do colunista da BandNewsFM Luiz Alberto Marinho
em 20/07/2010
Pesquisa indica surgimento do 'Luxo Popular Brasileiro'
14:15 Há cerca de 30 anos, o genial Joaozinho Trinta defendeu-se das acusaçoes de exagerar nos espetaculares desfiles da sua Beija-Flor de Nilópolis, com uma frase memorável - "povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual". A ideia refletia uma verdade da época, quando tudo levava a crer que o tal luxo cobiçado pelos pobres, era uma fiel reproduçao da vida dos mais ricos.
Mas os tempos mudaram. E hoje, o significado do luxo para a nossa emergente Nova Classe Média, nao é necessariamente igual ao luxo da elite. Pesquisa recém concluída pela consultoria 'A Ponte', do publicitário André Torreta, sugere que começa a surgir o conceito de "Luxo Popular Brasileiro". Quer um exemplo? Para as classes mais altas, luxo é uma maneira de ser ou sentir-se diferente dos outros. Para a classe C paulistana, ao contrário, é uma forma de inclusao, de ter o que os outros já têm. Outra diferença é que para os jovens da Nova Classe Média, luxo está essencialmente ligado a marcas e produtos e nao a experiências, como viagens, orgias gastronômicas ou aventuras esportivas.
A pesquisa da Ponte mostrou que para a classe C existem 3 tipos de luxo - o inatingível, o luxo da auto-estima e o do pertencimento. O luxo inatingível, representado pelos carros caríssimos, bolsas e sapatos de "muitos mil reais", como dizem os entrevistados, esse nao só nao faz parte da vida dessa garotada emergente como também nao habita seus sonhos de consumo. O mesmo nao acontece com o luxo da auto-estima, que passa pela compra de produtos ligados a moda ou beleza e faz com que essas pessoas se sintam bem com elas mesmas. Isso inclui desde tênis até unhas coloridas, apliques para o cabelo e acessórios. Nesse caso, para se sentir bem, vale até mesmo recorrer a "réplicas", que é um nome chique para falar de produtos piratas. Finalmente, o luxo do pertencimento é traduzido por marcas e produtos que ajudam a Nova Classe Média Brasileira a ser mais bem aceita nos lugares que ela frequenta, seja o trabalho ou a própria comunidade onde mora. Ou seja, para fazer parte da turma e sair bonito na foto, as regras sao cuidar da aparência e usar, afinal, aquilo que todo mundo usa.
A pesquisa mostrou ainda que as marcas de luxo dos consumidores da classe C nao sao as mesmas da classe A. Para a Nova Classe Média, luxo mesmo é usar Nike, Adidas ou Oakley, viajar para lugares como a Disney, Fernando de Noronha ou Florianópolis, e possuir em casa equipamentos como PlayStation, TV de tela plana da LG ou um iPhone. Um dos grandes méritos desse trabalho da Ponte é questionar, mesmo que indiretamente, a noçao de que os mais pobres aspiram ser como os mais ricos. O argumento "aspiracional", aliás, tem sido usado largamente nos últimos anos para justificar muitas campanhas equivocadas. Agora começa a ficar claro que a Nova Classe Média, que é a maioria da populaçao brasileira, diga-se de passagem, tem suas próprias aspiraçoes e referências.
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