundo não é a melhor solução.

Eu: Se você fosse definir como, em geral, as pessoas a enxergam, que olhar seria este?
Ela:
Como pessoa, o mundo me enxerga com admiração e carinho. Mas, insisto em dizer que os homens, em regra, não me enxergam como mulher desejável. Sempre que emagreço isso muda. Por mais que me esforce, não consigo realmente entender o porquê.

Eu: Como você reage ao sentir este não-olhar de desejo masculino?
Ela:
Eu passei a fazer dieta e atividade física regular para sentir o olhar de desejo.

Eu: Você já consegue sentir a mudança de olhar e de postura com relação a você desde que começou a emagrecer?
Ela:
Bem aos poucos. Emagreci apenas quatro quilos e meio, estando acima do peso ainda. De todo modo, olhares começaram a mudar. O interessante é que a minha postura não mudou em nada. Está aqui a mesma mulher que tenta equilibrar delicadeza e força, que aprendeu a seduzir com inteligência, que é bem humorada e, para os próprios padrões de julgamento, bonita. A diferença é que, agora, até na balada tem gente cogitando dar uma chance a ela. Há tempos eu sabia que seria assim. Sempre soube que era balela aquela história que “a obesidade está na sua cabeça e quando você emagrece fica mais autoconfiante e é por isso que os homens te olham mais”. Balela. A autoconfiança sempre esteve no mesmo lugar: no próprio eixo, nos valores, na certeza interna de que 15 quilos a mais não mudam quem você é ou o quanto você se sente feminina. Muda, sim, o olhar do mundo. Só quem se sabia antes mulher e ainda se sabe depois é que pode afirmar isso. São tão poucas assim, que a teoria do “tudo está na sua cabeça” acaba prevalecendo. Mas eu sabia que não era coisa da minha cabeça, mas do espaço em que vivo. Exatamente por ter certeza disso e pelas facilidades que me render a isso traz, estou indo em frente.

Eu: A saúde é uma preocupação sua, com relação à gordura, ou não?
Ela:
Ainda não tive problemas de saúde em razão da gordura. Devo me preocupar, por fazer parte de uma família de cardiopatas, com pressão alta. A questão é que, apesar da gordura, decorrente mais da quantidade do que como e menos da qualidade dos alimentos escolhidos, estou com a saúde, do ponto de vista médico, em dia. Então, não posso fingir que estou emagrecendo por “uma questão de saúde” ou que seja realmente “por mim”. Seria mais fácil e legítimo. Mas não é verdade. (A verdade) é muito menos nobre. Eu emagreço para atender a uma exigência externa, social, de um padrão de magreza. Consciente que não é um desejo próprio genuíno, nem uma prioridade interna, nem qualquer demanda de saúde. Foi uma vontade que surgiu para atender a algo que me é totalmente externo e um tanto frívolo. Repetir isso não é fácil. Mas é honesto.

Eu: Na sua decisão de emagrecer é possível saber o quanto é desejo seu e o quanto é necessidade de ser aceita?
Ela:
Estou realmente cansada da rejeição, principalmente a masculina, por não ter o peso que se considera adequado. Correndo o risco da generalização, acho que, se um homem estiver diante de uma mulher bacana e gorda e de uma mulher com mais dificuldades emocionais e magra, ele escolherá a segunda. Também estou cansada da reprovação familiar e social por estar gorda. Eu quase posso ler nos olhares amigos: “Mas como alguém como você, disciplinada e dedicada, não emagrece logo e se mantém magra?”. Gordura tornou-se sinônimo de indolência, preguiça, pouca confiabilidade e quase falta de caráter, em determinadas esferas sociais. Neste contexto, minha escolha é 100% decorrente da necessidade de ser aceita. Na verdade, eu escolho dar este poder ao mundo em que vivo e atendê-lo. Não é um desejo meu, desejo aqui entendido como algo que vem dos próprios valores, do inconsciente, do centro. É uma escolha para facilitar a aceitação externa.

Eu: O que você perde por ser gorda?
Ela:
Perco, principalmente, o olhar de desejo masculino. E “ganho” o olhar de reprovação familiar, dos amigos, conhecidos...

Eu: E o que você perde, ao tentar emagrecer, além de quilos?
Ela:
Poderia dizer que perco algumas coisas como: 1) a maior disponibilidade de tempo que tinha para minha família (agora que priorizei fazer atividade física frequente, os horários ficaram mais apertados); 2) os convites para tomar cerveja (não consigo tomar refrigerante zero, então prefiro não aceitá-los para evitar a tentação “que desce redondo”); 3) os jantares mensais realizados em casa para os amigos, verdadeiros encontros gastronômicos; 4) a leveza com que sentava a qualquer mesa para comer (agora passo os dias contando calorias e concentrada em evitar excessos). Mas não é isso o principal. Eu perco principalmente a sensação de que guio a minha vida pelos meus valores. Perco uma das coisas que me é mais cara: a fidelidade àquilo em que acredito. E eu acredito que magreza é uma das características mais irrelevantes de uma pessoa. Acredito que usar meu precioso tempo para investir em algo tão irrelevante é um verdadeiro absurdo, com tantas outras prioridades e demandas mais importantes na vida. Acredito que a sociedade atual perdeu a noção do que é básico indispensável e do que é absolutamente supérfluo nos seres humanos. Apesar de pensar todas essas coisas, eu traio aquilo em que acredito. Torno-me parte de um conjunto burguês, oco, superficial, vazio e – por que não dizer? – até medíocre. E finjo que estou extremamente feliz, e só feliz, por emagrecer. Afinal de contas, quem é que vai acreditar na maluquice de uma mulher se sentir mal pelo simples fato de se render à pressão externa, se ela está mais magra e, teoricamente, “mais bonita”, com todos os ganhos que isso implica? Ninguém acreditaria que, no lugar de uma felicidade plena pela “beleza-magra adquirida”, eu esteja sentindo que perder a mim mesma não é nada fácil.

Eu: Se há tantas perdas, por que emagrecer? Você me escreveu que algo de você “já começou a morrer”. O que? Que luto é este?
Ela:
É o luto de quem entrou para a manada. De quem perdeu a própria individualidade, que não está na gordura, mas na capacidade de ser fiel aos próprios valores e prioridades. O luto de quem desistiu de defender a multiplicidade pós-moderna – onde haveria espaço inclusive para os obesos, ou seja, para existências e escolhas as mais diferentes possíveis – e se rendeu à verdade única moderna: a magreza. É o luto de me ver misturada a valores que sempre considerei de segunda linha, como a valorização excessiva da imagem – o que parecemos – em vez daquilo que de fato somos. Há algo da minha alegria genuína que vai se perdendo nesse processo. É como se eu pensasse: “Tudo bem, pessoal, vamos lá. Serei uma de vocês. Dá mesmo muito trabalho sustentar ser eu mesma nesse mundo”. Há algo de muito triste nessa experiência que, aliás, tem muito de desistência. E não adianta dividir essa tristeza, porque todos julgam esse sentimento como uma “defesa inconsciente típica do gordo” que, com base nela, vai acabar achando um jeito de “boicotar o emagrecimento e voltar ao lugar triste da obesidade”. Na verdade, não vou boicotar, não. Dá vontade de dizer: “Respirem aliviados e não gastem saliva. Serei magra e farei tudo para me manter assim. Estará tudo bem em algum tempo. Estaremos do mesmo lado”. Já entendi que, no meio social em que vivo, é o único jeito de não sofrer significativas sanções de exclusão.

Eu: Mas, vou insistir. Se é um processo tão violento para você, por que emagrecer?
Ela:
É verdade que dieta é uma violência com relação a tudo o que eu acredito. Talvez soe até bobo e infantil reclamar da escolha de emagrecer. É provável até que não faça sentido e que o sentido aparente termine sendo o amoroso-sexual. Sem dúvida, este ganho está presente. Mas há outros. E não é que eu não consiga viver sem estes outros ganhos. Consigo, tanto que vivi, e bem, até aqui. A questão é que estou exausta do esforço que é preciso para isso. Eu não quero ouvir dicas sobre a importância de emagrecer, correr, fazer dieta, a cada telefonema, a cada encontro, a cada email. Diante do meu pedido expresso para que isso não ocorra, não quero ver o melhor amigo passar os meses se segurando, com grande esforço, para não terminar cutucando o assunto de forma impiedosa. Não quero ouvir alguém que pesa mais de 120 quilos gritar que “não há ninguém no mundo que seja feliz sendo gordo!”, me acusando de mentir para mim mesma, quando afirmo que magreza não é exatamente um valor próprio. Não quero ser ignorada na boate porque estou gorda, nem ouvir que estou solteira porque estou gorda, nem perceber os colegas fiscalizando o tamanho do meu prato, nem ver condenação estampada nos olhares que me rodeiam. Este massacre pelo emagrecimento me encheu tanto que prefiro virar uma “paty-tamanho-40”, com um sorriso no rosto sujo por uma folha de rúcula e por um tanto de covardia. Eu realmente estou cansada de, tendo de lidar com tantas coisas difíceis no cotidiano, ainda aguentar os olhares que me dizem o quão imperdoável é estar acima do peso. Veja bem: Não é que seria impossível aguentá-los. Mas é preciso esforço demais... E a vida já anda com desafios significativos. Declino da batalha e entrego os pontos.
Eu: Você me disse que emagrecer é uma espécie de “se perder e se prostituir”. Por quê?
Ela:
Como eu disse, emagrecer foi uma escolha para atender algo que não é fruto do meu próprio desejo. Eu, que me considero tão centrada, tornei-me refém de valores que jamais serão meus, não importa o quanto os siga, por fraqueza ou por covardia. Especificamente sobre a sensação de estar me “prostituindo”, é como se o pagamento pelo esforço em emagrecer se desse em olhares de admiração e de tesão. Às vezes parece um preço alto e absurdo demais para este estranho sexo social. Quando penso que estou usando uma parcela da minha vida para lidar com isso e, no mesmo instante, no mesmo país, há alguém faminto, me sinto uma verdadeira aberração. Tenho receio de terminar esse caminho meio perdida, sem saber direito aquilo em que acredito, nem muito bem o que desejo. Tenho receio de uma nostalgia saudosa do gozo assumido e inteiro, muito mais suave, a que estava acostumada. Porque podia até não ser perfeito, mas eram escolhas inteiras. Sempre achei que estar íntegro no erro é melhor do que alienada em eventuais acertos exógenos. Por outro lado, atendendo a essa exigência social, a vida no meio em que me relaciono pode se tornar mais fácil. Estar acima do peso dificulta bastante os dias numa terra de mulheres deslumbrantes, bem cuidadas e magras. E há um momento da vida em que você descobre que, se já superou tempos difíceis, tem direito à sua cota mínima de covardia e futilidade nessa existência. Estou exercendo minha cota. Covarde demais para me manter quem eu era, me rendi ao mundo e estou fazendo sacrifícios para emagrecer. Não falo isso como uma grande vítima. Mas como uma mulher adulta, como um sujeito de escolhas conscientes e incoerentes.

Eu: É uma escolha sua ou do mundo?
Ela:
A escolha, eu acho, é minha. Porque é lógico que eu poderia continuar gorda. Dentre as mulheres gordas que conheço, talvez eu fosse daquelas que realmente sustentaria, razoavelmente feliz, ser quem é. Quer saber a razão de eu não fazer isso? É lógico que quero, e muito, como todo ser humano, ser aceita e amada. Mas, mais do que isso e principalmente: eu quero uma vida mais fácil. Simples e fútil assim. Estou cansada de batalhar por valores que as pessoas, inclusive as muito queridas, sequer entendem. Juntar-me ao todo dá uma sensação de alívio coletivo e este alívio faz com que me deixem em paz, que é exatamente o que eu desejo e preciso agora. Então eu tomo só um chope pequeno, num dia de calor insuportável, em que não haveria nada demais tomar os três habituais. E volto caminhando para casa para queimar as calorias. No dia seguinte, não como duas fatias de pão integral light, mas só uma. Por fim, confesso o pecado para a nutricionista, que me absolve, com um ato de contrição que exclui queijo amarelo por dois meses. Saí mais cedo do bar e perdi as últimas gargalhadas para não correr o risco de tomar mais um chope. Fiquei com fome durante toda a manhã e sonho, há dias, com requeijão derretido no micro-ondas. Mas tudo bem.

(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)
ebrum@edglobo.com.br
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).

SAIBA MAIS
»Leia outras colunas de Eliane Brum