quarta-feira, 25 de julho de 2012

"é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”

PSICOFOBIA, quem já ouviu falar disso?
ou câncer, ou apêndice supurado, ou uma perna imobilizada?
então, esse artigo é pra entender as diferenças entre essas coisas...


Por Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Publicado no jornal “O Globo” de 24/06/2012, e disponível no site da ABP.
http://abp.org.br/mail/opiniao_o_globo.jpg


No desembarque do aeroporto JFK, em Nova York, no começo deste ano, o outdoor que recebia milhares de pessoas diariamente não trazia nenhuma bela foto da cidade ou mensagem de boas vindas. O que os viajantes encontravam era uma enorme propaganda com a mensagem:


“Relaxe, vai passar, isso é temporário… Se você não diz isso sobre o câncer, também não diga sobra a depressão”.

A ironia desconcertante da publicidade reflete muito da imagem que alguns transtornos mentais ainda recebem por parte da sociedade: para alguns, um destempero; para outros, uma fraqueza. Mas a depressão é um transtorno mental dos mais graves e incapacitantes.  Dentre as dez principais causas de afastamento do trabalho em todo o mundo, cinco são decorrências de transtornos mentais. A depressão aparece em primeiro lugar.

Para 46 milhões de brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde, a depressão é uma realidade: 20% a 25% da população já tiveram ou têm depressão ao longo da vida.  A incapacitação profissional, a falta de interesse e de motivação para participar de atividades sociais rotineiras e de ter prazer nas coisas que gostam e com as pessoas que amam transformam dramaticamente o cotidiano dessas pessoas, o de seus familiares e amigos, trazendo consequências devastadoras. Essa falta de capacidade de se relacionar tem efeitos profundos e duradouros, que dificultam a reinserção social dos que tentam se recuperar de um episódio de depressão.

Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que a depressão e os demais transtornos mentais atingem a muitos brasileiros, o preconceito em torno deles é crescente na sociedade. Já é hora de combater essa discriminação, como atualmente já se faz com os homossexuais, os negros e as mulheres. A expressão psicofobia expressa justamente o nefasto preconceito contra os doentes mentais e os portadores de deficiência.

Se não se deve debochar ou subestimar de doenças como o câncer, conforme apontou o outdoor no aeroporto americano, também não há razão para as doenças mentais não serem encaradas com a seriedade que elas pedem e seus portadores exigem.  Inclusive pelos próprios profissionais de saúde.

Há várias formas de preconceito, entre elas a própria negação da doença como algo menor ou passageiro.  Como disse Albert Einstein, lamentando a triste época em que vivia, “é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.  
Em pleno 2012, ideias preconceituosas devem ser combatidas com veemência. É chegada a hora de a sociedade olhas com maturidade e respeito para os portadores de transtornos mentais. 
Psicofobia é crime.

Por Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Publicado no jornal “O Globo” de 24/06/2012, e disponível no site da ABP.