Tenho consciência das benesses que recebo da vida, mas também sempre trabalhei muito por tudo que me cerca, desde os 10/11 anos aprendendo as responsabilidades de uma casa, meu pai trabalhava, minha mãe passou por muitos anos com um sério problema de saúde, por fases que fui aprendendo a cuidar de mim, da casa, do meu irmão menor, até dela... sei que a vida não é nada justa, porque muitas outras pessoas ralam pacas e não chegam aonde eu cheguei, dos confortos que hoje posso usufruir, e que nunca sonhei que seria possível, sei também que pessoas que nada fizeram tem muito mais do que isso que considero até luxuoso e/ou supérfluo.
No nosso país colonizado, alguns códigos sociais, diria até burgueses, estão muito distante dos ideias da verdadeira igualdade social que eu acredito. O serviço doméstico ainda é um atributo eminentemente feminino, e vejo amigas e outras pessoas das minhas relações tendo ajudantes do serviços domésticos sempre empregando o trabalho feminino, gerando essa submissão e sobrecarga da má-remuneração em cascata...
Nas praças de alimentação dos shoppings os consumidores não se acostumam a retirar suas bandejas, um reflexo provável do que vivem em sua vida privada, sempre vai ter alguém pra recolher seus restos, a toalha molhada no banheiro, a cama desfeita... alguém que se responsabilize por suas tarefas de auto-gestão. Se queremos ser realmente um país de igualitários, até nesses micro aspectos da vida privada, teremos que mudar essa mentalidade...
E acima de tudo, aquilo que torna qualquer relação especial, é o que mais falta sinto, um carinho, um alento ao coração... sou guerreira, aprendi a não depender de nada nem de ninguém... por isso eu as vezes penso ou ouso sonhar.. será que a vida não tinha que dar um pouquinho, mas só um pouquinho, do fácil, do que não envolvesse tanto esforço e desgaste? algo que viesse assim... simplesmente... pra mim, e que eu pudesse descansar por alguns momentos, sabendo que seria cuidada, pra variar? isso, para mim, é um sonho bom, ou quem sabe?, um delírio...