terça-feira, 30 de julho de 2013

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma.

Quem tem alma não tem calma.

Quem vê é só o que vê,

Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e não eu.

Cada meu sonho ou desejo

É do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem;

Assisto à minha passagem,

Diverso, móbil e só,

Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser.

O que segue não prevendo,

O que passou a esquecer.

Noto à margem do que li

O que julguei que senti.

Releio e digo : "Fui eu ?"

Deus sabe, porque o escreveu.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 26 de julho de 2013

copiado do "cara/livro"

De Feminismo na Rede - Original
Mulher tem que se dar o respeito

Mulher tem que se dar o respeito? O que é se dar o respeito para uma mulher? Ser casta? Não beber? Não fumar? Cobrir o corpo? Casar? Ter filhos? Eu já cansei desse discurso, há muito tempo!
Se dar o respeito é, antes de tudo, respeitar a si mesma! É fazer o que tem vontade, realizar seus desejos, ser feliz. Se dar o respeito é entender que sua vida particular diz respeito somente a você, que ninguém tem direito de te julgar a partir dela e que seu valor não é definido pela quantidade de pessoas com quem você teve relações sexuais, seu valor não é definido pela sua genitália. Se dar o respeito é saber que você não nasceu para agradar o sexo oposto, é saber que você tem o direito de agir como achar correto, é saber que você é linda e não precisa se sacrificar pra agradar gente imbecil, ficando neurótica com seu corpo, seu cabelo, suas roupas. Se dar o respeito é não ficar se preocupando com aquele babaca que você gostaria de namorar mas que acha você uma vadia, uma gorda, uma vulgar, uma puta. Por que você se preocuparia com um idiota?! Se dar o respeito é não casar se você não quiser casar, é não ter filhos se você não quiser ter filhos e é também casar se você quiser, e cozinhar pro seu marido se você quiser, e limpar a casa se você quiser, porque o seu marido te respeita e sabe que essas coisas também são deveres dele e ele também participa dessas tarefas, pois você tem um companheiro, não um dono. Se dar o respeito é usar a roupa que você gosta, com a cabeça erguida, tendo claramente a noção de que ninguém tem direito de te desrespeitar por causa disso. Se dar o respeito é não permitir que abusem de você por você ser mulher, é assumir o que você é sem medo, é não assumir esse “perfil feminino” pré-definido: frágil, rosa, maquiado, delicado, embonecado, recatado, meigo, sexy, perfumado, depilado, produzido, operado, siliconado, malhado, magro, prendado, maternal... Enfim! Se dar o respeito é não ter medo de fazer o que tem vontade, é agir como achar melhor, e é respeitar o seu próximo, pois respeito é algo que deve ser recíproco e merecido, não imposto.
Aí você pergunta: e homem? Não precisa se dar o respeito?
E você ouve: precisa, mas...
"Mas" o quê? Eu sou tão ser humano quanto um homem. Eu pago meus impostos assim como os homens. Eu tenho sentimentos assim como os homens. Ou sou tão capaz quanto os homens. Todos temos que nos dar o respeito! Sabe, o machismo não é exclusividade dos homens e o feminismo não é exclusividade das mulheres. Porque o que eu vejo de mulheres ofendendo, desprezando e apontando umas as outras de um ponto de vista completamente machista, não é pouco. E também o que eu vejo de homens bacanas, que acreditam que as mulheres têm os mesmos direitos que os homens, também não é tão pouco assim.
Eu sei que a sociedade nunca será perfeita e que para algumas pessoas é difícil mudar de opinião, mas eu só queria um mundo em que todas as pessoas fizessem ao menos o possível para que houvesse mais igualdade, um mundo em que todas as pessoas se dessem o respeito e respeitassem o próximo.

Obrigada @Natália Pohlmann, a autora do texto que pediu pra gente publicar

 https://www.facebook.com/feminismonarede?hc_location=timeline

terça-feira, 23 de julho de 2013

um texto da Tati


Ontem depois que você foi embora confesso que fiquei triste como sempre. Mas, pela primeira vez, triste por você. Fico me perguntando que outra mulher ouviria os maiores absurdos como você, um homem de 32 anos, planejar ir a uma matinê brega com gente sem assunto no próximo domingo e, ainda assim, não deixar de olhar pra você e ver um homem maravilhoso. Que outra mulher te veria além da sua casca? Você não entende que eu baixei a música do “Midnight Cowboy” e umas boas do Talking Heads, Vinícius de Morais e do Smiths porque achei divertido te fazer uma massa ouvindo algumas músicas que dão vontade de viver. Uma massa que você não vai comer porque está perdendo o paladar para o que a vida tem de verdadeiro e bom. É tanta comida estragada, plastificada e sem sal, que você está perdendo o paladar para mulheres como eu. E você não sabe como vale a pena gostar de alguém e acordar na casa dessa pessoa e tomar suco de manga lendo notícias malucas no jornal como o cara que acha que é vampiro. Tudo sem vírgula mesmo e, nem por isso, desequilibrado ou antes da hora. Você não sabe como isso é infinitamente melhor do que acordar com essa ressaca de coisas erradas e vazias. Ou sozinho e desesperado pra que algum amigo reafirme que o seu dia valerá a pena. Ou com alguma garotinha boba que vai namorar sua casca. A casca que você também odeia e usa justamente para testar as pessoas “quem gostar de mim não serve pra mim”.
E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que você seja esperto e jamais me perca e seja feliz. E entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz. A gente dá muitas risadas juntos. A gente admira o outro desde o dedinho do pé até onde cada um chegou sozinho. A gente acha que o mundo está maluco e sonha com a praia do Espelho e com sonos jamais despertados antes do meio-dia. A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo é melhor do que a nuca do outro no final do dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida. E você me olha com essa carinha banal de “me espera só mais um pouquinho”. Querendo me congelar enquanto você confere pela centésima vez se não tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E sempre volta. Volta porque pode até ter uma coxa mais dura. Pode até ter uma conta bancária mais recheada. Pode até ter alguma descolada que te deixe instigado. Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem. Porque, quando você está com medo da vida, é na minha mania de rir de tudo que você encontra forças. E, quando você está rindo de tudo, é na minha neurose que encontra um pouco de chão. E, quando precisa se sentir especial e amado, é pra mim que você liga. E, quando está longe de casa gosta de ouvir minha voz pra se sentir perto de você. E, quando pensa em alguém em algum momento de solidão, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, é em mim que você pensa. Eu sei de tudo. E eu passei os últimos anos escrevendo sobre como você era especial e como eu te amava e isso e aquilo. Mas chega disso.
Caiu finalmente a minha ficha do quanto você é, tão e somente, um cara burro. E do quanto você jamais vai encontrar uma mulher que nem eu nesses lugares deprê em que procura. E do quanto a sua felicidade sem mim deve ser pouca pra você viver reafirmando o quanto é feliz sem mim e principalmente viver reafirmando isso pra mim. Sabe o quê? Eu vou para a cama todo dia com 5 livros e uma saudade imensa de você. Ao invés de estar por aí caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou para me esquecer. Porque eu me banco sozinha e eu me banco com um coração. E não me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por causa disso. E eu malho todo dia igual a essas suas amiguinhas de quem você tanto gosta, mas tenho algo que certamente você não encontra nelas: assunto. Bastante assunto. Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia porque me acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba. Eu tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrás de se tornarem a melhor fruta de uma feira. Pra depois serem apalpadas e terem seus bagaços cuspidos. Também sou convidada para essas festinhas com gente “wanna be” que você adora. Mas eu já sou alguém e não preciso mais querer ser. E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim. Coitado.

Tati Bernardi

sábado, 20 de julho de 2013

Grandes e pequenas mulheres - amo demais essa autora, depois de ler esse texto dela, a gente vê que não é pra menos...



Há mulheres de todos os gêneros. Histéricas, batalhadoras, frescas, profissionais, chatas, inteligentes, gostosas, parasitas, sensacionais. Mulheres de origens diversas, de idades várias, mulheres de posses ou de grana curta. Mulheres de tudo quanto é jeito. Mas se eu fosse homem prestaria atenção apenas num quesito: se a mulher é do tipo que puxa pra cima ou se é do tipo que empurra pra baixo.

Dizem que por trás de todo grande homem existe uma grande mulher. Meia-verdade. Ele pode ser grande estando sozinho também. Mas com uma mulher xarope ele não vai chegar a lugar algum.

Mulher que puxa pra cima é mulher que aposta nas decisões do cara, que não fica telefonando pro escritório toda hora, que tem a profissão dela, que o apóia quando ele diz que vai pedir demissão por questões éticas e que confia que vai dar tudo certo.

Mulher que empurra pra baixo é a que põe minhoca na cabeça dele sobre os seus colegas, a que tem acessos de carência bem na hora que ele tem que entrar numa reunião, a que não avaliza nenhuma mudança que ele propõe, a que quer manter tudo como está.

Mulher que puxa pra cima é a que dá uns toques na hora de ele se vestir, a que não perturba com questões menores, a que incentiva o marido a procurar os amigos, a que separa matérias de revista que possam interessá-lo, a que indica livros, a que faz amor com vontade.

Mulher que empurra pra baixo é a que reclama do salário dele, a que não acredita que ele tenha taco pra assumir uma promoção, a que acha que viajar é despesa e não investimento, a que tem ciúmes da secretária.

Mulher que puxa pra cima é a que dá conselhos e não palpite, a que acompanha nas festas e nas roubadas, a que tem bom humor.

Mulher que empurra pra baixo é a que debocha dos defeitos dele em rodinhas de amigos e que não acredita que ele vá mais longe do que já foi.

Se por trás de todo grande homem existe uma grande mulher, então vale o inverso também: por trás de um pequeno homem talvez exista uma mulher pequena.

Martha Medeiros

quarta-feira, 17 de julho de 2013

hj estou muito "amor"...
maaaassssss.... vai tentar explicar pra qq um "o gozo" do ponto de vista aristotélico ou socrático????,
ou o gozo da pulsão da morte freudiana, ou a doutrina do gozo lacaniana...
ou a diferença entre saber e gozo, ou o saber do gozo, ou o gozo do saber...
ou até mesmo o sabor do gozo, rsrs... (aqui eu fui puro evil, eu sei, eu sei...)
ou a diferença entre amor, desejo e gozo...
ou a promoção do gozo, que é diferente do desejo,  que é diferente do gozo objetal...
ou na formação da subjetividade do indivíduo, e mais ainda, na especificidade do gozo místico feminino, aqui novamente voltando pra Lacan...
pinçando, somente pinçando, uma das belas frases dele (Lacan):
"só o amor consente ao gozo condescender ao desejo"
-já dá pra mais de um semestre na faculdade só pra começar a entender tudo que essas simples palavras tem pra dizer, isso se ficar só por aqui, nessa singela frase...

entendendo que pessoas que não "gozam" na vida, não estão plenas em si!!!! e aí residindo toda a diferença entre viver e existir, como diria Oscar Wilde...
lembrando que de maneira nenhuma se pode pensar a sexualidade meramente ligada a genitalidade, isso sendo extremamente empobrecedor para nós humanos, para  a fruição de uma vida saborosa em todos os aspectos possíveis!

e que isso tudo veio de um trocadilho na embalagem de um preservativo qu e vi num stand de vendas na drogaria que entrei pra comprar remédio pra dor de cabeça, vixê!!!!
realmente, esses bandos de psis não podem ser pessoas que batem bem da bola!
oooopppps, que sacrilégio, pensar sobre coisas mais importantes qd o circo está armado pra entorpecer o povo!
mas não é que isso tem a ver/está relacionado com a cidadania?
pq qt mais um povo quiser ter seu "gozo" defendido, mais vai lutar pelos seus direitos!!!
de novo, esse povo psi, que mania esquisita eles têm de pensar sobre a vida...
sobre quase tudo ou quase o nada...


Existem muitas maneiras de acabar com a auto-estima de alguém: oprimindo, desconsiderando, desrespeitando, impedindo de falar, excluindo, mentindo, não olhando, não cuidando... etc, etc. Mas uma só maneira de construir uma auto-estima: respeitando a si mesmo, em primeiro lugar. Aqueles que se respeitam são aqueles que possuem auto-estima. São também os únicos capazes de construir a auto-estima de outro. O narcisismo do homem passa sempre pelo narcisismo do outro.

sábado, 13 de julho de 2013

GENTE LIGHT


Vou ao supermercado e observo o crescimento do setor de dietéticos. Abro revistas e me deparo com as exigências de ter um corpo esbelto. As clínicas de cirurgia plástica estão com a agenda lotada de homens e mulheres esperando sua vez para lipoaspirar, contar, reduzir. A sociedade toda conspira a favor da magreza, e de certo modo isso é positivo, sem magro faz bem para a auto-estima e para a saúde. Mas não tenho visto ninguém estimular outro tipo de dieta igualmente necessária para o bem estar da população. Encontro suco light, chocolate light, iogurte light, mas pessoas light é raridade.
Muita gente se preocupa em ser magro, mas não se preocupa em ser leve. Tem criaturas aí pesando 48 quilos e é um chumbo. São aqueles que vivem se queixando. Possuem complexo de perseguição, acham que o planeta inteiro está contra eles. Não se dão conta de sua arrogância, possuem a certeza de que são a razão da existência do universo. Estão sempre dispostos a fazer uma piadinha maldosa, uma fofoquinha desabonadora sobre alguém. Ressentidos, puxam o tapete dos outros para se manter em pé. Não conseguem ver graça em nada, não relevam as chatices comuns do dia-a-dia, levam tudo demasiadamente a sério. são patrulhadores, censores, carregam as dores do mundo nas costas. Magrinhos, é verdade. Mas que gente pesada.
Ser minimalista todo mundo acha moderno, mas ser leve - cruzes! - parece pecado mortal. Os leves, segundo os pesados, não têm substância, não têm profundidade, não têm consciência intelectual: não são leves, e sim levianos. Os pesados não conseguem fechar o zíper das suas roupas de tanto preconceito saltando pra fora.
Não bastasse a carga tributária, a violência, a burocracia e a corrupção, ainda temos que enfrentar pessoas rudes, sem a menor vocação para se divertir. Diversão - segundo os pesados, mais uma vez - é algo alienante e sem serventia. Eles não entendem como alguém pode extrair prazer de coisas sérias como trabalho e família. Não entendem como é que tem gente que consegue viver sem armar barracos e criar problemas.
Eu proponho uma campanha de saúde pública: vamos ser mais bem-humorados, mais desarmados. Podemos ser cidadãos sérios e responsáveis e, ao mesmo tempo, leves. Basta agir com delicadeza, soltura, autenticidade, sem obediência cega às convenções, aos padrões, ao patrões. Um pouco mais de jogo de cintura, de criatividade, de respeito às escolhas alheias. Vamos deixar para sofrer pelo que é realmente trágico, e não por aquilo que é apenas um incômodo, senão fica impraticável atravessar os dias.
Dores de amor, falta de grana e angústias existenciais são contingências da vida, mas você não precisa soterrar os outros com seus lamentos e más vibrações. Sustente seu próprio fardo e esforce-se para aliviá-lo. Emagreça onde tem que emagrecer: no espírito, no humor. E coma de tudo, se isso ajudar.

Martha Medeiros