sexta-feira, 22 de junho de 2012

O Direito ao Delírio - Eduardo Galeano


"Mesmo que não possamos adivinhar o tempo que virá, temos ao menos o direito de imaginar o que queremos que seja.
 
As Nações Unidas tem proclamado extensas listas de Direitos Humanos, mas a imensa maioria da humanidade não tem mais que os direitos de: ver, ouvir, calar.
 
Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar? Que tal se delirarmos por um momentinho?
 
Ao fim do milênio vamos fixar os olhos mais para lá da infâmia para adivinhar outro mundo possível. O ar vai estar limpo de todo veneno que não venha dos medos humanos e das paixões humanas. As pessoas não serão dirigidas pelo automóvel, nem serão programadas pelo computador, nem serão compradas pelo supermercado, nem serão assistidas pela televisão. 
 
A televisão deixará de ser o membro mais importante da família. 
 
As pessoas trabalharão para viver em lugar de viver para trabalhar. 
 
Se incorporará aos Códigos Penais o delito de estupidez que cometem os que vivem por ter ou ganhar ao invés de viver por viver somente, como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca.
 
Em nenhum país serão presos os rapazes que se neguem a cumprir serviço militar, mas sim os que queiram cumprir.
 
Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à quantidade de coisas.
 
Os cozinheiros não pensarão que as lagostas gostam de ser fervidas vivas.
 
Os historiadores não acreditarão que os países adoram ser invadidos.
 
O mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas sim contra a pobreza.
 
E a indústria militar não terá outro remédio senão declarar-se quebrada.
 
A comida não será uma mercadoria nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos.
 
Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão.
 
As crianças de rua não serão tratadas como se fossem lixo, porque não haverá crianças de rua.
 
As crianças ricas não serão tratadas como se fossem dinheiro, porque não haverá crianças ricas.
 
A educação não será um privilégio de quem possa pagá-la e a polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la.
 
A justiça e a liberdade, irmãs siamesas, condenadas a viver separadas, voltarão a juntar-se, voltarão a juntar-se bem de perto, costas com costas.
 
Na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental, porque elas se negaram a esquecer nos tempos de amnésia obrigatória.
 
A perfeição seguirá sendo o privilégio tedioso dos deuses, mas neste mundo, neste mundo avacalhado e maldito, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro."

postado em
http://sociedadesemprisoes.blogspot.com.br/2011/12/o-direito-ao-delirio-eduardo-galeano.html

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Você não me conhece - captado na internet, os créditos estão no final do texto, muito bom pra compartilhar

March 22, 2012

You’ve probably seen me on the news on more than one occasion, but you may not recognise me if you see me on the street.

You probably don’t even notice that I’m there, or if you do, it’s to sneer at how disgusting I am. To scoff at how greedy and lazy I am. To declare that I am driving up health care costs or costing taxpayers money.
But you don’t know anything about me – you’ve just seen me there on the news, or in a magazine article.
You see, when I’m represented in the media, it is usually with my head cut off, unflattering footage of me seated, walking or eating – all things everyday people do, but are deemed unattractive in fat people – and the media is talking about curing me, preventing me, eradicating me.
Rarely am I seen represented as a full person, with my head visible, my face identifiable and with any information about me other than my fatness.
You don’t see me in the context of my career, my friends, my life. You don’t see me as a contributing member of society, who works hard, pays her taxes, pays her own way in life.  Nobody sees me as I actually am – intelligent, compassionate, dedicated, funny, productive, joyful, active, fashionable, loved.
The impact of that is a culture that treats fat people, and especially fat people with illness or disability, as sub-human.
In recent times I have been sent death threats on my blog because I talked about being a fat woman with diabetes.
I have been photographed on the street or other public places by complete strangers (at least four times that I know of), had a well dressed woman of about 45 call me a “fat c***” as she passed me on a train platform, been spat at by a man passing me on the street and had rubbish thrown at me from a car.

This is everyday life for me, just for living in a fat body.

These things don’t happen because there are lots of bad, horrible people in my city. These things happen because every day people are told over and over and over that people like me are an “obesity epidemic” that must be “cured” for the good of the human race.   Because it is bred in our society that fat is the worst thing you can possibly be, so therefore it’s ok to behave horribly to fat people.
Because “You’re not healthy!” has become the equivalent to “You are a worthless person!”
Thing is, we fat people see ourselves on the evening news.
We recognise ourselves, even with our heads removed. I cannot tell you what it is like to be watching the evening news and to see your own body, head removed, in a story that is calling for your eradication.
I can’t tell you how devastating that is. I can tell you that later that year, after the first time I saw my own body on the evening news, I tried to take my own life. I felt so worthless because no matter what I did, I could not make myself thin, and because everywhere I turned, someone was saying that I should be eradicated. I was not a person, I was part of the “OBESITY EPIDEMIC”.
We need to stop vilifying and dehumanising fat people.
We need to stop making people’s bodies a public health issue. It is a private matter, as individual to each human being as their fingerprint or their blood type, that should be between that person and their health care providers. We need to allow all people in all bodies to live their lives to the fullest, without fear of abuse or shaming.
After all, you cannot shame someone thin, nor can you shame them healthy.
RELATED ARTICLES
Thin=good Fat=bad
A broader view of broader people
Not the naked truth
*Kath Read is a humble IT librarian by day, rad fatty feminist by night. She writes at Fat Heffalump on all subjects related to life in a fat body.

http://thehoopla.com.au/you-dont-know-me/

sábado, 2 de junho de 2012

Uma Sutil Diferença



como nada é por acaso, não foi à toa que esse texto vei parar nas minhas mãos pra eu compartilhar com vc


Ainda que tudo pareça do mesmo jeito, sem muitas mudanças, o ano de 2003 já vai entrar no seu segundo trimestre. Com o novo ano chegaram as novas expectativas, e eu sei que o seu coração ainda tem muitas delas. É impossível ser jovem sem estar inflacionado de expectativas. À medida que o tempo passar, elas tenderão a diminuir, mas, enquanto se tem pouca idade, elas são mais intensas. E isso é fácil de entender. Expectativas ocupam os mesmos lugares no coração que as esperanças. E embora pareçam ser as mesmas coisas, acredito que possamos diferenciá-las de uma maneira muito simples.
Expectativas geram desgastes e geralmente trazem desilusões. As esperanças, não. Esperar é próprio de quem já se sente construindo a realidade que se espera. Esperança é isso. É fazer aos poucos aquilo que ainda não pode ser feito de uma única vez e, por isso, carece de pequenas iniciativas. Juntas, elas compõem a realidade esperada. Expectar é ficar na ansiedade sem nada fazer. Esperar é fazer, enquanto se espera.
Você já deve saber o que significa alimentar expectativas a respeito das coisas e das pessoas. É muito próprio do nosso tempo viver em torno dessas expectativas que nunca se concretizam. Por isso, tantas decepções. É que a expectativa cega os olhos para o real, ao passo que a esperança nos aponta para ele.


A esperança que amadurece

Na esperança existe espaço para se alimentar perspectivas de futuro. Projeta-se a vida, respeitando o seu mistério, e luta-se para chegar onde se propõe. A esperança amadurece o coração humano, porque é impossível lutar sem sofrimento. Não se trata de adotar uma postura masoquista, de querer sofrer para crescer. Não! Muito pelo contrário, não é preciso buscar o sofrimento, ele já está em todo lugar em que honestamente o humano estiver presente. Só é preciso identificá-lo no momento certo, e então colhê-lo com serenidade.
Recordo-me de uma pequena frase que escutei certo dia: “O mundo não pode parar aquele que sabe onde quer ir”. E é verdade. Quem sabe onde quer ir saberá sofrer as restrições que a sua opção lhe trará. E nisto está a maturidade. Por mais que o mundo seja plural, marcado por inúmeras possibilidades, é sempre necessário escolher algumas poucas e lutar por elas. E todo processo de escolha exige renúncia e acolhimento. Deixa-se algumas possibilidades para assumir outras.
Talvez seja por isso que a maturidade custe a chegar no coração de muitos jovens como você. Eles querem tudo e, por isso, não têm nada. Vivem mergulhados nas expectativas que passam, sem que nada permaneça de concreto. Esqueceram de se dedicar às pequenas coisas que geram as maiores. É que toda grande realização só pode ser feita a partir de pequenas iniciativas. É como suportar o sofrimento de uma aula de matemática ou de outra matéria que não lhe agrada tanto. Ela passa, mas antes é preciso vivê-la e dela retirar os frutos. Se bem vivida agora, ela será útil no dia do vestibular. E então chegamos a conclusão: valeu o sofrimento daquela hora.

O futuro é agora

A vida, antes de ser grande é pequena. Gerar grandes acontecimentos e realizações requer paciência com as pequenas coisas. É assim que vamos fazendo a mistura perfeita entre presente e futuro. Perspectivas futuras e realidades presentes não são coisas que se anulam, mas se complementam.
É no exercício de viver bem o presente que vamos nos preparando para acolher um futuro de qualidade. Nossa esperança é operante. Ela não nos deixa cruzar os braços, mas impulsiona-nos para a construção deste futuro que já é agora.
 
Por isso, que daqui para frente, seu coração tenha menos expectativas e muito mais esperanças. 
 
 
Padre Fábio de Melo