terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ai de nós, quem mandou?

MARTHA MEDEIROS

Mulheres ganham salários menores do que os dos homens, e líderes feministas seguem lutando para reverter essa injustiça. Mas já não sei se é boa ideia continuar batalhando por igualdade. Depois de ler o resultado de uma recente pesquisa feita pela Universidade de Harvard, fiquei inclinada a pensar que talvez seja melhor manter as coisas como estão. A pesquisa chama-se Schooling Can’t Buy Me Love (Escolaridade não pode me comprar amor) e confirma que mulheres que estudam mais acabam progredindo e, quanto mais bem-sucedidas, menores as chances de se casar. Os homens ainda não estão preparados para abrir mão da superioridade que o papel de provedor lhes confere. E mesmo os mais antenados, que apoiam que suas mulheres sejam independentes, ficam inseguros se elas tiverem cargos de chefia e muita visibilidade. Ganhar dinheiro, tudo bem, mas aparecer mais do que eles já é desaforo.

Beleza. O que vamos dizer para nossas filhas? Estudem, mas fazer doutorado e mestrado é exagero, antes um bom curso de culinária. Tenham opiniões próprias quando conversarem com as amigas, mas em casa digam só “ahã”, para não se incomodar. Usem seu dinheiro para comprar roupas, pulseiras e esmaltes, esqueçam o investimento em viagens, teatro e livros. E, na hora de se declararem, troquem o “eu te amo” por “eu preciso de você”, “eu não sou ninguém sem você”, “eu não valho meio quilo de alcatra sem você”. Homens querem se sentir necessários. Só amados não serve.
Que encrenca que as feministas nos arranjaram. Estimularam o pensamento livre, a autoestima, a produtividade e a alegria de trilhar um caminho condizente com nosso potencial. De apêndices dos nossos pais e maridos, passamos a ter um nome próprio e uma vida própria, e acreditamos que isso seria excelente para todos os envolvidos, afinal, os sentimentos ficaram mais honestos, e com eles os relacionamentos. O amor deixou de ser o álibi para um lucrativo arranjo social. Passou a ser mais espontâneo, e as carências de homens e mulheres foram unificadas, já que todos precisam uns dos outros para dividir angústias, trocar carinho, pedir apoio, confessar fraquezas, unir forças no momento das dificuldades. Todos se precisam da mesma forma, não de formas distintas. Mas há quem defenda que homem só precisa de paparico e mulher de quem tome conta dela, punto e basta.
Nunca imaginei que em 2010 ainda estaria escrevendo sobre isso. Achei que os homens já tivessem percebido o quanto ganham em ter uma mulher inteira a seu lado, e não um bibelô. Acreditei que a competitividade tivesse dado lugar a um companheirismo mais saudável e excitante, onde todos pudessem se orgulhar dos seus avanços e se apoiar nas quedas, mas que iludida: isso é coisa pra meia dúzia de emancipada, filha. Essas mulheres aí que não cozinham, não passam, não lavam, só evoluem, essas não são exemplo pra ninguém, são umas coitadas de umas infelizes que pagam as contas e ainda se acham divertidas, se fazem de inteligentes, querem bater perna em Nova York, pois vão arder no fogo do inferno, vão amargar na solidão, vão se arrepender de ter lido aquela Simone de Beauvoir, vão morrer abraçadas aos seus laptops, aqui se faz, aqui se paga, escreve aí.

Tamo ferrada.

O Globo - 12/09/2010



mesmo assim não me troco por nada, por pagar esse preço até injusto, pela minha lucidez, por não viver em fugas, nas mil armadilhas que a ilusão de uma pseudoexistência pode criar de felicidade, de jogos de variadas formas e texturas, pois já vivi a loucura até a fronteira do possível e hoje estou aqui, rindo do que posso, chorando as vezes, mas verdadeira comigo mesmo até onde eu der meu último suspiro. Eu sou, verdadeiramente, ESPECIAL!, sou uma sobrevivente de acontecimentos inenaráveis, de angústias impensáveis, de horrores inconfessáveis, de traumas e violências profundas... e tenho uma doçura, sensibilidade, afabilidade, que não permito que ninguém me tire. A luz e o amor que carrego, não deixo que seja conspurcado pelo horror que eu tenha vivido, pq passando pela noite mais escura, é que se pode reconhecer a dádiva do amanhecer.  Ainda busco um amor...

PS: e ainda sei lavar, passar e cozinho direitinho... minha casa é bunitinha, desenhei eu mesma meus móveis, isto é, sou relativamente prendada... pago todas as minhas contas, tenho meu carro, e pelo que converso em relação a todas as minhas amigas, consegui vencer a maioria dos tabus sexuais que tanto atrapalham as relações, se isso não é auto-ironia... vou procurar então melhor outra definição pra essa expressão, rsrs...