quinta-feira, 1 de julho de 2010

Que dia é hoje mesmo?

Enquanto eu ficava sem internet, nos primeiros dias da minha internação, eu pensava num monte de coisas pra escrever... tanto do ponto de vista da experiência pessoal, quanto do ponto de vista de uma profissional que estava do outro lado do espelho, já tendo acompanhado tantos casos como tudo que estava acontecendo comigo, lembrando dos inúmeros relatos dos meus pacientes, das horas que dediquei numa escuta delicada, pra entender todas as nuances que uma vivência como essa propicia e deflagra...
Bom, pra começar, ficar semanas sem respirar direito, fazer uma bateria de exames e nenhum indicar nada significativo.  Se por um lado mostrava um lado do meu organismo que estava bem saudável, se pode-se falar dessa maneira, eu SABIA que tinha alguma errada que num tava certa, rsrs....
É muito cansativo, por estar acima do peso padrão, tudo ser debitado na conta da obesidade, e eu tendo a certeza que não tinha nada a ver com quantos quilos eu pudesse estar, com todo treinamento em tentar entender o que pode estar errado com um paciente que chega num consultório, nenhum bom diagonsticador consegue escapar desse  paradigma, em qualquer lugar que a gente olhe, leia, escute, assista, a mensagem é uma só: padrão de beleza magro, igual a saúde, qualquer quilo a mais, crime de lesa sociedade...  Como se os magros nunca ficassem doentes, pense bem...
Aí finalmente faço o exame que tudo define... o hormônio que eu estava tomando pra suspender minhas menstruações, induzindo uma menopausa precoce, pois eu vinha tendo verdadeiras hemorragias caudalosas por causa dos miomas que eu tenho,  causou a trombose no meu sistema venoso profundo da perna esquerda, levando os coágulos aos pulmões, no momento das trocas entre o CO2 e O2, as pequenas embolias que tanto dificultavam meu respirar, e até então sem explicação.  Só que é um caso de internação urgentíssima... e lá vou eu, acalmando ainda a família, que ficou toda assustada com o pancadão, quanto mais leigo, sempre a fantasia piora o quadro, me levei e a eles pra emergência do hospital.
Chegando aqui, quarta feira passada, tudo superlotado, ainda tive que esperar uns bons 45min pra ser admitida, pq não tinha um leito sequer disponível. O que me acalmava era que meu médico já tinha me dado uma dose de SOS do anticoagulante no próprio consultório, ao sair com o encaminhamento, eu já estava menos preocupada com o risco de uma parada respiratória, e se não tinha tido nas últimas 3 semanas, enquanto não tinha sido diagnosticada, seria muito azar ter um treco ali, justo na sala de espera da emergência... e melhor lugar não teria pra ter o piripaque, né? alguém, com certeza, teria que vir correndo, de um jeito ou de outro me olhar, rsrs...
Bem, depois dessa pequena espera, uma enfermeira faz minha internação... me leva pra um box, me pede (na realidade manda, rs) que eu tire toda minha roupa e coloque uma camisola do hospital, feita de material descartável, afff, pequena pra mim, me deita no leito e tome a me enfiar - metaforicamente falando, por favor, rs -  fios por tudo qt é lugar, e os bips começam e vc não sabe o que eles querem dizer, e pra que serve tudo aquilo... aquele breguete que vai aferir a pressão no seu braço fica ali, direto, na máquina também, é automático, e de vez em qd infla sozinho, seu braço fica duro, vc não consegue mexer, o outro está com acesso pro soro e a medicação, então, ou vc relaxa ou vc relaxa, não tem outra opção.  Eu percebi que a parti dali, não tinha a menor noção qd voltaria a ter permissão a pisar com os pés no chão... ela embalou tudo, minhas roupas num saco, sapato num outro, e entregou pra minha família.  Tudo que era meu, eu não tinha mais nada, só deixaram ficar de óculos pq sem eles não enxergo um palmo do meu nariz.
Voltando aos procedimentos, detalhe, sem travesseiro, o pescoço fica duro, então tá, tenta respirar de qualquer maneira, pra não deixar a situação pior do que já é.... o ambiente é altamente climatizado, também por causa dos aparelhos, então faz frio, e não tem lençol, o cobertor azul, que não é dos piores, também não é dos melhores, rsrs.... mas também isso vc não pode deixar te incomodar, pq daqui a pouco, o soro vai dar vontade de vc fazer pipi, e de qq jeito vc vai descobrir que tem que chamar a enfermagem e é outra descoberta que vc faz, que tem que deixar pudores e toda educação que vc recebeu e exerceu a sua vida toda, e outra pessoa vai se encarregar das suas necessidades fisiológicas pra vc... gentem, a vida é muito irônica, vamos combinar isso, tá???
O que me trouxe pra cá foi uma medicação pra suspender a menstruação... lógico que a primeira coisa que se faz é suspender essa medicação... então... o que estava suspenso, tarããããã.... retorna... com toda força de uma represa que foi rompida... e vc está presa no leito, sem poder se higienizar apropriadamente, com os braços relativamente com os movimentos limitados, sem respirar pq cansa... só me resta manter o bom humor...
E vários médicos vem e falam com vc, se acontecer com vc de entrar no horário de mudança de turno, o que tá saindo faz a sua entrada, passa o seu caso pro que tá entrando, aí, a parte da equipe que vai cuidar do seu leito, se apresenta a vc, mas os pacientes devem ser pra eles assim como eles são pra nós, um bando de rostos, que não registram muito... mas que a gente fica ligadão pra ver se falam um pedacinho de informação do seu quadro... ou se o resultado de algum exame já desceu... e as horas vão sendo divididas por essas vivências... e não mais pelos minutos que se acostuma a seguir...
O lanche ou qq outra refeição é servido no próprio leito, vc com os braços ocupados se vira como pode, são pequenas autonomias que fazem bem, aquela pequena porção de manteiga sem sal que vc JAMAIS compraria pra comer em casa, vira coisa de gourmet, rsrs.... eu faço de conta que estou num SPA, misturo com a geléia pra ficar palatável, sério, de verdade, não reclamo não...
Sei que tive muita sorte, ou fui muito, mas muito protegida e abençoada, pra não ter tido uma intercorrência séria enqt o diagnóstico não saiu.  Pq poderia ter sido muito grave se o coágulo subisse de vez pro pulmão...
Depois eu quero escrever como foi estar no CTI, não agora, no próximo... 
Eu escrevo como eu penso.. e eu penso muito, rsrs....
Já estou há mais de uma semana aqui, e só agora com acesso ao meu blog, então, ainda tem muita coisa que gostaria de colocar pra fora...
É nessa hora que eu digo pra mim mesma, inté a próxima... hj já tá de bom tamanho.