sábado, 2 de junho de 2012

Uma Sutil Diferença



como nada é por acaso, não foi à toa que esse texto vei parar nas minhas mãos pra eu compartilhar com vc


Ainda que tudo pareça do mesmo jeito, sem muitas mudanças, o ano de 2003 já vai entrar no seu segundo trimestre. Com o novo ano chegaram as novas expectativas, e eu sei que o seu coração ainda tem muitas delas. É impossível ser jovem sem estar inflacionado de expectativas. À medida que o tempo passar, elas tenderão a diminuir, mas, enquanto se tem pouca idade, elas são mais intensas. E isso é fácil de entender. Expectativas ocupam os mesmos lugares no coração que as esperanças. E embora pareçam ser as mesmas coisas, acredito que possamos diferenciá-las de uma maneira muito simples.
Expectativas geram desgastes e geralmente trazem desilusões. As esperanças, não. Esperar é próprio de quem já se sente construindo a realidade que se espera. Esperança é isso. É fazer aos poucos aquilo que ainda não pode ser feito de uma única vez e, por isso, carece de pequenas iniciativas. Juntas, elas compõem a realidade esperada. Expectar é ficar na ansiedade sem nada fazer. Esperar é fazer, enquanto se espera.
Você já deve saber o que significa alimentar expectativas a respeito das coisas e das pessoas. É muito próprio do nosso tempo viver em torno dessas expectativas que nunca se concretizam. Por isso, tantas decepções. É que a expectativa cega os olhos para o real, ao passo que a esperança nos aponta para ele.


A esperança que amadurece

Na esperança existe espaço para se alimentar perspectivas de futuro. Projeta-se a vida, respeitando o seu mistério, e luta-se para chegar onde se propõe. A esperança amadurece o coração humano, porque é impossível lutar sem sofrimento. Não se trata de adotar uma postura masoquista, de querer sofrer para crescer. Não! Muito pelo contrário, não é preciso buscar o sofrimento, ele já está em todo lugar em que honestamente o humano estiver presente. Só é preciso identificá-lo no momento certo, e então colhê-lo com serenidade.
Recordo-me de uma pequena frase que escutei certo dia: “O mundo não pode parar aquele que sabe onde quer ir”. E é verdade. Quem sabe onde quer ir saberá sofrer as restrições que a sua opção lhe trará. E nisto está a maturidade. Por mais que o mundo seja plural, marcado por inúmeras possibilidades, é sempre necessário escolher algumas poucas e lutar por elas. E todo processo de escolha exige renúncia e acolhimento. Deixa-se algumas possibilidades para assumir outras.
Talvez seja por isso que a maturidade custe a chegar no coração de muitos jovens como você. Eles querem tudo e, por isso, não têm nada. Vivem mergulhados nas expectativas que passam, sem que nada permaneça de concreto. Esqueceram de se dedicar às pequenas coisas que geram as maiores. É que toda grande realização só pode ser feita a partir de pequenas iniciativas. É como suportar o sofrimento de uma aula de matemática ou de outra matéria que não lhe agrada tanto. Ela passa, mas antes é preciso vivê-la e dela retirar os frutos. Se bem vivida agora, ela será útil no dia do vestibular. E então chegamos a conclusão: valeu o sofrimento daquela hora.

O futuro é agora

A vida, antes de ser grande é pequena. Gerar grandes acontecimentos e realizações requer paciência com as pequenas coisas. É assim que vamos fazendo a mistura perfeita entre presente e futuro. Perspectivas futuras e realidades presentes não são coisas que se anulam, mas se complementam.
É no exercício de viver bem o presente que vamos nos preparando para acolher um futuro de qualidade. Nossa esperança é operante. Ela não nos deixa cruzar os braços, mas impulsiona-nos para a construção deste futuro que já é agora.
 
Por isso, que daqui para frente, seu coração tenha menos expectativas e muito mais esperanças. 
 
 
Padre Fábio de Melo