procurei muito esse texto na internetis... não é um dos mais famosos, nem dos mais populares, li numa dessas crônicas de domingos, mas não havia guardado, nas correrias de um dia de lazer... contudo havia gostado muito dele, traduzia e muito as percepções de quem já passou das ilusões da juventude e já está pronto pra viver a maturidade em sua plenitude, mesmo que, paradoxalmente, a viva com todas as incertezas que fazem parte da magnífica aventura que é descobrir(-se) num outro...
Quase ninguém mais se enraíza. Pessoas trabalham em outros países, fazem cursos em outros estados, o que faz com que muita gente se apaixone por “estrangeiros”, aumentando o número de casais que se relacionam a distância. Será que funciona?
Se eu tivesse 20 anos, acharia problemático estar apaixonada por alguém que eu visse pouco. Nos meus 20, não havia Skype nem qualquer outra ferramenta de aproximação imediata: era carta, telefone ou nada. Mesmo hoje, com as facilidades tecnológicas, é complicado não ter a presença física de quem se ama justo na fase em que nosso romantismo ainda não está blindado contra as ilusões. No início da vida, tudo o que se quer é compartilhar as vivências e dar juntos os primeiros passos rumo à formação de uma família. Não que seja impossível concretizar esse sonho se encontrando uma vez a cada três semanas ou a cada dois meses, mas a falta de ensaio pode comprometer o espetáculo.
Já para quem tem milhagem em histórias de amor, quem já viveu ao menos uma relação duradoura, já provou das agruras e dos prazeres de um relacionamento sob o mesmo teto, já teve filhos, os criou e tem novamente em mãos sua liberdade, uma relação a distância – qualquer distância – pode ser uma experiência reveladora.
Toda distância é relativa. Morar em casas separadas já é distância – e das mais saudáveis. Se cada um tem seu próprio apartamento, seu próprio trabalho, seus próprios filhos, suas próprias manias e ainda a sorte de se sustentar sem precisar somar seu salário com o do parceiro, que bênção. A independência dará um charme extra à relação, a saudade será o melhor afrodisíaco, e quando quiserem dormir juntos e acordar juntos, ninguém impede. Será uma escolha, não uma obrigação.
Distância geográfica é mais radical. Ela é medida pelo tempo com que ficam sem se ver. Um mês? Três meses? Seis meses? Quanto mais longo o afastamento, mais a independência (aquela que parecia charmosa) pode provocar neuras. Há que se firmar um contrato verbal onde as regras estejam bem claras e haja confiança absoluta, pois o ciúme envenena e o antídoto está longe.
Mas se a distância não é tanta e permite que o casal se encontre a cada duas ou três semanas, aí é como se fossem a “casa de praia” um do outro.
O namoro “casa de praia” é para os que não planejam o futuro, não têm necessidade de criar vínculos eternos e não possuem inseguranças crônicas. O namoro “casa de praia” é para os que têm muitos amigos, um trabalho que absorve bastante e não se incomodam de sair desacompanhados. Um amor “casa de praia” pode parecer muito investimento para pouco proveito, mas quando se chega a uma determinada etapa da vida, é um luxo ter um retiro amoroso que nos rapte da rotina por poucos dias, para depois voltarmos a ela, livres e renovados.
Se não é a relação ideal, é quase.
MARTHA MEDEIROS
18/02/2012
marthamedeiros@terra.com.br
N° 12497
Jornal de Santa Catarina