sexta-feira, 20 de abril de 2012

POEMA

A maioria das doenças que as pessoas tem, são poemas presos: absessos, tumores, nódulos, pedras.
São palavras calcificadas.
São poemas sem vazão.

Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado, prisão de ventre, poderiam um dia, ter sido poema. Mas, não. Pessoas adoecem da razão de gostar de palavra presa.

Palavra boa é palavra líquida, escorrendo em estado de lágrima. Lágrima é dor derretida, dor endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida, raiva endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida, alegria endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida, pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor, tempo derretido é poema.

E você pode arrancar os poemas endurecidos do seu corpo, com buchas vegetais, óleos medicinais, com a ponta dos dedos, com as unhas, você pode arrancar poemas com alicate de cutículas, com o pente, com agulha, com pomada basilicão, com massagens e hidratação, mas não use bisturi - quase nunca.

Em caso de poemas difíceis, use a dança. A dança é uma forma de amolecer os poemas endurecidos do corpo. Uma forma de soltá-los das dobras, dos dedos dos pés, das unhas. São os poema-coccix, os poema-peito, os poema-olho, os poema-sexo, os poema-cílio.

Atualmente eu ando gostando de pensamento-chão. Pensamento-chão é poema que nasce do pé, poema de pé-no-chão. Poema de pé-no-chão é poema de gente normal, gente simples, gente de espírito santo. Eu venho do espírito santo. Eu sou do espírito santo. Eu trago a vitória do espírito santo. Santo, é o espírito capaz de operar milagres sobre si mesmo.

Viviane Mosé

Ouvir, é lágrima derretendo... Este poema em vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=4CrEFX4Bjns

Viviane Mosé é capixaba e vive no Rio desde 1992. É psicóloga e psicanalista, especialista em “Elaboração e implementação de políticas públicas” pela Universidade Federal do Espírito Santo. Mestra e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora do livro Stela do Patrocínio - Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, publicado pela Azougue Editorial e indicado ao prêmio Jabuti de 2002, na categoria psicologia e educação. Organizou, junto com Chaim Katz e Daniel Kupermam, o livro Beleza, feiúra e psicanálise (Contracapa, 2004). Participou da coletânea de artigos filosóficos, Assim Falou Nietzsche (Sette Letras, UFOP, 1999). Publicou em 2005, sua tese de doutorado, Nietzsche e a grande política da linguagem, pela editora Civilização Brasileira. Escreveu e apresentou, em 2005 e 2006, o quadro Ser ou não ser, no Fantástico, onde trazia temas de filosofia para uma linguagem cotidiana.

Como poeta, publicou seu primeiro livro individual em Vitória, ES, Escritos, (Ímã e UFES, 1990). Publicou, no Rio, Toda Palavra, (1997), e Pensamento Chão ( 2001), ambos reeditados pela Record em 2006 e 2007. E Desato (Record, 2006). Participou em 1999 do livro Imagem Escrita (Graal, 1999), coletânea de artistas plásticos e poetas, em parceria com o artista plástico Daniel Senise. Seus poemas foram tema da Coleção Palavra, de estilistas de Oestudio Costura, que desfilou no Fashion Rio de 2003. É autora dos textos poéticos da personagem Camila no filme Nome Próprio de Murilo Salles, (2008). Tem alguns de seus poemas musicados, é parceira da cantora Mart’nália em duas músicas, “Contradição” e “Você não me balança mais”, que foram gravadas por ela e por Emílio Santiago, em seu último disco.

Entre outros.  Uma mulher excepcional e fabulosa. Admiro muito.
minha homenagem, ao copiar essa postagem de uma página do Face
(Psicologia DIA A DIA) e postar aqui no blog

https://www.facebook.com/psicologiadiaadia